Defesa, digitalização e cooperação. A estratégia de Draghi para salvar a competitividade da UE
Ao fim de um ano, o aguardado relatório de Draghi para recuperar a "perda rápida e súbita" de competitividade na UE será conhecido. Defesa, digitalização e cooperação são principais pilares.
O diagnóstico está feito e já é conhecido: a União Europeia (UE) está a enfrentar “uma perda rápida e súbita de competitividade” para os Estados Unidos e a China e precisa de se reinventar em áreas estratégicas para voltar a ganhar terreno. Agora é preciso agir. Há um ano, a presidente da Comissão Europeia pediu que Mário Draghi identificasse os principais desafios e desenhasse uma estratégia para acabar com “barreiras estruturais” face aos concorrentes. E esta segunda-feira, três meses depois do fim do prazo, o ex-presidente do Banco Central Europeu dá a conhecer as suas conclusões.
Ursula von der Leyen já está a par das linhas gerais do relatório que lhe foi apresentado, juntamente com os restantes líderes dos grupos parlamentares, na passada quarta-feira. Mas esta segunda-feira, numa conferência de imprensa, estará ao lado de Draghi não só para dar o seu parecer sobre as principais conclusões, como também para explicar de que forma a estratégia será adotada para os próximos cinco anos. Afinal de contas, o reforço da competitividade no bloco europeu é um dos principais pilares do mandato da presidente alemã que foi reeleita, em julho.
“[As conclusões] irão inspirar, certamente, as diretrizes que serão traçadas para o próximo mandato”, afirmou von der Leyen, em abril.
De acordo com a imprensa internacional, o documento de cerca de 400 páginas procurará dar soluções sobre como aumentar a produtividade e reduzir as dependências em dez setores económicos estratégicos para a UE, sem deixar para trás as metas climáticas e a inclusão social. Mas para o antigo governante italiano não há margens para dúvidas: a UE peca por uma falta de inovação, está a ser penalizada um aumento dos preços da energia, uma escassez de competências, e não faz o suficiente para acelerar a digitalização e reforçar as capacidades de defesa comuns da Europa.
“A União Europeia está a enfrentar uma perda rápida e súbita de competitividade“, afirmou Mario Draghi perante os líderes europeus, na quarta-feira passada, de acordo com a agência de notícias DPA.
Mais financiamento para a defesa
Um dos primeiros aspetos será a nível da defesa. Com o escalar da guerra na Ucrânia e o alargamento da NATO em cima da mesa, a UE terá de priorizar este setor que durante décadas ficou esquecido. A presidente do executivo comunitário partilha da mesma opinião e, por isso, a próxima Comissão terá um responsável encarregue de gerir exclusivamente esta pasta. Mas é preciso mais.
Para Mario Draghi, o setor deve ter pleno acesso a fundos europeus — a UE gasta cerca de um terço do que os EUA gastam em defesa — e as fusões de empresas não devem ser desconsideradas por forma a impulsionar a produção de armas. Atualmente, o setor depende em 80% dos fornecedores internacionais para suprir as suas necessidades, e perante um cenário de agravamento das tensões geopolíticas é expectável que esse valor aumente.
“A base industrial de defesa da UE está a enfrentar desafios estruturais em termos de capacidade, know-how e vantagem tecnológica. Consequentemente, a UE não está a acompanhar o ritmo dos seus concorrentes mundiais”, cita o Politico uma das conclusões do ex-primeiro-ministro italiano.
Assim, as recomendações incluem a introdução de um “princípio de preferência europeia” para incentivar as soluções de defesa europeias em detrimento dos concorrentes; a definição de um modelo de governação entre a Comissão, o Serviço Europeu para a Ação Externa e a Agência Europeia de Defesa; e, finalmente, a criação de uma “Autoridade da Indústria da Defesa” que ficará encarregue de fazer aquisições em nome dos países da UE. Esta autoridade seria diretamente gerida pela Comissão Europeia e copresidida pela Agência Europeia de Defesa.
Mais digitalização, cooperação e menos custos energéticos
A falta de inovação e uma transição digital “lenta” serão outros dois aspetos abordados por Mario Draghi. Num discurso proferido em abril, o antigo líder do BCE era perentório: “Falta-nos uma estratégia que nos permita manter o ritmo numa corrida cada vez mais acirrada pela liderança no domínio das novas tecnologias. Atualmente, investimos menos em tecnologias digitais e avançadas do que os EUA e a China, incluindo na defesa, e só temos quatro empresas europeias de tecnologia global entre as 50 maiores do mundo”, alertou.
Um maior avanço tecnológico será também fundamental para diminuir os custos energéticos que, nos últimos anos, tem subido de forma acentuada. Aos olhos de Draghi, uma maior cooperação entre os Estados-membros e um reforço no investimento nas redes de energia e, nomeadamente, interconexões permitiram colmatar o aumento dos preços, aumentando por sua vez a “resiliência europeia face a crises futuras”.
Para além da transição ecológica e digital, a Europa enfrenta também uma terceira transição: as alterações demográficas.
Em junho, o ex-primeiro-ministro italiano Enrico Letta, autor de um relatório sobre o mercado único encomendado pelo Conselho Europeu, salientou que perante as mudanças demográficas e económicas globais, a UE será confrontada com um “declínio” e um “envelhecimento da população” acentuado. Este alerta foi ecoado por Draghi que deverá alertar também no seu relatório para a necessidade de o bloco europeu apostar na qualificação da geração futura. Isto, considerando também os níveis altos de imigração para o bloco e a importância de aproveitar e adequar as competências destas pessoas.
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