Fábrica do Futuro: A Reinvenção Total das Organizações

  • ECO
  • 29 Fevereiro 2024

O impacto das tecnologias emergentes nas empresas foi o mote da sessão promovida pela Accenture, em parceria com o ECO, que contou com vários líderes da indústria para discutir o tema.

Vários líderes empresariais e especialistas da indústria marcaram presença na sessão dedicada ao tema “Fábrica do Futuro: A Reinvenção Total das Organizações“, que teve como objetivo avaliar o impacto que as tecnologias emergentes, como a Inteligência Artificial, estão a trazer para a indústria e, ainda, apresentar uma visão de futuro alinhada com o cenário tecnológico atual.

O evento, organizado pela Accenture, em parceria com o ECO, decorreu ontem, das 10 horas às 11h30, no edifício da Accenture, em Matosinhos, e foi iniciado por Manuela Vaz, presidente da Accenture Portugal, que deu as boas-vindas a todos os presentes e lançou o tema da sessão ao dizer: “Acho que todos concordamos que a digitalização tem muito para fazer no chão de fábrica e na indústria”.

A conferência começou com uma apresentação de Pascal Brosset, Managing Director – Industry X, Digital Production & Operations Global Lead da Accenture, que apontou as quatro pontos imperativos que orientam os investimentos e a inovação da fábrica do futuro: “a resiliência, a flexibilidade, a sustentabilidade e a escassez de talento”.

“Muitos clientes sabem onde estão as oportunidades, mas não o que fazer com elas. Sabem por onde ir, mas não sabem como pôr em prática essa tecnologia“, afirmou Pascal Brosset que, nesse sentido, destacou a importância de haver uma adaptação à nova realidade, que implica flexibilidade: “Para sermos resilientes, temos de ser flexíveis. É importante perceber como mudamos a maneira como as pessoas trabalham, de forma a não contribuírem para a confusão, mas sim para criarem um sistema mais inteligente”.

A integração de processos através do “digital twin”

Para isso, o Managing Director – Industry X, Digital Production & Operations Global Lead da Accenture garantiu que, “em todas as indústrias, a produção tem de ser fortemente integrada em fluxos de valor de ponta a ponta” que acabam por ir além das “quatro paredes da fábrica”.

Assim, Pascal Brosset defendeu que, “para atingir o próximo nível de desempenho, as operações têm de ser otimizadas como um todo”, de forma a tornarem-se autónomas. “A obtenção de operações autónomas exige, então, uma reformulação da arquitetura de fabrico e a
a solução consiste em tirar partido da tecnologia moderna de gestão de dados para integrar as camadas num modelo unificado de operações, também conhecido como ´digital twin´”.

Ao contrário dos sistemas de IT tradicionais, o responsável da Accenture explicou que o ´digital twin´ pode/deve ser desenvolvido de forma incrementada, com base em sucessivos casos de uso. “Não basta tirar os dados dos sistemas antigos e colocá-los nos novos. É preciso criar relações entre todos. Daí a necessidade de se fazer casos de uso, que têm de se pagar a si mesmos em meses. Ganhar dinheiro com eles vem com o tempo“, disse.

“A tecnologia está aqui e o nosso trabalho é simplificá-la”, continuou Pascal Brosset, que acrescentou: “O desenvolvimento de um ´digital twin´ de base pode ser feito numa questão de semanas, incluindo applets de circuito fechado baseados em linguagem de programação e capacidades básicas de IA Generativa para apoiar as operações quotidianas. Hoje, em duas semanas, nós conseguimos criar um plano e resolver problemas complexos neste tempo“.

A tecnologia na indústria têxtil

A segunda apresentação do evento esteve a cargo de Manuel Gonçalves, Executive Board Director, TMG Group, que falou sobre o mais recente projeto desenvolvido pela TMG Group, que tem como objetivo “desenvolver uma nova unidade de negócios que funde a indústria tradicional com as tecnologias da Internet, criando um ecossistema onde designers, retalho especializado e fabricantes se reúnem para os negócios”.

E assim nasceu a “ARTNETIC“, uma rede que combina o talento de artistas com a experiência de fabricantes suportados por uma rede de retalhistas especializados. Assim, dentro desta rede está a “arte”, que conta com dois grupos – os Fashion Designers, que criam novas peças sem cor (TeckPacks); e os Art Designers, que aplicam as suas artes nos TeckPaks -, depois está o retalho, que compõe a seleção de artigos e coloca pré-encomendas, e, ainda, a produção, onde os fabricantes encontram uma plataforma transparente para ajustar o rendimento do seu trabalho.

A principal intenção com a criação deste projeto foi, segundo Manuel Gonçalves, “criar uma anarquia criativa para desafiar os atuais modelos de negócio da moda“. “Aqui, os Fashion e Art designers recebem royalties por cada peça, mas o objetivo é que eles próprios promovam os produtos que produziram”, afirmou.

