Quase metade das empresas têxteis corta no emprego. 55% estima quebra nas vendas

Só uma em cada cinco empresas do têxtil e vestuário conta subir faturação no último trimestre deste ano, em que as exportações do setor devem recuar 5%. Quase metade prevê reduzir postos de trabalho.

Mais de metade (55%) das empresas do setor têxtil e do vestuário antecipam que o volume de negócios vai continuar a diminuir até ao final deste ano, com 25% a prever uma “estabilização” no último trimestre de 2023. Só uma em cada cinco espera uma progressão nas vendas na reta final do ano.

Estes dados resultam de um inquérito que foi realizado pela Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), em parceria com a organização que representa o setor a nível europeu (Euratex), realizado no mês de setembro e em que participaram perto de uma centena de empresas deste setor.

De acordo com os resultados apresentados esta terça-feira pela ATP, durante o fórum anual da indústria têxtil e do vestuário (ITV), que se realiza em Barcelos, do ponto de vista do emprego, 45% das inquiridas preveem uma diminuição dos postos de trabalho nos últimos três meses deste ano. Só 12% conta empregar mais gente e 42% vai manter o efetivo.

Depois de nove anos consecutivos a crescer até 2018, as exportações da ITV encolheram 1% em 2019 e voltaram a recuar 11% em 2020, no primeiro ano da pandemia. Seguiram-se progressões robustas nos últimos dois anos, que valeram um novo máximo histórico ao setor em 2022, embora já “com sabor amargo” por ter assentado sobretudo no aumento dos custos de produção.

E se a contração no último trimestre do ano passado já enviava sinais de alarme para as fábricas portuguesas, a dois meses do final deste ano, Mário Jorge Machado, presidente da ATP, confirma a perspetiva adiantada ao ECO logo em agosto de que, com o consumo a cair e com os retalhistas com “armazéns cheios”, haverá mesmo um recuo nas vendas ao exterior, na ordem dos 5% em termos homólogos.

Cenário dourado “ainda é possível”

Ainda assim, Ana Paula Dinis, diretora executiva da ATP acredita que será possível atingir aquele que foi o “cenário ouro” traçado no estudo “Visão Prospetiva e Estratégias ITV 2030”, divulgado no final de junho de 2021.

Isto é, como apontava esse documento como cenário mais favorável, chegar ao final desta década com cerca de 5.000 empresas ativas, pelo menos 120 mil trabalhadores e um volume de negócios anual a rondar os 10 mil milhões de euros, dos quais oito mil milhões de euros destinados às exportações.

“Apesar de todos os desafios que temos enfrentado, continuamos com mais de 5.000 sociedades e neste momento estimamos ter à volta de 128 mil trabalhadores. Há algum trabalho a fazer no volume de negócios [atualmente à volta de 8,6 mil milhões de euros, indicam as estimativas da ATP] e nas exportações, que ultrapassaram os 6 mil milhões em 2022. O momento é difícil e todos os dias somos confrontados com ele no contacto com as empresas, mas temos feito um bom trajeto e acreditamos que o cenário de ouro ainda é possível”, frisa a diretora executiva da associação sediada em Vila Nova de Famalicão.

Mário Jorge Machado, presidente da ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal

A enfrentar os “graves problemas” de uma conjuntura “profundamente negativa”, marcada pelo “contexto geopolítico delicado e perigoso” e pelos efeitos de uma crise económica que “condiciona o poder de compra dos principais mercados de exportação”, a indústria do têxtil e vestuário admite que “este será certamente um ano para esquecer, pela dimensão da queda nas vendas ao exterior, tanto em valor como em quantidade”, mesmo com um desempenho acima da média europeia.

No tradicional discurso do Estado do Setor, com que encerrou o fórum anual desta indústria, realizado esta tarde em Barcelos, Mário Jorge Machado, presidente da ATP, queixou-se que “as empresas estão esquecidas” e atacou a falta de “ambição” na proposta de Orçamento do Estado para 2024. O líder deste setor lamentou ainda que o Ministério da Economia seja “uma voz pouco atendida dentro do Executivo”, disponibilizando-se para dar “respaldo” a António Costa Silva “para que exista mais economia no Governo”.

Autarcas minhotos desafiam Governo a apoiar têxtil

Na abertura do fórum, o presidente da Câmara de Barcelos anunciou que os autarcas dos municípios que compõem o Quadrilátero Urbano – junta ainda Braga, Guimarães e Famalicão – vão reunir especificamente para analisar a crise no têxtil e promover um estudo, encomendado a Fernando Alexandre, professor da Universidade do Minho, sobre o impacto do setor nesta região, “bem como algumas medidas concretas que possibilitem atenuar ou mitigar a crise inflacionista que afeta este setor tão importante para a nossa economia”.

Sendo esta uma indústria “estruturante” para o país e “alavanca” da economia nacional, Mário Constantino desafiou o Governo a “reduzir, de forma muito significativa, os impostos que pesam sobre as empresas”. “Tenho ouvido das associações da indústria, como as suas congéneres comerciais, que a elevada carga fiscal sufoca as empresas. Ora, se aliado a isso, vivemos um movimento inflacionista com fortes repercussões nos preços da eletricidade e combustíveis, há constrangimentos muito pesados para todo o setor do têxtil e do vestuário”, completou o autarca, eleito nas últimas eleições numa coligação entre o PSD e um grupo de independentes.

Mário Constantino, presidente da Câmara Municipal de Barcelos

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