Martifer “zarpa” maior investimento em 15 anos nos estaleiros navais de Viana do Castelo
Com nova doca seca de 24 milhões de euros, West Sea vai reparar navios de maior dimensão nos estaleiros do Alto Minho a partir de 2026. Martifer reforça administração e distribui prémio de um milhão.
Cinco anos depois de ser anunciada, a Martifer avançou finalmente com a construção de uma nova doca seca nos estaleiros navais de Viana do Castelo, destinada à reparação naval e que permitirá captar navios de maior dimensão. Avaliado em mais de 24 milhões de euros, este é o maior investimento do grupo nos últimos 15 anos e deve estar concluído no final de 2025.
Com 220 metros de comprimento e 45 metros de largura, a chamada Doca nº 3 ficará localizada na antiga rampa de lançamento do estaleiro, alinhada ao cais do Bugio. Além de ganhar capacidade para receber os chamados navios de dimensão Panamax (comprimento de 305 metros, boca de 33,5 m e calado de 26 m), vai “acrescentar capacidade produtiva e criar novos empregos” nas instalações subconcessionadas em 2014 à West Sea.
No relatório e contas de 2023, consultado pelo ECO, o grupo controlado pela I’M dos irmãos Carlos e Jorge Martins, e pela Mota-Engil, que em 2023 viu os lucros subiram 50%, para 19,7 milhões de euros, adianta que, após a delimitação dos espaços e instalação do estaleiro de obra, deu início à preparação das armaduras e cofragens para a execução dos módulos pré-fabricados destinados a formarem a ensecadeira.
“No dia 18 de janeiro 2024 efetuou-se a primeira betonagem da doca, que se destinou ao primeiro módulo pré-fabricado da ensecadeira, num total de 57 ao longo da obra. Cada módulo pré-fabricado consumirá cerca de 5,8 metros cúbicos de betão pronto. Uma vez concluída a ensecadeira, iniciarão aos trabalhos de escavações e demais tarefas tendentes à construção da doca”, detalha o grupo sediado em Oliveira de Frades (distrito de Viseu).
No mesmo documento, o grupo salienta que o aumento da capacidade de reparação naval através da construção desta doca seca – os clientes nesta área são sobretudo da Alemanha, Países Baixos, Dinamarca, Bélgica, Espanha e Canadá – vai posicionar os estaleiros minhotos como “um dos mais importantes da Europa nesta área e tornar as atividades de reparação e construção naval cada vez mais equilibradas no peso relativo do volume de negócios”.
Em novembro de 2022, ano e meio após o CEO, Pedro Duarte, estimar a criação de 120 empregos e um acréscimo de 10 milhões de euros à faturação com este projeto, o autarca de Viana do Castelo atribuiu o atraso ao facto de os estaleiros terem sido concessionados “sem licença de utilização”, obrigando a apresentar a avaliação de impacto ambiental junto da Agência Portuguesa do Ambiente e da CCDR-Norte para licenciar a obra. Isto quando, denunciou o socialista Luís Nobre, a Martifer já tinha “projeto pronto, financiamento garantindo e empreiteiro contratado”.
Apesar de em 2023 ter visto os rendimentos operacionais neste segmento caírem 9% em termos homólogos para 63 milhões de euros, devido ao “atraso na retoma da atividade da construção dificultada pelos constrangimentos da pandemia”, a indústria naval, em que emprega 343 trabalhadores, equivaleu a 29% do total das receitas operacionais – acima dos 8% nas renováveis e dos 64% na construção metálica. No caso específico da reparação e reconversão naval, salienta o grupo que detém também a Navalria (Aveiro), especializada em embarcações de pequena e média dimensão, atingiu no ano passado um recorde de faturação.
Já na área da construção naval, como foi comunicando à CMVM, assinou nos últimos meses vários contratos relevantes. Incluindo o maior de sempre para o grupo: seis navios patrulha oceânicos para a Marinha Portuguesa, no valor de 300 milhões de euros. Rubricou igualmente o maior contrato individual para a construção de um navio cruzeiro de luxo para o armador japonês Ryobi Holdings (103 milhões) e outro para um navio-hotel a operar pela Australian Pacific Touring (APT) com navegação no rio Douro, com capacidade para 122 passageiros e 38 tripulantes.
Torres eólicas e fachadas em Madrid na “maior” carteira de encomendas
No relatório e contas relativo ao último exercício, a Martifer revela, por outro lado, que assinou com a gigante alemã Enercon que prevê a “produção do maior número de torres eólicas de sempre para uma única empresa”. Assim como a adjudicação das fachadas para o projeto Viva Offices (Porto), uma parceria entre a Sonae Sierra e o grupo Ferreira; e um novo contrato para a reabilitação do complexo de escritórios Monforte de Lemos, em Madrid (Espanha), em que irá executar as novas fachadas dos edifícios após ter sido selecionada pela gestora de projeto Arcadis, juntando-se à construtora San Martin.
