BCE aperta liquidez à banca para reduzir carteira de dívida pública
Nos últimos anos o banco central disponibilizou dinheiro "barato" aos bancos da Zona Euro. Agora anunciou alterações para reduzir excesso de liquidez enquanto emagrece carteira de dívida.
O Banco Central Europeu (BCE) anunciou profundas alterações na forma como disponibiliza dinheiro aos bancos comerciais da Zona Euro. As mudanças, aprovadas esta quarta-feira pelo conselho, visam reduzir gradualmente o excesso de liquidez que o banco central introduziu no sistema na década passada, isto enquanto “emagrece” a sua vasta carteira de dívida pública.
Com as alterações ao quadro operacional para a execução da política monetária, o BCE pretende criar incentivos para os bancos comerciais emprestarem mais dinheiro entre si e deixarem de estar tão dependentes da “torneira” do banco central.
A autoridade monetária garantirá uma rede de segurança para evitar o risco de as instituições ficarem sem liquidez ou uma crise de crédito, planeando recorrer a uma combinação de empréstimos para manter as taxas de juro overnight estáveis e à criação de uma carteira de obrigações permanente.
Nos últimos anos, o BCE inundou o sistema financeiro com liquidez através da compra massiva de obrigações, com o objetivo de fazer chegar o dinheiro à economia real e evitar um cenário de deflação. Isso praticamente eliminou a necessidade de bancos comerciais emprestarem entre si.
Se a liquidez abundante ajudou o bloco da moeda única a superar a crise da dívida e o período de inflação anémica, tornou-se incompatível com a atual realidade de subida dos preços e altas taxas de juro e altamente onerosa (originar prejuízos milionários) para os bancos centrais.
Há um excesso de liquidez de 3,5 biliões de euros no sistema bancário da Zona Euro, mais do que os 1,5 biliões de euros que alguns responsáveis do BCE estimam que seja efetivamente necessário, de acordo com a agência Reuters. A redução do balanço do BCE significa que vai “secar” o excesso de liquidez do sistema ao longo do tempo. O banco central disse que iria rever as medidas em 2026.
O BCE referiu que irá “fornecer liquidez através de uma ampla combinação de instrumentos”, mantendo as suas operações de refinanciamento semanais e de três meses na sua forma atual, mas a uma taxa ligeiramente mais baixa.
Também vai lançar “operações de refinanciamento a longo prazo e uma carteira estrutural de ativos”, mas “numa fase posterior” quando o saldo do BCE atingiu uma dimensão menor.
O novo quadro também irá abordar as questões verdes ao “incorporar considerações relacionadas com as alterações climáticas” na sua conceção. Isto poderá ser alcançado através de incentivos para os bancos financiarem mais investimentos verdes ou afastando a carteira estrutural dos mais poluidores.
As alterações foram desenhadas para garantir que o BCE continua a “disponibilizar uma fonte de liquidez eficaz, flexível e estável ao sistema bancário, apoiando também a estabilidade financeira”, disse a instituição.
O BCE revelou que irá “continuar a orientar a política monetária” através da sua taxa de depósito de referência, que está atualmente fixada nos 4%, enquanto a sua taxa de refinanciamento está em 4,5%. Mas a diferença entre estas duas taxas diretoras vai ser reduzida para 0,15 pontos percentuais a partir de 18 de setembro, altura em que o banco central já terá reduzido as suas taxas por várias vezes.
O BCE acredita que a mudança irá “incentivar os bancos a procurarem soluções de financiamento baseadas no mercado”. A taxa de facilidade permanente de liquidez permanecerá 0,25 pontos percentuais acima da sua taxa de refinanciamento.
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