Setor segurador é mais reconhecido que atrativo

Sofia Valentim, da Randstad, identifica as fatores que prejudicam a atratividade do setor segurador junto do público em geral. Solução pode estar nos colaboradores.

O setor segurador ocupa a 10.ª posição dos setores mais atrativos para se trabalhar em Portugal, tendo subido duas posições desde o ano passado. No entanto, é o 4.º setor mais reconhecido pelo público, segundo o estudo employer brand research 2024, que mede a perceção do público em geral quanto à atratividade e reconhecimento das empresas, resultado da parceria da Randstad e a empresa de estudos de mercado Kantar WorldPanel.

Em entrevista ao ECOseguros, Sofia Valentim, especialista no recrutamento de perfis de banking & insurance da Randstad Portugal, além de expor o que atrai e afasta o público do setor segurador, também revela onde as empresas apostam ou o devem fazer para subir no ranking.

Sofia Valentim, especialista no recrutamento de perfis de banking & insurance da Randstad Portugal, considera que “cada vez mais o setor tem que se preocupar em chegar perto das pessoas com as quais trabalha e com aqueles que trabalham na própria entidade, e ser o mais transparente possível.”

Desconhecimento dos benefícios no trabalho pesam no ranking

Neste estudo foram avaliadas empresas de 18 setores e o segurador ficou em 10.º lugar a nível de atratividade. Destacou-se aos olhos do público na saúde financeira em primeiro lugar, em segundo na reputação e em terceiro na segurança no emprego.

Importa salientar que a responsável realça que se trata de “um estudo de perceção” e não a realidade. Assim, uma empresa pode investir em proporcionar aos seus trabalhadores equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal, por exemplo, e aí ser negativamente avaliada neste estudo. Neste caso, “não passou para o mercado” esse investimento, explica Sofia Valentim.

Nesse sentido, ainda que existam benefícios que tipicamente as seguradoras oferecem aos seus colaboradores, como salários acima da média, seguros de Saúde e Planos Poupança e Reforma (PPR), por exemplo, há quem desconheça ou não associe estas vantagens ao setor, explica Sofia Valentim.

Quanto à distância da posição que ocupa entre o nível da atratividade e o reconhecimento, esta deve-se a vários fatores, nomeadamente, à visão que a população tem do setor segurador, ao desconhecimento que a sociedade tem dos benefícios do setor, à procura das empresas por colaboradores com competências muito especializadas (como o atuário) e, também, por não deixar muitas vezes claro aos candidatos a vagas de emprego os planos de progressão de carreira, explica Sofia Valentim.

A visão da sociedade sobre o setor segurador é “uma questão cultural” onde há pessoas que ainda vêem o setor segurador como um setor “cinzento, pesado e burocrático”, afetando a sua atratividade.

Além disso, a especialista refere que a sociedade ainda não associa, ou desconhece, determinados benefícios no trabalho ao setor segurador. Como, por exemplo, há quem desconheça que o setor tende a oferecer uma remuneração acima da média, determinados produtos de seguro, também tende a oferecer descontos aos colaboradores, e o contrato coletivo do setor prevê 35 horas de trabalho semanal.

Ainda assim, há quem conheça as vantagens mas não as considere como fatores determinantes, como a oferta de determinados benefícios em produtos de seguro. “Quando estamos numa fase inicial de carreira, [esses benefícios] não são tão bem percecionados”.

Entre eles está o seguro de saúde, que muitos jovens ainda usufruem o dos pais numa fase inicial da carreira e os Planos Poupança Reforma que alguns jovens vêem “numa lógica longínqua” ou já decidiram que serão os próprios a poupar para a reforma e não a entidade empregadora, explicita Sofia Valentim.

Outro fator muito valorizado, especialmente entre os da Geração Z, é a clareza quanto à “progressão de carreira”. No entanto, à exceção das consultoras, as empresas em Portugal não expõem esse plano “de forma muito linear e estruturada”, disse a responsável. “Também por isso acabam por não ser dos setores considerados mais atrativos para para trabalhar”, acrescentou.

Ainda nos fatores que podem afastar o público em geral de querer ingressar numa carreira no setor está o facto de as seguradoras procurarem (além dos profissionais que integram áreas transversais, como marketing) profissionais altamente especializados, particularmente perfis de “matemáticos que fazem a parte de risco e atuarias” – destinado a uma “franja” da população. Assim, acaba por não atrair “todas as pessoas”.

Por último, a especialista refere que apenas nos últimos anos, especialmente após a pandemia da Covid-19, é que o setor se tornou mais aberto a receber profissionais de outros setores de atividade. Até então, foi desenvolvido “um nicho” onde eram sobrevalorizados os candidatos com experiência no setor, nicho que demora a desvanecer.

Consumidores exigem inovação

O setor segurador tem apostado na inovação, em equipas multifacetadas e em melhoria de processos, sendo estas características cada vez mais reconhecidas pelo mercado. Como supracitado, as empresas apostam cada vez mais em trabalhadores com diferentes experiências. Mas é uma mudança “muito recente” e demora a surtir efeito, refere a especialista.

Mas a que se deve a repentina transformação de equipas e caminho para o digital? A especialista aponta para as exigências dos clientes como um dos fatores essenciais.

Também houve aqui uma transformação no mindset do próprio consumidor que obrigou as companhias a terem uma resposta a nível de serviço e de produto completamente diferenciada. Foi preciso criar novos produtos. Foi preciso criar novas capacidades de resposta. Foi preciso apostar nos contact centers e naquilo que são as equipas à distância

“Não há melhor embaixador do que quem trabalha na própria empresa”

Para Sofia Valentim a “condição sine qua non” [indispensável] para aumentar a atratividade das empresas que “pode parecer demasiado óbvio, mas que muitas vezes não é trabalhada – É começar por dentro“. A especialista considera que “não há melhor embaixador do que quem trabalha na própria empresa”. E é nesse passa-a-palavra, no reconhecimento pelos próprios trabalhadores, que as marcas realçam a sua notoriedade e se tornam mais atrativas.

Além disso, considera essencial transmitir eficazmente o propósito da empresa para que o cidadão considere que o seu propósito individual se alinha com o da seguradora, uma vez que “há preocupação de alinhar o propósito individual com o propósito da empresa.”

Nesse sentido, “as seguradoras têm um propósito em termos de sociedade que pode ser muito interessante, mas que ainda assim pode ser mais trabalhado porque muitas das vezes é visto só como um negócio”, afirmou.

Além disso, o setor também tem apostado em aproximar-se da sociedade para deixarem de ser associadas a problemas como as alegadas falhas em pagar indemnizações. “Ou seja, eu acho que cada vez mais o setor tem é que se preocupar em chegar perto das pessoas com as quais trabalha e com aqueles que trabalham na própria entidade e ser o mais transparente possível.”

Sofia Valentem considera essencial as empresas estarem nas feiras de emprego e em fóruns “onde é importante estar”. Assim como em conferências – sendo que não devem estar apenas presentes, mas também “acrescentar” ao evento.

Note-se que para este estudo foram feitas entrevista online em janeiro deste ano. A amostra é representativa em termos de género, idade (que vai desde os 18 anos até à idade da reforma), qualificações, situação de emprego. O inquirido respondeu a questões relacionadas com 30 empresas de diferentes setor que já tinha indicado anteriormente que conhecia. Para impedir que empresas menos conhecidas sejam prejudicadas na avaliação contra marcas fortes é aplicado um processo de amostragem inteligente em que essas marcas menos reconhecidas aparecem mais vez no processo de seleção do inquirido.

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