Peso da despesa com habitação nos orçamentos familiares duplicou em 20 anos

Entre 2000 e 2022/2023, a importância dos encargos com rendas ou prestações bancárias passou de 19,8% para 39,1%. Em termos nominais, representam 9.452 euros num orçamento anual de 24.190 euros.

No espaço de 20 anos o peso dos encargos com habitação nos orçamentos familiares dos portugueses “praticamente duplicou”, passando de 19,8% para 39,1%, de acordo com os resultados provisórios do inquérito às despesas das famílias do Instituto Nacional de Estatística (INE), divulgado esta quarta-feira. Este fenómeno é explicado sobretudo por um crescimento dos custos com habitação superiores à inflação e pela subida das rendas, explica o instituto.

Em termos nominais, significa que, num orçamento médio anual de 24.190 euros, as despesas com rendas ou prestações bancárias totalizam 9.452 euros.

“O resultado mais evidente é o ganho de importância na estrutura da despesa média das famílias portuguesas dos encargos com a habitação que, entre 2000 e 2022/2023, praticamente duplicou”, constata o gabinete de estatísticas.

Em relação ao biénio 2015/2016, a despesa média das famílias com habitação, água, eletricidade, gás e outros combustíveis cresceu quase três mil euros, o que corresponde a um aumento nominal de 45,4%. Assim, há sete anos, os encargos anuais com esta rubrica totalizavam 6.501 euros, representando 31,9% dos custos totais. Neste momento, a fatura já vai em 9.452 euros, pesando 39,1% nos orçamentos dos agregados familiares.

O INE alerta que “este crescimento foi superior ao que teria ocorrido se a despesa média das famílias com a habitação tivesse aumentado à taxa de crescimento do índice de preços no consumidor, de 16,2% entre dezembro de 2015 e dezembro de 2022″. Ou seja, os encargos com habitação superaram em muito a inflação, ao crescerem 45,4%, à boleia da especulação imobiliária e do aumento das rendas.

As rendas subjetivas, isto é, aquelas que as famílias estimam pagar, dão o maior contributo para o agravamento dos custos com habitação, pesando agora 27,4%, quando em 2015/2016 a sua importância era de 20,1%. “Note-se que está em causa uma estimativa calculada pelo próprio agregado residente sobre o valor hipotético de uma renda do seu alojamento a preços de mercado”, explica o INE.

Já “as rendas efetivas passaram de um valor médio de 520 euros, em 2015/2016, para 786 euros, em 2022/2023, reforçando o respetivo contributo para a despesa média em habitação em 0,7 pontos percentuais (p.p.)”. Isto significa que, no espaço de sete anos, as rendas médias mensais cresceram 266 euros ou 51,2%.

“A eletricidade, gás e outros combustíveis mantém-se como o segundo grupo de despesa com maior contributo, mas com perda de importância absoluta e relativa face a 2015/2016: menos cerca de 100 euros em média e um contributo menor, em 1,4 p.p., para a despesa total em habitação”, de acordo com o INE.

Se os encargos com habitação têm crescido significativamente, em sentido inverso, os custos com “alimentação, vestuário e calçado perderam relevância na estrutura da despesa familiar, o que se estendeu, embora com menor expressão, à despesa com transportes e com acessórios, equipamento e manutenção associados à habitação”, conclui o INE.

Numa despesa média anual apurada de 24.190 euros por família, se 39,1% dos custos ou 9.452 euros dizem respeito a habitação, já 12,9% ou 3.119 euros são encargos com alimentação e 12,4% ou 3.001 euros referem-se a gastos com transportes.

Ainda com alguma expressão na estrutura da despesa dos agregados familiares, surgem as despesas com restaurantes e alojamento (8,6%), que totalizam 2.071 euros.

Famílias com crianças gastam mais 8.861 euros por ano

A análise por região revela que a despesa anual média foi mais elevada na região Norte (25.057 euros) e mais reduzida nos Açores (20.439 euros). O INE mostra ainda que os encargos dos agregados familiares residentes na Área Metropolitana de Lisboa e na Madeira superaram a média nacional: 24.491 e 24.363 euros, respetivamente.

Os resultados sugerem que as famílias com filhos dependentes gastaram, em média, 33.051 euros anuais, isto é, mais 8.861 euros do que as famílias sem crianças, o que corresponde a um aumento de 36,6%. O INE indica que isto se “traduz numa despesa mensal média superior em 738 euros”.

Para o agravamento da despesa familiar média mensal em 738 euros face às famílias sem crianças dependentes, “contribuíram sobretudo os encargos com transportes e com habitação, cuja diferença, entre os dois tipos de agregados familiares, superou, em ambos os casos, 100 euros mensais”, segundo o INE.

A presença de crianças dependentes nos agregados familiares gerou também uma despesa superior em alimentação, que aumentou em 85 euros por mês, em restauração e alojamento, cuja fatura subiu 79 euros, e em educação, cuja despesa subiu 62 euros mensais, em média.

(Notícia atualizada às 12h37)

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