Fundadores do Grupo Primavera lançam fundação de três milhões de euros
José Dionísio e Jorge Batista estão a lançar um novo projeto juntos, após trinta anos na Primavera, a empresa que criaram e venderam em 2021 ao fundo Oakley, e da qual saíram em outubro.
José Dionísio e Jorge Batista, os fundadores do Grupo Primavera, empresa líder em soluções de software empresarial, entretanto vendida e integrada no gigante global Cegid, têm um novo projeto. Depois de décadas no negócio de gestão de software, a dupla de empresários vai lançar a Fundação Primavera, dedicada a financiar projetos para apoiar idosos e crianças em situações vulneráveis, com um capital inicial de três milhões de euros.
“Fizemos o maior negócio a nível de tecnológicas em Portugal. Não faz sentido que não continuássemos a fazer alguma coisa”, explica José Dionísio, em entrevista ao ECO. Lado a lado com Jorge Batista, o parceiro de sempre, Dionísio mostra que a aliança de uma vida se mantém firme e realça que “juntos podemos chegar mais longe”.
Depois de três décadas dedicadas ao Primavera — o grupo de soluções de software para empresas que José Dionísio e Jorge Batista criaram em 1993, e que hoje integra um dos maiores players globais do setor, após a venda ao fundo britânico Oakley Capital Investments, em 2021, e a consequente integração no grupo francês Cegid, em 2022 –, a dupla está agora a dar os primeiros passos na formação da sua Fundação, após terem saído da gestão do agora Cegid Primavera, no final de outubro.
“Não queríamos criar nada que fosse nosso, queríamos fazer nascer alguma coisa que continuasse, com a família ou não mais próxima num conselho de estratégia, mas que tivesse toda uma direção executiva amanhã que não tem nada a ver connosco”, explica Dionísio, justificando a escolha da criação de uma Fundação. “As fundações a partir do momento que são criadas têm vida própria. Deixam de ser do doador, o conselho de administração é senhor dos destinos da fundação e de gerir o património“, completa Jorge Batista.
Com um capital de três milhões de euros, financiado em igual parte pelas duas famílias, que inclui a mulher e os três filhos de José Dionísio e de Jorge Batista – “todos quiseram fazer parte da criação deste projeto”, diz Dionísio. O projeto pretende dar resposta a problemas de idosos em situação de carência, relacionados com “o seu isolamento, com a sua solidão”.
Por outro lado, a Fundação Primavera também vai procurar dirigir-se a problemas de crianças, também em situação de carência, assim como questões relacionadas com África, uma vez que ambos têm relação com este continente: Dionísio nasceu em Moçambique e Jorge Batista em Angola.
O terreno de jogo onde queremos jogar é um terreno de inovação. Não queremos criar uma fundação para ser mais uma fundação. Não queremos promover estudos, mais literatura.
“O terreno de jogo onde queremos jogar é um terreno de inovação. Não queremos criar uma fundação para ser mais uma fundação. Não queremos promover estudos, mais literatura“, realça José Dionísio. O objetivo é chegar “mesmo às pessoas e sentirmos as coisas a acontecer no terreno, junto das pessoas que precisam”.
Para isso, José e Jorge vão procurar deitar a mão a projetos assentes na tecnologia focados em chegar a “milhares de pessoas”. “Há muitas respostas que são dadas locais e que cobrem necessidade de 20, 30 ou 40 pessoas, nós vamos atrás de soluções que à partida terão que deitar mão da tecnologia para chegar a milhares de pessoas“, explica José Dionísio.
Para já, a dupla ainda não tem soluções, mas “vamos rodear-nos de pessoas que percebem destas questões e criar condições para que os empreendedores sociais possam aparecer ao melhor nível para jogar o jogo deste terreno“.
Temos que encontrar os problemas que sejam transversais a toda esta população e perceber aqueles que, através da tecnologia, conseguiremos resolver mais facilmente.
“Temos que encontrar os problemas que sejam transversais a toda esta população e perceber aqueles que, através da tecnologia, conseguiremos resolver mais facilmente“, destaca Jorge Batista.
De acordo com José Dionísio, isto “vai requerer investimentos e projetos que queremos que sejam apoiados por outros”. “A ideia é usar as nossas pessoas, no sentido de outros doadores aparecerem, até porque a Fundação precisa de ganhar sustentabilidade financeira para durar muitos anos, ganhar o seu património” e precisa “ter uma receita recorrente para poder exercer o seu trabalho dia a dia”.
“Se fizermos as coisas bem feitas e formos capazes de reportar corretamente para a sociedade será mais fácil encontrar outras organizações que queiram ajudar no próximo projeto”, acrescenta Jorge Batista.
Os próximos meses serão para constituir os vários órgãos da Fundação e esperar a sua aprovação em Conselho de Ministros, o que está dependente da tomada de posse do novo Executivo. “Estamos à espera de seis meses. Agosto é para banhos, por isso estamos a apontar para julho ou setembro”, conclui José Dionísio.
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