Um comentador, uma ex-ministra e ex-líderes. Quem são os candidatos às europeias?

PS e PSD surpreenderam na escolha dos cabeças de lista para as próximas eleições europeias, que colocarão um comentador, um diplomata, ex-líderes políticos e um estreante na corrida às urnas.

Tendencialmente menos participadas, mas, desta vez, com importância redobrada dado o contexto político nacional e internacional, os partidos preparam uma segunda ida às urnas este ano.

As eleições europeias são por norma encaradas como um “teste” ao partido que está no Governo. E após uma vitória ligeira nas legislativas e apenas dois meses de governação, o PSD de Luís Montenegro – que volta a ir coligado com o CDS-PP às urnas europeias – terá que arregaçar as mangas para garantir que é o partido vencedor, e colocar alguma distância entre o PS (principal partido da oposição e que tem o mesmo número de deputados que o PSD na Assembleia da Republica) e do Chega (que se tornou na terceira força política e que deverá continuar a crescer neste sufrágio, à semelhança dos partidos populistas europeus).

No dia 9 de junho, mais de 10 milhões de portugueses são chamados às urnas para eleger 21 deputados para o Parlamento Europeu. Ao todo, a próxima legislatura contará com mais 15 eurodeputados para um total de 720 deputados. Por cá, os cabeça de lista dos principais partidos já são conhecidos (resta saber o PAN que deverá dar a conhecer a sua escolha na quinta-feira). Saiba quem são.

Aliança Democrática

Sebastião Bugalho

Comentador político, independente mas acarinhado pelo CDS (e agora do PSD, também), Sebastião Bugalho encabeça o elenco da AD às eleições europeias. A escolha era improvável, uma vez que Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, era o nome mais falado na comunicação social. No entanto, o autarca terá recusado o convite para ser o número dois de Bugalho, isto no mesmo dia em que as contestações de vários empresários do Norte se fizeram ouvir.

O jovem comentador é assim a escolha de eleição de Luís Montenegro para a próxima ida às urnas, que promete ser exigente para o PSD numa altura de afirmação política e governativa. Nas últimas eleições europeias, o PSD garantiu a eleição de seis eurodeputados para o Partido Popular Europeu (PPE), família partidária europeia dos sociais-democratas. A sondagem de março do Ipsos para a Euronews apontam, neste momento, para uma possível eleição de oito eurodeputados.

O comentador político e jornalista de 28 anos é formado em Ciência Política pelo Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica, e filho dos jornalistas João Bugalho e Patrícia Reis, editora da revista Egoísta. Deu os primeiros passos no jornalismo aos 19 anos, mas foi a fazer comentário político que ganhou maior protagonismo. Fê-lo na TVI24, tendo passado mais tarde para a CNN Portugal. Desde o ano passado, que se tornou num dos analistas políticos da SIC Notícias e, simultaneamente, no Expresso, ambos do grupo Impresa.

Além da análise política, o jovem foi também um dos nomes escolhidos por Assunção Cristas, antiga líder do CDS-PP, para as eleições legislativas de 2019. Depois de ter falhado a eleição – e de Cristas se ter demitido do cargo da liderança, seguindo-lhe Francisco Rodrigues dos Santos –, Bugalho foi convidado para substituir Ana Rita Bessa na Assembleia da Republica. No entanto, o comentador político não aceitou o convite.

Sebastião BugalhoHugo Amaral/ECO

 

Ana Miguel Pedro Soares, assessora do CDS-PP no Parlamento Europeu, é a primeira candidata indicada pelo partido para integrar a lista da Aliança Democrática (AD) às eleições europeias, concorrendo em terceiro lugar, atrás de Paulo Cunha.

Partido Socialista

Marta Temido

Apontada como possível candidata às autarquias pelo PS, a ex-ministra da Saúde é, agora, a escolha dos socialistas para as eleições europeias, com Francisco de Assis e Ana Catarina Mendes a surgirem como número dois e três da lista de candidatos.

Especializada, com carreira feita na área da Saúde e militante do PS desde 2021 – o próprio António Costa lhe entregou nas mãos o cartão do partido –, Marta Temido tornou-se numa protagonista improvável entre os socialistas depois de ter coordenado, juntamente com a Direção-Geral de Saúde, o combate à pandemia da Covid-19, em 2020, tendo chegado mesmo a ser confrontada com a possibilidade de suceder a António Costa como secretário-geral do PS.

Não tenho essa aspiração [política]”, garantiu numa entrevista à RTP 1, no ano passado.

Mas o protagonismo político rapidamente se desvaneceu. Embora tenha resistido às pressões da pandemia, foi incapaz de aguentar a sucessão de casos que evidenciaram uma degradação contínua do Serviço Nacional de Saúde, à pressão política e à contestação setorial liderada, na altura, pelos médicos e enfermeiros. A pressão sobre Marta Temido atingiu o seu ponto mais alto com a morte de uma grávida que foi transferida por haver falta de vagas na neonatologia do Hospital de Santa Maria.

Na demissão, que chegou numa madrugada de agosto, em 2022 – seis meses depois de o Governo tomar posse – Temido admitia ter deixado “de ter condições para se manter no cargo“. A saída foi aceite por António Costa (na altura primeiro-ministro) e pelo Presidente da República.

Saiu de cena durante uns meses, mas o seu nome continuava a ser uma opção nos bastidores socialistas para suceder a Moedas na Câmara de Lisboa, nas eleições autárquicas de 2025. Em 2023, foi eleita com 99% dos votos para presidente da comissão política concelhia de Lisboa do PS.

No entanto, o partido terá optado por seguir um rumo diferente, apostando na candidata de 50 anos para encabeçar uma lista do PS às europeias que não conta com nenhum repetente da legislatura anterior. Em 2019, os socialistas conseguiram eleger nove deputados. A sondagem do Ipsos indicam que os socialistas arriscam, no entanto, perder um lugar no hemiciclo europeu.

A ministra da Saúde, Marta Temido, fala aos jornalistas no final da XIX sessão de apresentação sobre a “Situação Epidemiológica da COVID-19, no Infarmed, em Lisboa, 13 de abril de 2021. MÁRIO CRUZ/LUSAMÁRIO CRUZ/LUSA

Chega

António Tânger Corrêa

Depois das legislativas, o partido de André Ventura espera um “resultado histórico” nas eleições europeias. Esse resultado deverá vir à boleia de António Tânger Corrêa, ex-embaixador de Portugal e vice-presidente do Chega, com origens no CDS-PP, que foi nomeado cabeça de lista do partido às eleições europeias.

O nome do candidato foi dos primeiros a ser anunciado, depois de André Ventura ter confirmado o nome na Convenção do Grupo Identidade e Democracia (ID), família partidária europeia, em Roma. “Vamos a estas eleições europeias para vencer, depois do resultado histórico que alcançamos a 10 de março e depois de termos vencido o círculo da emigração”, disse o líder do Chega, na altura.

Sobre António Tânger Corrêa – que já foi candidato pelo Chega há dois anos para membro do Conselho de Estado, mas sem sucesso – Ventura argumenta “ter o currículo, a experiência política e o conhecimento do mundo internacional para ser o protagonista” da candidatura.

O diplomata de 71 anos, foi embaixador de Portugal durante várias décadas, em países como a Bósnia, Sérvia, Israel, Egito, Qatar, Lituânia, e primeiro secretário da embaixada portuguesa em Pequim. Ademais, foi cônsul-geral de Portugal em Goa, em 1996, e no Rio de Janeiro, em 2005.

Esta será a estreia do Chega no boletim de voto eleições europeias, embora o partido tenha ido coligado com o Partido Popular Monárquico, Partido Cidadania e Democracia Cristã e Democracia 21, em 2019, sob o nome Basta!. A sondagem do Ipsos indica que o Chega poderá eleger até três deputados para o Parlamento Europeu.

Iniciativa Liberal

João Cotrim de Figueiredo

João Cotrim Figueiredo, ex-presidente da Iniciativa Liberal e deputado, foi o nome escolhido pelos liberais para ser o cabeça de lista às eleições europeias. O empresário virado político era o nome mais provável a ser apresentado pela IL depois de o próprio, em 2022, ter anunciado que ia deixar a presidência do partido.

Os analistas políticos entendem que Cotrim Figueiredo é o nome mais consensual e capaz de conquistar o melhor resultado na corrida do partido à Europa, dada a sua popularidade e alcance mediático. O liberal foi o primeiro deputado do partido a ganhar assento parlamentar na Assembleia da República, em 2019, ano de estreia da Iniciativa Liberal nas eleições legislativas.

Com formação obtida em Londres e em Lisboa, Cotrim Figueiredo, hoje com 62 anos, fez carreira no mundo empresarial. Liderou a Compal entre 2000 e 2006 e a Nutricafés de 2003 a 2006. Seguiu-se a Privado Holding, dona do BPP, e a direção-geral da TVI de 2010 a 2011. Na área do turismo, o liberal foi presidente do conselho diretivo do Turismo de Portugal entre 2013 e 2016 e, em 2015, foi eleito vice-presidente da European Travel Commission. Também desempenhou funções de administrador na Jason Associates e na Faber Ventures.

Em 2019, a Iniciativa Liberal falhou a eleição de Carlos Arroja, que encabeçava a lista de candidatos composta também por Catarina Maia e Carlos Guimarães Pinto, como números dois e três. A sondagem de março da Euronews aponta para a possibilidade de os liberais conseguirem eleger pelo menos um deputado para o hemiciclo de Estrasburgo.

Livre

Francisco Paupério

Depois de uma eleição envolta em polémica, e de alegada “viciação externa” na primeira volta das eleições primárias – aberta a qualquer cidadão, desde que este assine a carta de princípios deste partido, respeite o código de ética e assine um “acordo de compromisso” –, Francisco Paupério foi o nome escolhido para encabeçar a lista do Livre na corrida às Europeias. O investigador de 28 anos, terá conseguido a eleição com 58% dos votos, graças ao apoio de eleitores não militantes. Já os membros e apoiantes do Livre colocaram-no em terceiro lugar.

Natural de Leça da Palmeira, em Matosinhos, Paupério é formado em biologia, com especialização em bioinformática, pelas Faculdades de Ciências das Universidades do Porto e Lisboa, estando atualmente a concluir o doutoramento em Biologia Integrativa e Biomedicina no Instituto Gulbenkian de Ciência.

Embora não tenha experiência política, e a sua estreia tenha gerado alguma controvérsia dentro do partido, o candidato do Livre para as Europeias diz-se “honrado” pela oportunidade. A número dois da lista do Livre às Europeias será Filipa Pinto.

Esta será a segunda tentativa do Livre às eleições europeias, depois de em 2019 ter falhado a eleição de um candidato.

Bloco de Esquerda

Catarina Martins

A ex-coordenadora do Bloco de Esquerda (BE) será cabeça de lista do partido às eleições europeias. “Não há melhor pessoa” para fazer a “luta contra a extrema-direita”, considerou Mariana Mortágua que sucedeu à ex-coordenadora na liderança do partido, em 2023, depois de o BE ter conseguir eleger apenas cinco deputados para Assembleia da República, nas legislativas de 2022.

Formada na área das Humanidades, Catarina Martins chegou a ser considerada com uma das dirigentes políticas de esquerda de maior influência na Europa. Em 2015, a revista norte-americana Politico, colocou a ex-dirigente do partido em 27º lugar num ranking das 28 personalidades que “estão a definir a política na Europa”, elegendo-a como a “cara da Esquerda” que “abanou a cena política lisboeta dominada por homens”.