Para isso, o ARTNETIC conta com uma impressora digital que, “por cada ponto de cor, põe um ponto branco antes, o que permite imprimir na cor preta e numa maior abrangência de materiais“. Ao mesmo tempo, a tecnologia moderna desta máquina permite, ainda, fazer peças únicas sem ter processos produtivos tão dispendiosos como no passado.

Além disso, associado a este projeto há um sistema de visualização da peça digitalizada numa figura 3D. Esta figura pode ser adaptada a qualquer medida, corpo, cor, cabelo, etc, o que pode ser um fator disruptivo na forma como se vai “experimentar” roupa no futuro. “A partir do momento em que temos todas as peças digitalizadas, significa que amanhã podemos ter as nossas caras e corpos a vestir e despir as roupas, em vez de termos de ir para uma loja“, garantiu.

Quais os obstáculos à mudança?

Na conferência houve, ainda, espaço para um debate, moderado por António Costa, diretor do ECO, que contou com a presença de Ângelo Ramalho, Chief Executive Officer da Efacec; Manuel Gonçalves, Executive Board Member do TMG Group; Pedro Matos Silva, Digital Technology Center da The Navigator Company; e António Pires, Responsável pela área de Industry X da Accenture Portugal.

Nesta conversa, os quatro imperativos mencionados por Pascal Brosset voltaram a ser tema, com Ângelo Ramalho a considerar que o mais difícil de resolver é a escassez de talento. “A criação acontece a partir do talento das pessoas. Tudo o que tem a ver com a atração de pessoas é fundamental, mas isto é um processo em contínuo. Há dificuldades de contexto, por isso temos de criar mais condições de atração. Às empresas cabe o papel de crescerem em termos de criação valor, já que isto é um processo circular. Temos de crescer e nos posicionar em pontos mais altos da cadeia de valor“.

Por sua vez, Pedro Matos Silva referiu a flexibilidade como outro dos imperativos difíceis de pôr em prática: “Além do talento, a flexibilidade. Nós somos uma indústria bastante consolidada. Fomos crescendo com tecnologia que se reparte pelas várias áreas do nosso contexto e, hoje em dia, é um desafio questionar os modelos de negócio e a interceção das partes“.

“Nós, neste momento, estamos numa fase de construção de uma equipa que seja capaz de conseguir desenvolver projetos baseados na utilização dos dados e aumentar eficiências. De facto, a área industrial lida com o problema de atrair as pessoas para este setor. Não é fácil. Nós trabalhamos em contínuo, temos processos de elaboração contínua e estes processos têm muita dificuldade em encontrar pessoas que queiram trabalhar num regime de rotação de turnos“, revelou.

Neste ponto, Manuel Gonçalves garantiu que “adaptar os sistemas de chão de fábrica às novas realidades”, através da sensorização de equipamentos, por exemplo, pode ajudar muito neste processo. Ainda assim, alertou para a necessidade de se “ir fazendo” e não “fazer tudo de uma vez”: “A cor tem muitas variáveis que interferem no resultado final. Se conseguirmos compilar toda esta informação numa base de dados que tenha todas as opções de cor, se calhar daqui a uns anos conseguimos ter essa informação na receita à primeira. Mas demora anos porque é preciso construir dados. Ainda assim, se não construirmos dados hoje, vai demorar mais”.

A importância dos dados também foi destacada por António Pires, que explicou que “há casos de transformações sucessivas que vão abrindo caminho para a transformação digital com os dados, mas sem os dados não conseguimos fazer isso“. “É um desafio muito grande cruzar as áreas de produção, onde chegam uns indivíduos que não percebem nada de produção e começam a sugerir aspetos a pessoas que efetivamente percebem de produção. Por isso, temos de construir quadros de colaboração entre as centrais que nos permitam avançar sem perder peças pelo caminho“, afirmou.

“Estas questões do papel de cada um de nós enquanto líderes e na forma como ajudamos as nossas pessoas a ultrapassar estes desafios é um fator primário”, disse, por sua vez, Ângelo Ramalho, que ainda explicou que na Efacec tentam resolver esse problema ao conciliar a capacidade humana com a da máquina: “Digitalizamos, sensorizamos e envolvemos as pessoas e os operadores nestes processos, por forma a fazer deles a parte mais interessada em que o projeto se desenvolva com sucesso porque eles serão os primeiros beneficiados“.

Para Pedro Matos Silva, “esta transformação é um imperativo”, e, por essa razão, “tem de ser incorporada”. “Temos que ultrapassar os desafios de flexibilidade e de talento por várias razões, entre as quais a sustentabilidade, desde logo pela rentabilidade dos negócios“, acrescentou.

A visão de futuro é, ainda assim, otimista. “Podemos esperar um acelerar destas tendências com a utilização de todo este poder computacional, ao qual temos de somar este tema da IA. A conjugação destes fatores e dos dados que estão disponíveis, bem como da capacidade que temos para os trabalhar, leva a um acelerar deste tema, a mais competitividade, a mais capacidade de resposta aos clientes, a uma maior flexibilidade e resiliência. Vamos conjugar tudo isto”, concluiu António Pires.

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