Inflação esvaziou carrinho de compras dos portugueses em 2023. Comida pronta “brilha” nos supermercados
Estudo mostra que portugueses foram mais vezes, mas compraram menos em cada ida ao supermercado, abdicando das marcas e optando por artigos de menor valor. Comida pronta estimula negócio no retalho.
Apesar de terem ido mais vezes ao supermercado (+2,4%) durante o ano passado, os portugueses continuaram a encher menos os carrinhos. Segundo um estudo realizado pela Kantar, a que o ECO teve acesso, o volume em cada ato de compra caiu 6% face ao ano anterior, no qual este indicador já tinha tropeçado 13,2%.
Em 2023, a inflação continuou a impedir o regresso dos padrões de compra dos portugueses a valores pré-pandemia. As únicas categorias que escaparam a esta tendência foram os artigos de higiene/beleza e os produtos petrolíferos, em que o painel, que inclui uma amostra de 4.000 lares, registou um aumento no volume de compra em termos homólogos.
Pedro Pimentel, diretor geral da Centromarca, fala num “ano difícil para as marcas e para boa parte dos retalhistas, com a pressão inflacionista a pressionar as opções de compra dos consumidores, obrigando-os a reduzir substancialmente os volumes comprados, a fazer opções por produtos de menor valor e a ter de abdicar de muitos produtos e de muitas das suas marcas favoritas”.
A pressão inflacionista pressionou as opções de compra dos consumidores, obrigando-os a reduzir substancialmente os volumes comprados, a optar por produtos de menor valor e a ter de abdicar de muitos produtos.
Já para 2024, as previsões da consultora de mercado apontam para “alguma recuperação do poder de compra e um mercado de grande consumo mais dinâmico”. Estima um aumento de 3% no valor gasto em bens de grande consumo (FMCG na sigla em inglês) e um crescimento de 1,2% no volume por cada ato de compra dos consumidores em Portugal.
Em que argumentos assenta esta projeção? “Uma significativa desaceleração da inflação, uma evolução salarial que deverá superar a progressão dos preços ao longo de 2024, a possibilidade de ao longo do ano se verificar uma redução das taxas de juro, um emprego que mostra elevada resiliência e um turismo que pode voltar a bater recordes este ano”, responde o porta-voz da Associação Portuguesa de Empresas de Produtos de Marca.
O que também deverá continuar a crescer este ano, ainda que a um “ritmo menor”, são as chamadas marcas brancas dos supermercados, em contraponto com as dos fabricantes. No caso dos bens de grande consumo, excluindo os frescos, as marcas da distribuição (MDD) representaram 45% do total de gastos em 2023, isto é, 3,4 pontos percentuais acima do peso que tiveram no ano anterior. Em 2020, o primeiro ano da pandemia, a quota em valor das MDD era de “apenas” 38%.
Comida pronta e consumo fora de casa em contraciclo
A compra de comida pronta, outra tendência dos últimos anos ao nível do consumo, introduzida ou acelerada pela pandemia, foi igualmente consolidada durante o ano passado. Disparou 28,6% face a 2019 e o estudo da Kantar assinala que é mesmo a categoria que tem gerado mais valor para as empresas de distribuição, originando um “maior gasto médio e uma frequência de compra mais elevada”. Inclui refeições congeladas, pratos desidratados e comida refrigerada.
“Para as marcas, o desafio é aproveitar esta tendência e expandir o seu leque de produtos de comida pronta, inovando nos formatos e nas embalagens. O foco deve estar em propostas de valor acrescentado únicas, ajustadas às preferências do consumidor dentro e fora de casa, na ampliação da oferta, na adaptação dos sortidos e na surpresa, para atrair novos compradores”, sugere Marta Santos, Clients and Analytics Director da Kantar.
Comida pronta é a categoria mais dinâmica no alimentar
Finalmente, enquanto o consumo dos portugueses dentro de casa seguiu em queda no ano passado, o consumo fora de casa voltou a subir em 2023. No último trimestre do ano, particulariza o mesmo estudo com base no Shopper Insights da especialista, aumentou 16,6% em termos homólogos. Um crescimento verificado tanto ao pequeno-almoço, almoço e jantar (18,1%), como entre refeições (15%).
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