Visita de Orbán a Moscovo é “contraproducente”, critica Casa Branca
A visita "não vai promover a causa da paz e é contraproducente para o apoio à soberania, integridade territorial e independência da Ucrânia", disse a porta-voz da Casa Branca.
Os Estados Unidos mostraram esta sexta-feira preocupação com a visita do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, a Moscovo, onde se avistou com o Presidente russo, Vladimir Putin.
Segundo a porta-voz da Casa Branca, Karin Jean-Pierre, esta viagem do líder húngaro à Rússia, a menos de uma semana do início em Washington da cimeira da NATO de que a Hungria é país-membro, “não vai promover a causa da paz e é contraproducente para o apoio à soberania, integridade territorial e independência da Ucrânia”.
Viktor Orbán reconheceu, após encontrar-se com Putin, que as posições da Rússia e do Ocidente estão “muito distantes” sobre a guerra na Ucrânia. “Queria ouvir e escutei a opinião de Putin (…) As posições estão muito distantes, é preciso dar muitos passos para chegar mais perto do fim da guerra, mas o passo mais importante foi o estabelecimento de contactos e vou continuar a trabalhar”, afirmou Orbán em declarações à imprensa no âmbito da sua visita de surpresa à capital russa, que motivou críticas dos seus pares europeus.
Orbán reivindicou que a Hungria é o único país da União Europeia (UE) capaz de dialogar com Moscovo e com o Ocidente e justificou que, “para a Europa, a paz é o mais importante” e que “a Europa precisa de paz”. “Há dois anos e meio que vivemos na Europa à sombra da guerra. Isto cria grandes dificuldades para a Europa. Vemos muita destruição e sofrimento. Esta guerra está a começar a afetar o crescimento económico e a nossa competitividade”, afirmou.
Além disso, defendeu que, nos últimos dois anos e meio, desde a invasão russa em grande escala da Ucrânia, em fevereiro de 2022, ficou patente que “a paz não será alcançada sem diplomacia” nem “acontecerá sozinha” se ninguém trabalhar nesse sentido. Após a reunião à porta fechada de mais de duas horas e meia, Vladimir Putin voltou a descartar um cessar-fogo com a Ucrânia, alegando que ajudaria o regime de Kiev a recuperar e preparar-se para contra-atacar: “A Rússia é a favor do fim completo e definitivo do conflito”.
O líder do Kremlin defendeu “a retirada completa de todas as tropas ucranianas” das autoproclamadas repúblicas populares pró-russas de Donetsk e Lugansk, no leste da Ucrânia, e das regiões parcialmente anexadas de Zaporijia e Kherson, no sul, bem como de “outras condições” que devem ser analisadas “com suficiente detalhe” em possíveis reuniões futuras.
Putin disse ter encarado a visita a Moscovo do primeiro-ministro da Hungria, que detém a presidência rotativa da União Europeia, como uma forma de tentar restabelecer o diálogo com Bruxelas, numa altura em que as relações “estão no seu ponto mais baixo”. O Presidente russo considerou que Orbán apresentou a posição ocidental sobre o conflito, “também do ponto de vista dos interesses da Ucrânia”, mas elogiou os esforços do líder húngaro, como “uma tentativa de restabelecer o diálogo e dar-lhe um impulso adicional”.
Antes da chegada de Orbán a Moscovo, o alto representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros, Josep Borrell, afirmou que o líder húngaro “não representa de forma alguma” os 27, juntando-se a críticas no mesmo sentido do presidente do Conselho Europeu, Charles Michel. O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, observou igualmente que Orbán não representa a Aliança Atlântica perante Putin, embora tenha admitido que Budapeste o informou antecipadamente da visita.
Kiev também se distanciou ao salientar que o primeiro-ministro húngaro não está combinado nem coordenado com as autoridades ucranianas e rejeitou “qualquer acordo sobre a Ucrânia sem a Ucrânia”. Em reação, o chefe da diplomacia de Budapeste, Péter Szijjártó, afirmou que a Hungria, enquanto país soberano, vai ignorar as críticas durante a visita de Orbán a Moscovo.
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