Recorde-se que foi durante o mandato de Catarina Martins que o Bloco de Esquerda alcançou o seu melhor resultado eleitoral de sempre, elegendo 19 deputados, superando o meio milhão de votos e obtendo 10,19% nas eleições legislativas de 2015. Foi nesse ano, também, que o partido juntamente com o PCP, integrou a solução governativa apresentada na altura por António Costa, secretário-geral do PS, que serviu para derrubar Pedro Passos Coelho do Governo.

Deputada desde 2009, Catarina Martins, hoje com 50 anos, também abdicou do seu assento na Assembleia da República, em 2023, tendo sido substituída por Isabel Pires.

Na última legislatura, o Bloco de Esquerda conseguiu eleger dois eurodeputados para o Parlamento Europeu, sendo agora a missão dos bloquistas de assegurar essa representação no hemiciclo. A sondagem da Euronews indica que os bloquistas conseguirão eleger apenas um deputado.

 

Partido Comunista

João Oliveira

Apontado como o possível sucessor de Jerónimo de Sousa, em 2022, João Oliveira foi o nome escolhido pelos comunistas para garantir que o PCP – muitas vezes confrontados com os seus ideais anti-Europa – conseguem manter a sua representação no Parlamento Europeu.

O ex-líder parlamentar (2013-2022), eleito desde 2005 pelo círculo eleitoral de Évora, não foi reeleito nas eleições legislativas de 2022, dado que a CDU (coligação que junta o PCP e os Verdes) perdeu, para o PSD, o assento que tinha pelo distrito de onde é natural. Ainda assim, o advogado de 44 anos mantém-se como membro da Comissão Política do Comité Central do PCP, sendo considerado uma das figuras mais mediáticas entre os comunistas.

Nas eleições europeias de 2019, a CDU conseguiu 6,88% dos votos, elegendo dois eurodeputados. O cabeça de lista foi João Ferreira, que acabou por ser substituído por João Pimenta Lopes em 2021, ao fim de 12 anos no Parlamento Europeu. A mais recente sondagem do Ipsos indica que PCP arrisca falhar a eleição de deputados.

PAN

O partido com assento parlamentar ainda não apresentou a lista de candidatos às eleições europeias. O momento deverá acontecer esta quinta-feira, 25 de abril, após a votação da Comissão Política Nacional do PAN.

Mas também não é líquido que o partido liderado por Inês de Sousa Real volte a conseguir eleger. Nas últimas eleições, em 2019, Francisco Guerreiro garantiu um assento no hemiciclo (com 5,08% dos votos), mas no ano seguinte desvinculou-se do partido por “divergências políticas com o partido. Desde então, a representação do PAN no hemiciclo português tem estado sob ameaça.

Em 2019, também houve eleições legislativas, tendo o partido conseguido eleger quatro deputados para a Assembleia da Republica, menos um face a 2015, ano em que obteve o melhor resultado sob liderança de André Silva (entretanto desvinculado do PAN). Em 2022, reduziu-se à deputada única Inês de Sousa Real, tendo conseguido mais 38 mil votos, em 2024, insuficiente para eleger um segundo deputado. E uma vez que as eleições europeias são, tendencialmente, menos participadas, o risco do cabeça de lista do partido ficar de fora são elevadas.

As sondagens a nível europeu também sugerem resultados nesse sentido, tendo levado a Francisco Guerreiro e ao Volt a defender que o PAN deveria ir coligado com o partido (e com o Livre, que já recusou o convite) às eleições europeias para maximizar as suas chances de eleição. A Comissão Política Nacional do PAN também deverá manifestar-se sobre esse assunto na quinta-feira, mas ao que o ECO apurou, o partido de Inês de Sousa Real não terá sequer respondido ao convite do Volt Portugal.

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