JPMorgan: Regresso do investimento público tira ónus aos bancos centrais

A JPMorgan considera que estamos a entrar num ciclo marcado pelo regresso do investimento público e a economia vai ficar menos dependente dos estímulos monetários, com os juros a voltarem ao normal.

A economia global está num processo de transição energética e digital que vai exigir biliões de dólares de investimento nos próximos anos. Para a JPMorgan AM, a gestora de ativos do banco norte-americano, que gere mais de 3,15 biliões de dólares em todo o mundo, são estas as áreas que recolhem a preferência. Com o investimento público a regressar em força, a economia está agora menos dependente dos estímulos monetários e não há justificação para taxas reais negativas.

Atingir emissões líquidas zero vai exigir um investimento em energia equivalente a 4,5% do produto interno bruto (PIB) mundial até 2030 (face aos 2,5% investidos hoje). Ter estruturas e terrenos com emissões líquidas zero requer 9,2 biliões de dólares por ano até 2050. Infraestruturas tecnológicas limpas exigem um investimento global de 56 biliões de dólares até 2050. Os números são apresentados por John Bilton, head of global multi-asset strategy da JPMorgan AM, e mostram a dimensão do investimento exigido para cumprir aquilo que são os objetivos das autoridades ao nível da transição energética.

Além da transição tecnológica, a economia está ainda a lidar com a transição digital, na qual a Inteligência Artificial (IA) tem um papel fulcral. “A IA afeta toda a economia“, realça John Bilton, acrescentando que esta importante tecnologia “pode ajudar a produtividade na próxima década”, explica numa apresentação realizada no International Media Summit, organizado pela gestora do JPMorgan esta semana, em Londres.

Perante um mundo em transição, o responsável pela estratégia multi-ativos da JPMorgan AM recomenda aos investidores que invistam em ativos com exposição aos temas seculares desta transição, argumentando que os próximos anos serão marcados por um regresso do investimento por parte dos governos.

O impulso orçamental da política industrial vai impulsionar o crescimento nominal“, refere o especialista, adiantando que “há menos justificação para taxas reais negativas. Vamos gastar muito dinheiro na transição energética“. “O ativismo orçamental está de volta”, conclui.

Se o investimento está de volta já não vamos precisar de depender apenas dos bancos centrais.

John Bilton

Responsável pela estratégia de multi-ativos da JPMorgan

No caso da Europa, NextGenerationEU poderá favorecer a economia do Velho Continente. “Se o investimento está de volta já não vamos precisar de depender apenas dos bancos centrais“, assegura, notando que estamos num “mundo em transição”, a passar de um ciclo de baixo crescimento e baixas taxas de juro, para um mundo com taxas positivas e maior volatilidade.

Em termos de investimento, o especialista continua a preferir as ações, cujos resultados estão mais resilientes, notando, porém, que as “obrigações têm proteção limitada contra a inflação, mas não há razão para não oferecerem proteção contra choques de crescimento“. Já permanecer fora dos mercados, investido em ativos de liquidez para evitar a volatilidade pode parecer “tentador” com taxas de 4 a 5%, como adiantou Karen Ward, responsável pela estratégia de investimento para a Europa, mas não é a solução mais rentável a longo prazo.

Quem investe em liquidez não assume risco de mercado, mas assume um enorme risco de reinvestimento“, atira John Bilton. “Não há ativos de risco, apenas uma assunção diferente de risco”.

No entanto, ao contrário do que aconteceu nos últimos anos, as obrigações recuperaram a sua função nas carteiras: preservar capital. “Não se investe numa obrigação para ganhar 20 ou 30%. É para gerar rendimento, ter segurança”, refere Myles Bradshaw, diretor e responsável pelas estratégias de investimento em dívida da JPMorgan AM.

Não é suposto [as obrigações] serem a parte do portefólio que tira o sono, porque podem cair 20%. É suposto renderem um rendimento estável.

Myles Bradshaw

Diretor da JPMorgan AM

De acordo com Bradshaw, as obrigações não conseguiram assegurar uma diversificação no período de juros negativos, mas estes ativos são tudo menos “chatos” – geraram ganhos de 20 a 30% mesmo quando yields estavam negativas – e, com as taxas novamente em território positivo, “se houver um choque de crescimento vão oferecer uma correção negativa com as ações“.

Não é suposto [as obrigações] serem a parte do portefólio que tira o sono, porque podem cair 20%. É suposto renderem um rendimento estável“, remata.

Também John Bilton aponta que o tradicional 60%/40% (investimento de 60% em ações e 40% em obrigações) “está longe de estar morto”, admitindo o papel das obrigações numa carteira, sobretudo em momentos de grande incerteza.

Em termos de investimento, o especialista adianta que a gestora está mais otimista para as ações norte-americanas. Quanto ao facto dos ganhos do S&P 500, o maior índice bolsista do mundo, estarem concentrados num reduzido número de empresas – as chamadas sete magníficas (Apple, Amazon, Alphabet, Meta, Microsoft, Nvidia e Tesla) –, o responsável lembra que se tratam de empresas que geram “enormes cash flows“.

A concentração é normal nos mercados acionistas, porque os investidores beneficiam os vencedores“, remata.

 

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

JPMorgan: Regresso do investimento público tira ónus aos bancos centrais

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião