“Temos planos B e C”, diz CEO da Luz Saúde após suspensão da entrada em bolsa

Abandonado o plano de entrar em bolsa com investidores institucionais, todas as opções – incluindo venda direta ou OPV para investidores de retalho – "estão em cima da mesa", diz Isabel Vaz ao ECO.

A Luz Saúde e a acionista principal, a seguradora Fidelidade, estão em “reflexão profunda” após as condições adversas nos mercados terem levado à suspensão da oferta pública inicial (IPO, na sigla anglo-saxónica) com venda de ações a investidores institucionais, afirmou ao ECO a CEO da empresa de saúde, Isabel Vaz. A operação não era “fundamental” e a empresa tem outros planos em cima da mesa, que podem passar por uma venda direta de uma participação ou uma entrada em bolsa dirigida a investidores de retalho, explicou.

“Aconteceram muitas coisas boas durante todo este período, que no fundo merecem neste momento uma reflexão estratégica. O tema do IPO não era um tema que fosse fundamental para a empresa e para os planos de desenvolvimento”, referiu a CEO à margem do evento sobre o 27.º CEO Survey, organizado pela PwC e pelo ECO.

Questionada sobre a possibilidade de uma venda direta ou a um IPO para o retalho, respondeu: “Durante todo este processo enriquecedor, todo o contacto gigante que se tem com os investidores e abriram streams de opções, que merecem neste momento a estarem consideradas nos processos normais de reflexão estratégica das empresas”, sublinhando que “estão todos os cenários em cima da mesa“.

A 23 de abril a Luz Saúde anunciou que decidiu suspender os planos para avançar com o IPO devido às condições de mercado adversas e que iria continuar a monitorizar ativamente o mercado e a evolução favorável das avaliações do setor da saúde, admitindo a possibilidade de retomar o processo numa transação que reconheça o valor da empresa. No mesmo dia, O ECO apurou que as novas opções incluem a venda direta de uma posição minoritária – a Fidelidade pretende manter a maioria do capital da Luz Saúde – a um investidor institucional, ou a realização de um IPO destinado a investidores particulares.

Isabel Vaz sublinhou ao ECO que o mercado continua muito volátil, nomeadamente no setor da saúde. “Obviamente temos que estar atentos à política monetária americana e inglesa, que obviamente afetam os mercados mundiais”, referiu, vincando que “a inflação continua teimosa, portanto a expectativa de como é que vai ser a rentabilização no mercado de capitais dos valores do que são as justas expectativas das empresas que se movem para o mercado de capitais e que tem a ver com todo este entorno da política monetária, se as taxas de juro baixam ou não, a inflação, as cadeias de abastecimento”.

A CEO da Luz Saúde acredita que a Fidelidade quer manter a maioria do capital. “É claríssimo, neste tipo de estratégia que estamos a viver. É uma pergunta que deve ser lançada desde logo à própria Fidelidade, mas sim, todas as comunicações da Fidelidade são nesse sentido, temos um entendimento, é um ativo estratégico para a Fidelidade e para a própria estratégia de longo prazo”.

Internacionalização é essencial

 

Uma cidadã passa pelo Hospital da Luz, um dos hospitais da Espírito Santo Saúde, em Lisboa, 20 de agosto de 2014. O Grupo mexicano Angeles lançou uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) voluntária sobre o capital da Espírito Santo Saúde, oferecendo 4,30 euros por cada ação, acima do valor de mercado. MÁRIO CRUZ/LUSA

 

Questionada se a operação (entretanto gorada) de entrada em bolsa não teria sido útil para a Fidelidade libertar rácios de capital e avançar para novas oportunidades, Isabel Vaz afirmou que a seguradora tem muitas opções e planos. “Como grande empresa que é, a maior seguradora portuguesa, tem vários recursos e vários planos que concorrem para a prossecução da sua estratégia, nomeadamente o seu financiamento”.

“Aliás, o que nós considerámos neste processo é porque justamente temos isso muito presente na forma como quer o grupo Luz Saúde, quer o seu acionista, temos muitas opções de como fazer o nosso crescimento e como somos temos muitos recursos justamente nisso, não quisemos fazer o IPO em condições adversas porque não temos necessidade disso, porque justamente temos planos B e C, e inclusive novas oportunidades que apareceram para reflexão” acrescentou.

O plano de entrada em bolsa tinha também como objetivo apoiar a expansão internacional da Luz Saúde. Segundo Isabel Vaz, o processo de internacionalização é essencial para ganhar escala.

“O setor da saúde está a mexer de forma impressionante em todo o mundo. Saídos de uma pandemia, percebeu-se bem a importância que o setor da saúde tem a nível mundial e para a própria economia, ou seja, ficou muito bem comprovado que não há economia sem saúde, como também não há saúde sem uma boa economia”, referiu.

“Portanto, é um setor que tem perspetivas de crescimento e de desenvolvimento absolutamente espectaculares em todo o mundo e, portanto, nós sendo um país pequeno, é natural que para o ganho dessa escala e para todos os desafios que estão hoje em cima da mesa, tecnológico, de inteligência artificial é um tema de importância”, disse ainda.

“É esse o caminho e para isso é que estamos muito contentes de estar também no grupo de Fidelidade que está a fazer esse caminho internacional e esse caminho de expansão com muito sucesso”, concluiu.

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