Morreu Jacques Delors, o “Senhor Europa”

Jacques Delors, antigo presidente da Comissão Europeia e que foi também ministro da Economia e das Finanças de França, tinha 98 anos. Governo decreta um dia de luto nacional.

O antigo presidente da Comissão Europeia, Jacques Delors, morreu esta quarta-feira em Paris, segundo noticia a AFP. Delors, que foi também ministro da Economia e das Finanças de França, tinha 98 anos. A notícia foi comunicada pela sua filha, Martine Aubry. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, lembra o “Homem com letra grande que nos deixou hoje”, segundo uma nota no site de Belém. O Governo vai decretar um dia de luto nacional.

Jacques Delors, também conhecido como o “Senhor Europa”, é uma figura chave da integração europeia, nomeadamente pelo seu papel na criação do Euro e no mercado único. Assumiu a presidência da Comissão Europeia em janeiro de 1985 e apenas deixou o cargo dez anos depois, tendo sido o presidente que mais tempo ocupou a posição.

Esteve também envolvido nos trabalhos que culminaram na assinatura do Tratado de Maastricht. Delors liderou a Comissão no período em que se expandiu de dez para 15 países, incluindo Portugal.

O político francês foi membro do Parlamento Europeu de 1979 a 1981, tendo depois servido como ministro das Finanças de França de 1981 a 1984.

Na página da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa prestou homenagem ao “grande mentor da evolução das Comunidades para uma União Europeia, mobilizador das grandes reformas dos anos 80 e 90, institucionais e financeiras, do alargamento a Portugal e Espanha”.

“Jacques Delors encarna para muitos europeus a própria construção europeia. Mas também o valor do trabalho e de se afirmar pelo seu próprio caminho de autodidata, a promoção da justiça social, do respeito pelos direitos humanos, da importância do outro”, destaca o Chefe do Estado.

Marcelo sublinha ainda os princípios que nortearam Delors no “respeito e reafirmação de que a Europa deve ser uma construção dos seus povos e dos seus Estados, o apoio e abertura a Leste“, numa altura em que a União Europeia se está abrir à Ucrânia e Moldávia.

“No seu catolicismo militantemente progressista, Delors encontrou sempre a força para ultrapassar as dificuldades, encontrar soluções, mantendo a Europa unida e alargada, um projeto que sempre foi de Paz, de progresso e de bem-estar, de caminho em comum para a resolução dos problemas comuns”, escreve o Presidente da República que finaliza a sua mensagem prestando “à sua família, à Comissão Europeia, a todos os seus muitos amigos e admiradores […] os seus sentimentos”, enaltecendo ainda “esta figura que não nos deixará”.

António Costa escolheu a rede X (antigo Twitter) para recordar “o legado de Delors”, que inspira a “um compromisso renovado com esta Comunidade de prosperidade e de valores partilhados, que torne a Europa mais forte, mais solidária e mais coesa”. Pouco depois, o gabinete do primeiro-ministro anunciou, ao final do dia, que vai decretar um dia de luto nacional. “A data será fixada oportunamente, por coordenação europeia ou no dia do funeral”, lê-se na nota.

 

O presidente francês Emmanuel Macron também reagiu à notícia, escrevendo no Twitter que Delors foi “Estadista do destino francês. Artesão inesgotável da nossa Europa. Lutador pela justiça humana”. “O seu compromisso, ideais e retidão sempre nos inspirarão”, acrescentou o presidente francês.

Durão Barroso, também ex-presidente da Comissão Europeia (2004-2014), disse que a “Europa perdeu um dos seus mais extraordinários líderes” com a morte de Jacques Delors. Em nota enviada à Lusa, acrescentou que Delors era “alguém que combinava os ‘pequenos passos’ da integração europeia com o ideal de uma Europa unida”.

Nas instituições europeias, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, disse que Delors “liderou a transformação da Comunidade Económica Europeia em direção a uma verdadeira União”. “Um grande francês e um grande europeu, ficou para a história como um dos construtores da nossa Europa”, escreveu nas redes sociais.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que Delors “moldou gerações inteiras de europeus, incluindo a minha” e foi “um visionário que tornou a nossa Europa mais forte”. Já Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu, destacou o papel de Delors para o mercado único europeu e “o caminho que ele traçou para a nossa moeda única, o euro”. A Europa “perdeu um verdadeiro estadista”, concluiu.

(Notícia atualizada às 21h45 com mais reações)

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