“Os valores estão à frente dos números” nas empresas familiares
O presidente da Gelpeixe defende que as empresas familiares são regidas por um conjunto de valores que as distingue de outras empresas familiares.
Ao contrário de outras empresas, nos grupos familiares os valores morais estão à frente dos números, defende o presidente da Gelpeixe, argumentando que por esta razão prefere uma gestão familiar a uma externa.
“Eu preparei os meus filhos para serem sucessores, o meu filho e a minha filha estão focados na empresa. Antes de colocar outro gestor de fora prefiro a empresa gerida pela família. É mais seguro fazê-la pela família“, defendeu Manuel Tarré, numa conferência organizada pelo ECO dedicada ao tema das empresas familiares, que decorreu esta quarta-feira no Estúdio ECO.
Para o empresário há um ponto essencial que distingue as empresas familiares de outros grupos: “Dentro da família, os valores morais estão à frente dos números“. De acordo com o empresário, isto significa que se uma determinada decisão vai contra aqueles que são os valores defendidos pela empresa, como seja ir contra os interesses dos colaboradores, decide-se: “Não vamos por esse caminho“.
Sozinho à frente do grupo familiar desde 2013, depois de ter comprado a parte do irmão, Manuel Tarré lembra que, aquando da aquisição, ficou “quase a zeros”, mas a decisão de investir na empresa criada pela família foi superior ao dinheiro: “Não interessa o dinheiro, o que queremos é ter a empresa”.
Filipe de Botton concorda que as empresas familiares têm características que as distinguem. Em vez de falar em valores morais, o dono da Logoplaste fala em “princípios”. Para o empresário “há uma cascata de razões que levam ao sucesso”, mas “o maior princípio que se pode ter numa empresa é o respeito“.
No que diz respeito à gestão, Filipe de Botton optou por se afastar do cargo de CEO depois de abrir o capital para financiar o crescimento da empresa, passando a desempenhar funções de chairman no seu grupo. “Precisava de 70 milhões de euros [para investir no mercado norte-americano], como não os consegui encontrar em casa tinha duas opções, abrir capital ou não”, explicou. “A decisão de abrir capital foi pelas 2500 pessoas que trabalhavam na empresa, dar oportunidade à empresa de crescer”, acrescentou.
Na Gelpeixe, para já a banca tem sido a fonte de financiamento da empresa, à exceção da entrada de uma empresa de pesca na África do sul “para ter acesso melhor à matéria-prima”. Ainda assim, para uma empresa familiar “abrir capital ou tornarmo-nos cotadas é sempre uma questão de oportunidade“, admite Manuel Tarré.
Para Tarré, uma das grandes barreiras que as empresas familiares têm que passar é o tema da sucessão, nomeadamente quando os filhos não querem continuar na empresa. “Esse é um dos grandes desafios.” O outro são os casamentos na família. Para contornar este problema, Tarré diz que é preciso “aceitarmos a forma do regime de casamento.”
A propósito deste tema, Botton refere que é preciso “uma comunicação e uma discussão sobre o que estamos a fazer.”
Aposta na internacionalização
Em termos de mercados, tanto a Logoplaste como a Gelpeixe mantêm atividade no estrangeiro. Filipe de Botton destaca que “o nosso Portugal não é Portugal”, quando muito será a Europa. Ainda assim, o empresário destaca a importância dos EUA enquanto mercado: “É o país mais fácil de fazer dinheiro, mais fácil de entrar. É um mercado de uma dimensão vastíssima.”
Manuel Tarré realça que no seu setor, a atividade está muito dependente do fornecimento, mas o negócio conta com uma alavanca importante: o turismo. “Há muito turista que vem a Portugal e começa a comer peixe” e é “esta força do turismo que tem sido uma alavanca grande para exportação. Querem chegar ao seu país e consumir produto português”.
“É o único setor português que importa produto e exporta com valor acrescentado pela marca Portugal”, explica o empresário, que se mostra aberto a fazer aquisições dentro ou fora do país caso surjam oportunidades interessantes.
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