ECO da Campanha: Passos Coelho e imigração marcam discursos

A participação de Passos Coelho na campanha da AD marcou as intervenções dos líderes neste terceiro dia de campanha, principalmente pelas declarações sobre imigração.

Tudo apontava para que o terceiro dia de campanha fosse focado na agricultura e nos protestos dos agricultores, com vários partidos com esse tema na agenda, mas foi o discurso de Passos Coelho na noite passada na campanha da AD, em Faro, que acabou por dominar esta terça-feira.

À esquerda, surgiram críticas pelas declarações do ex-primeiro-ministro a ligar a imigração à insegurança, que mereceram por outro lado elogios de André Ventura.

Enquanto o tema de coligações continua também vivo, o PAN sinaliza que a posição do PCP sobre a Ucrânia teria de mudar no caso de uma eventual nova geringonça. O dia terá ainda espaço para um debate sobre os programas económicos da AD e PS, que escolheu António Mendonça Mendes para o seu representante nesta área.

Tema quente

Reações ao discurso de Passos marcam o dia. Esquerda acusa de aproximação ao Chega

O regresso de Pedro Passos Coelho na campanha da AD em Faro, na noite passada, não deixou os partidos indiferentes e as reações ao seu discurso têm marcado este terceiro dia oficial de campanha para as legislativas. O próprio Montenegro salientou que é necessário existir um “equilíbrio” na política de imigração, nomeadamente para “não criar zonas de insegurança”. Pedro Nuno Santos, a partir dos Açores, reiterou que Passos e Montenegro “são duas faces da mesma moeda”, enquanto Rui Rocha admitiu que chegou a votar em Passos Coelho em 2011 e 2015 mas não o faria atualmente, tendo evitado falar sobre o tema da imigração.

Já Mariana Mortágua criticou o discurso de Passos mas “agradeceu” a Montenegro por o ter trazido à campanha: “venha mais vezes, faz avivar a memória de um país inteiro”, disse. Inês Sousa Real, por sua vez, sinalizou que “Passos Coelho vem aproximar a AD da agenda mais extremista da direita, em vez de trazer a social-democracia para o centro democrático”. Rui Tavares defendeu que é “indesculpável para um antigo primeiro-ministro” fazer a relação entre a imigração e insegurança.

A figura

António Mendonça Mendes

A Ordem dos Economistas organizou um debate sobre os programas económicos dos dois maiores partidos e enquanto a defender a AD estará Joaquim Miranda Sarmento, que era o líder parlamentar do PSD e costuma tratar dos temas económicos, o PS elegeu António Mendonça Mendes para representar o programa económico socialista.

Mendonça Mendes chegou a ser secretário de Estado dos Assuntos Fiscais de Fernando Medina e foi também secretário de Estado Adjunto do Primeiro-Ministro. O PS escolheu assim uma figura muito ligada ao Governo de António Costa para defender o programa económico.

Entrega e apresentação do Orçamento do Estado 2022 - 13ABR22

A frase

“Se algum dia tiver de cortar um cêntimo nas reformas, demito-me”.

Luís Montenegro, AD

A surpresa

Inês Sousa Real saiu de casa dos pais aos 31 anos

Inês Sousa Real foi a líder partidária, entre aqueles com assento parlamentar, que saiu mais tarde de casa dos pais, aos 31 anos, de acordo com o Público. André Ventura é o líder que saiu mais cedo, aos 16 anos, para ir para um seminário católico, enquanto a maioria dos restantes saiu entre os 18 e os 23 — excetuando Luís Montenegro, que foi para casa própria com 27 anos.

Prova dos 9

“Lembro-me de uma intervenção que fiz em 2016 em que disse: nós precisamos de ter um país aberto à imigração, mas cuidado que precisamos também de ter um país seguro.”

Pedro Passos Coelho, PSD

Tal como salientou o próprio Passos Coelho, a narrativa que liga a imigração à insegurança e maior criminalidade não é nova. No entanto, os dados que têm vindo a ser publicados não comprovam esta relação, como já salientou até o ex-presidente do PSD, Luís Marques Mendes, no espaço de comentário da SIC. O número de residentes estrangeiros tem vindo a aumentar, de facto, passando de aproximadamente 417 mil em 2012 para 781 mil em 2022, mas tal não foi acompanhado de uma subida nos reclusos estrangeiros. Segundo o Observatório das Migrações, os reclusos estrangeiros diminuíram de 2.601 em 2012 para 1.900 em 2022.

O Observatório destaca também, num relatório de 2023, que “muitos dos reclusos estrangeiros são “indivíduos em trânsito”, isto é, são estrangeiros mas não imigrantes, não têm residência nem atividade profissional em Portugal”. “Acresce que o perfil de reclusos estrangeiros nem sempre encontra correspondência direta com o perfil de imigrantes residentes em Portugal (e.g. há nacionalidades que alcançam uma expressividade na população reclusa muito superior ao peso que assumem na população imigrante residente no país)”.

O último Relatório Anual de Segurança Interna, referente ao ano de 2022, também não faz qualquer relação entre a subida de criminalidade e a chegada de mais imigrantes. “Analisando a evolução da criminalidade, desde o ano 2006, num ciclo de 17 anos, verifica-se que os valores registados atualmente, apesar de representarem acréscimos, são consideravelmente inferiores, observando-se uma tendência de descida, tanto na criminalidade geral como na criminalidade violenta e grave. Atualmente a criminalidade violenta e grave representa 3,9% de toda a criminalidade participada”, lê-se no RASI.

Segundo os dados mais atualizados da Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, referentes à primeira quinzena de fevereiro de 2024, 83,2% dos reclusos eram de nacionalidade portuguesa.

Conclusão: Falso

Norte-Sul

O distrito de Beja foi o que recebeu mais candidatos neste dia, com visitas de Mariana Mortágua, Inês Sousa Real e Rui Rocha. A coordenadora do Bloco de Esquerda focou-se na educação, com uma visita a um agrupamento de escolas em São Teotónio, seguindo depois para uma arruada em Almada, onde termina o dia com um comício.

Já Inês Sousa Real foi ao aeroporto de Beja, onde defendeu uma solução de complementaridade, enquanto à tarde visitou a Associação Patas Errantes, em Sintra. Rui Rocha, por sua vez, reuniu com a Associação de Agricultores do Sul, seguindo depois para Loulé, onde deveria estar a funcionar o Hospital Central do Algarve, e Faro. Paulo Raimundo visitou Setúbal, Palmela e Almada.

Montenegro encaixou quatro visitas neste dia: Elvas, Portalegre, Castelo Branco e Covilhã. Pelo norte encontraram-se André Ventura, com uma arruada em Braga e um comício em Guimarães, bem como Rui Tavares, que se focou no Porto e visitou o CEiiA – Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produto. Já Pedro Nuno Santos começou o dia nos Açores e à tarde “saltou” de ilha para um comício na Madeira.

Na quarta-feira, a maioria dos candidatos vai começar o dia em Lisboa. A IL e o PAN vão manter-se pela capital, enquanto o Bloco ainda passa também por Santarém e a AD vai a Setúbal e Évora. Já Pedro Nuno Santos vai visitar Leiria e Santarém, enquanto o Chega e o Livre vão estar pelo norte, em Viana do Castelo e Vila Real. Rui Tavares participará num debate sobre Ensino Superior, na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

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