“Lucros devem deixar de ser principal objetivo das empresas”, defende antigo reitor da escola de gestão de Oxford
O antigo reitor da escola de gestão de Oxford, Colin Mayer, considera que a solução não passa por “impor mais regulamentação, mas sim reexaminar como se olha para a natureza dos negócios”.
O antigo reitor da escola de gestão de Oxford Colin Mayer defendeu que as empresas devem redefinir o seu propósito, sugerindo que o lucro não deve ser o principal objetivo, mas sim a solução de problemas da sociedade.
Em entrevista à Lusa, em Lisboa, onde esteve para a apresentação, na sexta-feira passada, no ISEG, do seu livro “Capitalism and Crises: How to Fix Them” (ainda sem tradução em Portugal), o professor emérito da Blavatnik School of Government e da Saïd Business School (Universidade de Oxford), da qual é fundador, considerou que este é o momento certo para repensar a gestão corporativa.
“A origem dos problemas [do capitalismo] é algo que todos podem compreender, nomeadamente que as empresas não devem lucrar às nossas custas. Às nossas custas enquanto indivíduos, sociedade ou mundo em geral. Deveriam resolver os nossos problemas e não criá-los”, argumentou.
Colin Mayer reflete sobre o que denomina “problemas do capitalismo”, mas acredita que o sistema tem salvação e que, apesar de envolver alterações em certos temas, “não implica mudanças revolucionárias”.
“Envolve a mudança de certas coisas, mas não a reestruturação fundamental do nosso sistema capitalista. A ênfase que coloco no livro está no principal motor do capitalismo, que é o lucro e a forma como as empresas geram lucro e retorno para os seus acionistas”, explica.
Para o membro da British Academy, do Centre for Economic Policy Research e do European Corporate Governance Institute, a solução é simples: as empresas “deveriam lucrar com a resolução de problemas, e não com a criação de problemas”.
Neste sentido, defende que “o lucro deve vir do avanço e do progresso”, o que, segundo diz, acontece muitas vezes, mas “também resulta da imposição de danos e prejuízos a outras pessoas”.
“Essa é a razão pela qual o capitalismo tem tido um historial bastante misto ao longo dos últimos anos e que tem sido a causa de muitas crises”, advoga, considerando que existe alguma reticência em refletir sobre o tema sem que seja considerado um ataque ao sistema.
Para Colina Mayer, “as pessoas reconhecem os problemas e ficam indignadas quando acontecem episódios, como por exemplo a explosão da plataforma operada pela BP no Golfo do México pela BP em 2010, que levou ao derrame de petróleo nesta área, ou as crises financeiras, mas “não sabem o que fazer”.
“Acham que não há uma solução real para os problemas. Acham que é assim que o sistema deve ser e não há muito que possamos fazer, mas este problema, pode ser facilmente resolvido”, através “de uma mistura entre as leis, as prioridades das empresas, a liderança, a avaliação do seu desempenho e o financiamento”.
Entre estas soluções defende que as empresas devem passar a concentrar-se em atividades que não prejudiquem terceiros, depois de refletirem sobre qual é força motivadora para gerar os seus resultados.
“A visão convencional está associada ao economista Milton Friedman, vencedor do Prémio Nobel, que disse que existe um e apenas um objetivo das empresas: aumentar os seus lucros. Ora, isso tem sido um impulsionador da forma como as empresas se têm comportado ao longo dos últimos 70 anos”, recorda.
O objetivo, aponta, deve ser antes “a criação de benefícios para as pessoas, como clientes, como comunidades, como funcionários, e não de infligir-lhes prejuízos”.
Nos casos em que exista interesse público em atividades que podem gerar prejuízos a terceiros deverão ser os Estados a arcar com a responsabilidade, o que, diz, já acontece.
“A necessidade de os governos responderem quando as coisas correm mal é exatamente o que temos visto nos últimos anos. Para que as empresas reportem muito mais sobre o seu desempenho em sustentabilidade, os governos estão a responder introduzindo mais regulamentação para tentar lidar com os problemas”, exemplifica.
No entanto, admite que “embora essa regulamentação possa ajudar a resolver os problemas ambientais, também ameaça as atividades das empresas e pessoas à direita do espetro político preocupam-se com a possibilidade de destruir empregos, investimento e crescimento”.
Neste sentido, considera que a solução não passa por “impor mais regulamentação, mas sim reexaminar como se olha para a natureza dos negócios”.
Destaca ainda a importância das lideranças das empresas no processo de desenvolver a empresa e fazê-la crescer ao mesmo tempo que responde aos atuais desafios do século XXI, sem comprometer o ambiente que as rodeia.
“Existem líderes que tentam levar tudo isto muito a sério. Trabalho em estreita colaboração com Satya Nadella, CEO [presidente executivo] da Microsoft, e é uma pessoa muito inspiradora e que realmente entende a importância da resolução de problemas nos negócios”, exemplifica.
“Ou o CEO da Novo Nordisk [empresa farmacêutica], Lars Fruergaard Jørgensen, que também é um líder muito inspirador, porque acredita que a sua empresa pode resolver alguns problemas importantes e tem procurado formas de ajudar as pessoas a tratar os diabetes. Desenvolveram o medicamento e fizeram uma verdadeira fortuna”, refere.
Para Colin Mayer, “isto é ilustrativo de como uma liderança inspiradora pode criar valor real, não apenas para as sociedades, não apenas para o ambiente, mas para as próprias empresas e para os seus investidores”.
Colin Mayer é especialista em finanças corporativas, governança de empresas, regulamentação, tributação e o papel das corporações na sociedade contemporânea. É membro do International Advisory Board do ISEG, que auxilia a presidência na definição da estratégia internacional da escola, e consultor de empresas, governos, instituições internacionais e reguladores em todo o mundo.
Entre outros cargos foi membro do Tribunal da Concorrência do Reino Unido, do regulador de mercado da Índia e membro do grupo de trabalho do Comité de Legislação dos Mercados Financeiros do Reino Unido sobre administradores de fundos de pensões.
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