Países da UE precisam de 900 mil milhões de euros para investimentos estratégicos

Economistas estimam fosso entre o financiamento público disponível e o necessário para investimentos nas áreas da transição energética, digital e para a defesa.

Os países da União Europeia precisam de 900 mil milhões de euros nos próximo seis anos para financiar investimentos estratégicos, em áreas como a transição climática, digital e da defesa. A estimativa está inscrita num paper divulgado, esta quinta-feira, no blog do Banco Central Europeu (BCE), que avisa que “pagar esta conta não será fácil, especialmente para países altamente endividados”.

A União Europeia (UE) precisa de avançar com a transformação verde, a digitalização da economia e o reforço da sua defesa militar. Isto requer muito mais investimento do que no passado”, consideram os economistas Othman Bouabdallah, Ettore Dorrucci, Lucia Hoendervangers e Carolin Nerlich, que assinam a análise.

Com base em estimativas oficiais da Comissão Europeia e da NATO, os economistas estimam um investimento adicional de 5,4 biliões de euros adicionais para o período 2025-2031. “Tanto o capital privado como os governos terão de preencher a lacuna de financiamento. A maior parte tem de ser suportada por empresas privadas, investidores e famílias. Mas uma parte substancial – cerca de 1,3 biliões de euros, nos nossos cálculos – terá de ser financiada através de fontes públicas“, apontam.

Destes, cerca de 400 mil milhões de euros deverão ser canalizados através da UE, pelo que existe um fosso entre “o financiamento público disponível e o necessário de mais de 900 mil milhões de euros para toda a União no período 2025-2031, a ser financiado a nível nacional e da UE”.

Neste sentido, existe um défice de financiamento público entre 0,6% e 1% do PIB da UE por ano. “Pagar esta conta não será fácil, especialmente para países altamente endividados e com grandes défices estruturais”, consideram os economistas. Contudo, as novas regras orçamentais poderão ter um impacto positivo na resposta a esta desafio, já que durante a fase de ajustamento orçamental (que irá arrancar em 2025), a Comissão Europeia dará aos Estados-membros a opção de levar mais tempo – até 2031 – para implementar os planos de consolidação orçamental e colocar as suas trajetórias de dívida em trajetórias plausivelmente decrescentes.

“Estimamos que este novo quadro possa criar espaço orçamental para o investimento público na UE até 700 mil milhões de euros durante o período 2025-2031”, pode ler-se. Apesar disso, considera que “o investimento adicional promoverá o crescimento potencial e, portanto, mitigará os riscos para a sustentabilidade da dívida, mas apenas durante um intervalo de tempo”.

“Irão surgir estrangulamentos na implementação, tais como a capacidade administrativa limitada no setor público. Além disso, as estimativas das necessidades de investimento apresentadas acima são bastante conservadoras; não consideram outros investimentos estratégicos necessários em áreas como a saúde ou a educação”, assinalam.

Neste sentido, defendem que “alguns países, o espaço orçamental disponibilizado pelas novas regras orçamentais pode ainda não ser suficiente” e que “mesmo os países que partem de uma posição orçamental confortável e podem gastar mais do que outros deveriam ficar preocupados”.

“Nenhum país, nem mesmo o mais rico, pode travar sozinho as alterações climáticas. Os investimentos estratégicos perseguem objetivos partilhados e, como tal, exigem também respostas comuns”, argumentam, pedindo uma solução conjunta da UE.

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