BlackRock antecipa grande volatilidade das bolsas em 2024 que beneficiará gestão ativa

Entre as principais apostas da BlackRock para o próximo ano estão as ações japonesas e o mercado indiano, em contraposição ao mercado acionista dos EUA e europeu.

A BlackRock acredita que a economia mundial mudou e que essa mudança não é um efeito cíclico, mas estrutural. “Estamos numa trajetória de crescimento mais fraco e chegámos aqui com mais inflação, taxas de juro mais altas e níveis de dívida muito mais elevados”, refere a sociedade gestora no seu outlook para 2024, que antecipa que este cenário não mude significativamente nos próximos anos.

Este quadro gerará, segundo a BlackRock, uma maior volatilidade dos mercados no próximo ano, que será fortemente adensada pela onda recorde de eleições que terão lugar em 2024. “80% da capitalização bolsista global, 52% do PIB mundial e 35% da população mundial vai a eleições em 2024”, destacou esta terça-feira André Themudo, responsável de negócio em Portugal da BlackRock, na apresentação do documento.

Além das eleições legislativas nacionais a 10 de março, o ano começa com eleições em Taiwan (janeiro) e estende-se depois pela Indonésia (fevereiro), Rússia (março), Índia (maio), México e Parlamento Europeu (junho), EUA (novembro) e ainda o Reino Unido, que terá o Parlamento dissolvido até 17 de dezembro, tendo que as eleições decorrer até 25 de janeiro de 2025.

Os lucros no setor tecnológico deverão continuar no próximo ano e serão o principal movimento de crescimento das bolsas dos EUA em 2024.

André Themudo.

Responsável de negócio em Portugal da BlackRock

A BlackRock considera que a chave para os investidores enfrentarem 2024 está numa abordagem mais ativa na gestão dos seus portefólios, porque as “posições estáticas [como as estratégias buy & hold ou a carteira 60/40] não funcionam tão bem como no passado”, considera André Themudo, sublinhando que “a rotação da carteira será cada vez mais importante”.

“Chegou o momento para investir com competência, versatilidade. Investir com mais alvo”, destaca o responsável da sociedade gestora norte-americana, sublinhando que os investidores devem “segurar as rédeas do seu dinheiro”, e não apostar numa gestão mais passiva — esta última mais associada aos fundos cotados (exchange-traded funds ou ETF).

Com mais de nove biliões de euros de ativos sob gestão, que a tornam na maior sociedade gestora do mundo, a BlackRock reforça no seu outlook que as perspetivas macroeconómicas revelam mais incertezas para o próximo ano. “As exposições ao risco macro podem ser punidas ou recompensadas, pelo que somos da opinião de que os investidores devem ser deliberados quanto às exposições que assumem.”

Entre os ativos que merecem uma subponderação na carteira dos investidores para o próximo ano, a BlackRock destaca as ações europeias, por os seus analistas anteverem que a política monetária do Banco Central Europeu se mantenha apertada por mais tempo num contexto de abrandamento. “As avaliações são atrativas, mas a não vemos um catalisador para melhorar o sentimento”, lê-se no outlook.

Entre as principais apostas da BlackRock estão os mercados acionistas do Japão e da Índia, por estarem “entre os beneficiários da fragmentação mundial” que se está a assistir, refere Belinda Boa, CIO de mercados emergentes da BlackRock, no outlook. “Observamos uma maior dispersão dos retornos nos mercados globais, criando oportunidades para os investidores que olham para além dos seus mercados de origem”, destaca a gestora.

A seleção granulada geograficamente será assim um elemento importante em 2024 para a Blackrock, que destaca ainda os mercados do México, Brasil, Taiwan e Vietname, por estarem entre os países que mais beneficiarão da fragmentação geográfica dos blocos económicos e também com uma forte capacidade para beneficiarem de um conjunto de cinco tendências que os analistas da Blackrock vislumbram como sendo os principais motores do “novo regime” de crescimento da economia mundial e da mudança:

  1. Disrupção digital e da inteligência artificial em segmentos da economia para lá dos semicondutores e da robótica
  2. Um futuro mundo novo das finanças com o crescimento do crédito privado por conta de “pressões de capital exercidas sobre os bancos”
  3. Divergência demográfica causada pelo envelhecimento da população nas principais economias
  4. Transição para a economia de baixo carbono, à medida que os dados climáticos aumentam
  5. Fragmentação geopolítica e a concorrência económica conduzem a um aumento do investimento em setores estratégicos como a tecnologia, a energia e a defesa

Esta visão faz com que a BlackRock se mostre “underweight” em ações nos EUA, mas apresente uma sobreponderação em ações de empresas norte-americanas e de outros países desenvolvidos que beneficiam da inteligência artificial, porque “prevemos o desenvolvimento de um ciclo de investimento multipaíses e multisetorial centrado na inteligência artificial, que provavelmente apoiará as receitas e as margens”.

“Os lucros no setor tecnológico deverão continuar no próximo ano e serão o principal movimento de crescimento das bolsas dos EUA em 2024”, revela André Themudo.

A BlackRock mostra-se também positiva em relação a títulos do Tesouro dos EUA de curto prazo, “uma vez que as taxas de juro se mantêm mais elevadas durante mais tempo”, e também a ações japonesas, por os seus analistas anteverem um crescimento mais forte da economia que ajudará as empresas a apresentarem lucros acima das expectativas do mercado.

Entre os ativos que merecem uma subponderação na carteia dos investidores para o próximo ano, a BlackRock destaca as ações europeias, por os seus analistas anteverem que a política monetária do Banco Central Europeu se mantenha apertada por mais tempo num contexto de abrandamento. “As avaliações são atrativas, mas a não vemos um catalisador para melhorar o sentimento”, lê-se no outlook.

Com uma visão igualmente negativa para 2024, os analistas destacam as obrigações indexadas à inflação na Zona Euro, por os mercados estarem “a sobrestimar a persistência da inflação na Zona Euro em relação aos EUA”; e também para as obrigações do Tesouro do Japão por “considerarmos que o Banco do Japão está a aumentar os riscos para as taxas de rendibilidade devido à redução da sua política ultraflexível”.

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