Lucros da Altri caem 72% para 42,8 milhões de euros em 2023 arrastados pela descida de preços

Os números foram pressionados pela descida dos preços da matéria-prima no último ano, uma situação que já está a mostrar uma inversão em 2024. A empresa antecipa uma melhoria de rentabilidade em 2024.

A Altri encerrou o último ano com lucros de 42,8 milhões de euros, o que representa uma quebra de 72% face ao resultado líquido reportado em 2022, com os números a serem pressionados pela descida dos preços, segundo a informação divulgada em comunicado à CMVM. Apesar da forte contração registada em 2023, a empresa de pasta e papel está a perspetivar uma melhoria de rentabilidade este ano, alicerçada na subida dos preços da matéria-prima, que já vêm a ser implementados em 2024.

“O ano de 2023 foi um ano atípico no mercado das fibras celulósicas. Assistimos a uma das mudanças de ciclo mais repentinas em mais de uma década, com um abrandamento do crescimento da procura global fruto do processo de destocking na Europa e na América do Norte, seguido, na segunda metade do ano, de uma melhoria das perspetivas em resultado da forte recuperação do mercado asiático“, explica José Soares de Pina, CEO da Altri, em comunicado.

O grupo fechou 2023 com receitas totais de 788,2 milhões de euros, o que representa um decréscimo de 26,1% face ao período homólogo, “em resultado da quebra dos preços”, justifica a empresa. No quarto trimestre, as receitas reduziram-se em termos homólogos, mas aumentaram 7,4% face ao trimestre anterior para 187,3 milhões.

“Perante este contexto desafiante, o Grupo Altri conseguiu manter um elevado nível de produção nas suas três unidades em Portugal, a Biotek, a Caima e a Celbi, superando o milhão de toneladas de fibras celulósicas. As vendas ficaram praticamente em linha com as registadas no ano anterior, mas realizadas a valores inferiores reflexo de uma rápida evolução negativa dos preços das fibras”, explica o líder da papeleira.

Já o EBITDA atingiu os 137,3 milhões em 2023, menos 54,4% que em 2022, com a margem EBITDA a fixar-se em 17,4% (-10,8 pontos percentuais). Tal como nas receitas, também o EBITDA mostrou uma recuperação nos últimos três meses do ano. “No quarto trimestre assistiu-se a uma melhoria na margem EBITDA para 21,3% fruto da recuperação da procura, dos preços mais elevados das fibras e da descida dos custos variáveis“, avança a empresa no comunicado.

Durante o ano de 2023 conseguimos, através da implementação de uma rigorosa política de contenção de custos, potencializada pelo empenho das nossas pessoas, reduzir o impacto negativo ao nível da rentabilidade“, nota José Pina, acrescentando que, “adicionalmente, a normalização dos preços de eletricidade e gás natural, e consequente redução do preço dos químicos, levou a um decréscimo de custos bastante significativo”.

No que diz respeito ao investimento, a papeleira fechou o último ano com um investimento líquido de 60,7 milhões de euros, o que compara com 45,3 milhões no período homólogo. O investimento em 2023 inclui cerca de 31,7 milhões relacionados com a nova caldeira de biomassa (considerando a nova turbina) para a unidade industrial Caima.

Procura a recuperar e preços mais elevados

A empresa destaca que 2023 foi um ano de ajustamento do ciclo do mercado de pasta global, nomeadamente com o regresso da China a uma dinâmica positiva pós-Covid. “O mercado global estabilizou perto do verão devido ao dinamismo da China, o que acabou por levar a uma melhoria do nível de preços também na Europa, após terem atingido mínimos em agosto. Esta melhoria, quer da procura quer de preços, continuou durante o quarto trimestre de 2023 e continuamos a ver as mesmas tendências positivas no início de 2024″, antecipa a companhia.

Olhando ainda para a China, a papeleira refere que “apesar de um mercado chinês especialmente forte em termos de procura em 2023 (+28,5%), continuamos a ter indicações de que o mercado chinês mantém uma boa dinâmica no primeiro trimestre de 2024”.

Já na Europa, “o efeito de destocking terá terminado mais perto do final do terceiro trimestre de 2023 e desde então começamos a sentir uma recuperação dos segmentos mais afetados e normalização do nível de stocks dos papeleiros, com destaque para o segmento de I&E”. “Como tal, antecipamos que a Europa possa ter uma primeira metade do ano de 2024 com uma recuperação da procura e alguma melhoria sustentada de preços”.

A Altri tem vindo a anunciar sucessivos aumentos de preço da pasta, acompanhando os movimentos realizados pela brasileira Suzano, a maior produtora mundial de pasta branqueada de eucalipto (BEKP). O último anúncio foi feito no final de fevereiro, relativamente aos preços a aplicar em março.

O preço de referência para a tonelada de pasta passou para 1.300 dólares na Europa e para os 1.490 dólares na América do Norte.

No que diz respeito à produção, está programada uma paragem da Caima em março, seguindo-se a manutenção da Celbi que deverá ocorrer em maio. A Biotek tem agendada uma paragem apenas em março de 2025.

Decisão sobre projeto na Galiza em aberto

Em relação ao projeto Gama, que prevê a construção de uma unidade industrial de raiz na Galiza, com uma capacidade produtiva anual de 200 mil toneladas de pasta solúvel e 60 mil toneladas de fibras têxteis sustentáveis, o “Grupo Altri reafirma a sua intenção de tomar uma decisão final assim que as condições necessárias estiverem reunidas”.

“O Grupo Altri tem vindo a investir significativamente em vários projetos de diversificação nas várias unidades produtivas, para além do Gama, dos quais destacamos a recuperação e valorização de ácido acético e furfural de base renovável na Caima com previsão de conclusão em 2025”, acrescenta o mesmo comunicado.

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