AD tem cenário macroeconómico mais ambicioso que PS. São realistas?

PS prevê crescimento da economia de 2% em 2028, enquanto AD projeta 3,4% no final da legislatura. Já para o saldo orçamental, AD promete excedentes e PS tem visão de equilíbrio.

Os dois maiores partidos já apresentaram os programas eleitorais, que contêm os cenários macroeconómicos que projetam para o país nos próximos anos. Enquanto a Aliança Democrática acredita que vai obter excedentes orçamentais todos os anos e um crescimento do PIB de 3,4% em 2028, o PS é mais contido e estima saldos nulos entre 2025 e 2028 e vê a economia a crescer em torno de 2% ao longo da legislatura. Já quanto à dívida, ambos estimam um rácio próximo dos 80% em 2028. Quais são as previsões com mais credibilidade?

Para o economista Pedro Braz Teixeira, deve-se comparar a ambição dos partidos ao traçar este cenário. “O problema do PS é querer manter tudo muito na mesma”, enquanto a AD “tem a ambição de fazer grandes mudanças e crescer claramente mais do que tem sido o histórico até aqui”, apesar de ter alguns elementos arriscados nas projeções, diz, em declarações ao ECO.

Por um lado, a coligação que junta PSD, CDS e PPM é mais ambiciosa, ainda que garanta “qualidade e realismo” das projeções. “É um cenário macro orçamental robusto que combina ambição com realismo”, afirmou Luís Montenegro, presidente do PSD, durante a apresentação do programa eleitoral na Gare Marítima de Alcântara, em Lisboa.

A AD estima que a economia vai crescer 1,6% este ano, acelerando todos os anos para atingir os 3,4% em 2028. Esta projeção assenta na crença de que as medidas da coligação, em particular a descida de impostos, vão estimular a economia.

Para João César das Neves, um dos economistas consultados pela AD para a elaboração deste programa, “fazer o PIB crescer mais de 3% não é uma coisa mítica, não é fácil, mas não é doido, sobretudo se for à boleia da redução de impostos e do aumento do investimento”. “Mas só é possível com políticas de capitalização de empresas, investimento, educação, tecnologia e inovação”, ressalva ao ECO.

Pedro Braz Teixeira destaca que “a AD tem a ambição de fazer grandes mudanças e crescer claramente mais do que tem sido o histórico até aqui, quer mesmo mudar e sair da tendência dos últimos anos e fazer melhor”. No entanto, alerta que “é pouco ambiciosa na produtividade e é demais no emprego”.

Como tinha escrito numa nota do Fórum para a Competitividade, “uma parte excessiva do crescimento previsto pela AD para 2028 (3,4%) provém do aumento do emprego (1,4%), que é estimado expandir-se a taxas próximas desta”. Isto “constitui um problema significativo” porque deveria ser “mais dependente do aumento da produtividade” e porque “o crescimento previsto do emprego parece excessivo”.

Já no que diz respeito às contas públicas, a coligação liderada por Luís Montenegro aponta para uma variação positiva do saldo global de 0,2% do PIB no próximo ano, de 0,1% em 2026, e de 0,2% nos últimos dois anos da legislatura.

O PS, por sua vez, prevê um crescimento económico em torno dos 2% nos próximos quatro anos. É uma perspetiva mais conservadora que está em linha com as expectativas já apontadas pelo Governo no Programa de Estabilidade, assinadas por Fernando Medina e que participou na apresentação pública do programa eleitoral do PS às legislativas.

“O cenário macroeconómico apresentado assenta nas projeções das principais instituições económicas nacionais e internacionais. É, pois – ao contrário do cenário apresentado pela direita – um cenário credível, realista e prudente“, refere o PS no programa eleitoral.

Para Pedro Braz Teixeira, um crescimento de 2% “não nos leva a convergir com a União Europeia (UE), no sentido significativo”. “Podemos crescer duas décimas acima da UE, mas isso corresponderia a demorar 50 anos a convergir” no rendimento per capita, sublinha. Desta forma, “não há uma alteração da ambição e sobretudo não há reformas e medidas para sair deste estado”.

Para ter um crescimento maior e avançar com medidas que estimulassem mais o crescimento, o partido “teria que renegar aquilo que tem sido feito nos últimos oito anos”.

Já João Leão, ex-ministro das Finanças, defende que a “margem de crescimento não é muito significativa”, numa altura em que “a economia está próximo do pleno emprego”.

No que diz respeito ao saldo orçamental, o partido prevê um excedente de 0,4% do PIB este ano, acima dos 0,2% estimados no Orçamento do Estado para 2024, entregue em outubro. Mas nos quatro anos seguintes projeta-se um saldo nulo, ou equilibrado, nos 0,0%.

Partidos prometem dívida pública nos 80% do PIB em 2028

Já no que diz respeito ao nível da dívida pública, os partidos têm posições mais próximas. O PS prevê uma trajetória de redução do rácio a um ritmo mais acelerado, mas ambos culminam numa dívida pública a rondar os 80% do PIB no final da legislatura.

O PS prevê que o nível de dívida pública vai cair para 80,1% do PIB, a um ritmo de cerca de três a quatro pontos percentuais por ano, depois de Fernando Medina já ter colocado o rácio abaixo dos 100% em 2023.

O ministro das Finanças (em gestão) já sinalizou que a dívida pode cair para baixo dos 96% este ano e é o que o PS estima também ao inscrever uma previsão do rácio de 95,1% do PIB no programa.

Já no programa eleitoral da Aliança Democrática, estima-se que a dívida pública vai ficar nos 96% este ano, reduzindo-se ao longo da legislatura para atingir os 80,2% em 2028.

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