“Apesar das dificuldades [alterações climáticas, crise geopolítica e instabilidade social], no grupo Martifer tivemos um ano de 2023 que ultrapassou as nossas melhores expectativas, quer ao nível dos resultados operacionais, quer na capacidade de angariar novos contratos, tornando a nossa carteira de encomendas a melhor/maior de sempre”, destaca o conselho de administração presidido por Carlos Martins, que tem Jorge Martins e Arnaldo Figueiredo como vice-presidentes. No ano passado, a carteira de encomendas na construção metálica e indústria naval cresceu 64%, atingindo os 753 milhões de euros.
Tivemos um ano de 2023 que ultrapassou as nossas melhores expectativas, quer ao nível dos resultados operacionais, quer na capacidade de angariar novos contratos, tornando a nossa carteira de encomendas a melhor/maior de sempre.
No relatório que será votado na assembleia geral de acionistas, agendado para 23 de maio, a Martifer destaca aquele que foi o seu “maior contrato de estrutura metálica de sempre” (80 milhões de euros) para o fornecimento e montagem de viadutos ferroviários em estrutura metálica no Reino Unido, no projeto High Speed Two (HS2). Mas também a conquista de “uma das maiores obras de sempre de fachadas” – a torre de escritórios Edden, em Paris (23 milhões de euros) – e o início da execução de um tanque de armazenamento de etileno, “uma obra de diferente execução e complexidade” para a TGE na Bélgica, no valor de 24 milhões de euros.
Também no Reino Unido, a Martifer Metallic Constructions está neste momento envolvida na expansão do Terminal 2 do Aeroporto de Manchester (12 novas portas de embarque que servirão aviões de pequena e grande dimensão), tendo sido escolhida pela Mace/MAG para dar suporte inicial e consultoria durante o desenvolvimento do design e depois fornecer e montar a estrutura metálica, a fachada e a cobertura deste terminal.
Já no Ruanda, vai entrar com a portuguesa Mota-Engil no projeto de construção de duas naves da nova fábrica de vacinas da multinacional BionTech, localizada em Kigali, em que ficará responsável pelo fabrico e montagem de cerca de 600 toneladas de aço.
Reforça administração e paga prémio de um milhão de euros
Com um total de 1.340 trabalhadores, dos quais 81% são homens, 82% têm contrato sem termo e um terço com ensino básico, é na construção metálica que o grupo emprega mais pessoas (952), contando atualmente com unidades industriais em Portugal, na Roménia, em Angola e em Moçambique (em parceria). Na área das energias renováveis, em que atual sobretudo como developer de parques eólicos e solares fotovoltaicos, tem atualmente 39 funcionários e detém, totalmente ou em parceria, um portefólio de mais de 51,1 MW em operação na Europa Central.
Em 2023, Portugal representou 56% do volume de negócios (vendas e prestações de serviços) consolidado de 211,7 milhões de euros (vs. 190,4 milhões em 2022). Já a dívida líquida atingiu um novo mínimo histórico de 8,4 milhões de euros a 31 de dezembro de 2023, “refletindo uma redução de 32 milhões de euros face ao ano anterior”. Numa proposta à assembleia-geral de acionistas, o conselho de administração propõe que o lucro de 19,7 milhões de euros seja transferido para resultados transitados, assim como a atribuição de um milhão de euros (já incluído no resultado líquido do exercício) à administração e aos colaboradores, “a título de participação nos lucros do exercício”.
Caso seja aprovado pelos acionistas, o conselho de administração será alargado até a um número máximo de 15 elementos (contra os atuais nove). E segundo a proposta partilhada com a CMVM, está de saída a independente Clara Sofia Teixeira Gouveia Moura, que era vogal desde maio de 2021, e entram três novos elementos: a “familiar” Mariana Martins, que é acionista da Black and Blue Investimentos, através da qual Carlos Martins investiu em fevereiro 6,28 milhões para comprar 4,2% da Martifer; Filipe Belo Viegas Rosa, atual responsável por toda a atividade de energias renováveis e manutenção industrial do grupo; e a investigadora Susana Sargento, conhecida por ter cofundado a startup portuense Veniam, vendida em 2022 à israelita Nexar.
No próximo mandato, correspondente ao triénio 2024-2026, a presidência da Mesa da Assembleia Geral ficará a cargo de Mariana Guedes da Costa (SPCA Advogados), que irá render José Nunes de Oliveira depois de quase uma década nestas funções. O presidente executivo da Mota-Engil, Carlos Mota dos Santos, vai liderar a Comissão de Fixação de Vencimentos nos próximos três anos, que integra também José Pedro Freitas (Mota-Engil) e a advogada Júlia Matos (I’M SGPS).
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