Draghi desafia UE a concluir mercado de capitais, uma missão para a futura comissária Maria Luís

Depois de a pasta ter sido entregue a Maria Luís Albuquerque, enquanto futura comissária para os Serviços Financeiros, Draghi apelou no Parlamento Europeu que a estratégia fosse executada.

O antigo presidente do Banco Central Europeu (BCE) considera que a reforma do mercado de capitais na União Europeia vai ser fundamental para que o bloco europeu possa recuperar o terreno que perdeu para os Estados Unidos e a China. Mario Draghi falava ao Parlamento Europeu, esta terça-feira, a propósito do relatório que apresentou na Comissão Europeia, na semana passada, horas depois de Ursula von der Leyen ter atribuído a gestão do portefólio da União do Mercado de Capitais a Maria Luís Albuquerque.

No documento que entregou à presidente alemã e que vai integrar o plano de ação da Comissão Europeia na próxima legislatura, Draghi desafia o bloco europeu a fechar o gap de inovação face aos EUA e à China, especialmente nas tecnologias limpas; desenvolver um plano conjunto para a descarbonização e competitividade europeia e reforçar o setor da segurança europeia, com vista a diminuir a dependência face a outros blocos políticos e económicos. Tudo isto exigiria que os 27 Estados-membros alocassem até 800 mil milhões de euros por ano, cerca de 5% do PIB. Como?

“Historicamente, o financiamento na União Europeia é 80% privado e 20% público”, afirmou perante os eurodeputados, frisando que para manter este ritmo de investimento é necessário dar prioridade ao mercado de capitais, na próxima legislatura.

Temos de fazer progressos no mercado de capitais para que as poupanças possam ser canalizadas para o investimento em toda a União Europeia“, proferiu o antigo governante italiano, dando nota de que mesmo com um mercado de capitais operacional, o investimento público vai continuar a ser “necessário”.

Se a UE mantiver a estratégia definida no relatório, a produtividade vai aumentar e os mercados de capitais vão ser mais reativos”, prevê, garantindo que graças a este impulso será mais fácil aos governos, por via da dívida comum, financiarem a sua parte destinada a projetos estratégicos como inovação tecnológica, redes energéticas e defesa.

Mario Draghi ressalvou ainda que estas necessidades de investimento não são novas, sublinhando que vão em linha com os objetivos e valores da União Europeia, sobre os quais “todos concordámos”.

“A dimensão dos nossos desafios ultrapassa as nossas economias. É importante lembrarmos que esta dívida [comum] não é destinada às despesas gerais dos governos ou para a criação de novos subsídios. É para levar a cabo objetivos de competitividade com os quais todos concordámos”, vincou.

A concretização do mercado de capitais, que está na gaveta há vários mandatos, será uma das prioridades de Maria Luís Albuquerque que foi indicada, esta terça-feira, para ser a próxima Comissária dos Serviços Financeiros. Durante o anúncio, Ursula von der Leyen considerou que a pasta seria “vital para concretizar o mercado de capitais e assegurar o investimento privado na União Europeia”.

“Se olharmos para os números do Banco Central Europeu, a UE está a perder cerca de 470 mil milhões de euros em investimento que não é feito na UE dada a inexistência de uma união de mercado de capitais. Há uma urgência grande para executar isto”, respondeu Ursula von der Leyen em declarações aos jornalistas, esta terça-feira.

No relatório entregue ao executivo comunitário, na semana passada, Draghi já tinha dado nota da urgência em concretizar uma união do mercado de capitais.

“Uma das principais razões para uma intervenção financeira menos eficiente na Europa reside no facto de os mercados de capitais continuarem fragmentados e de os fluxos de poupança para os mercados de capitais serem mais reduzidos”, alertou o economista.

No mesmo relatório, Draghi salientou que “integrar os mercados de capitais da Europa para melhor canalizar as elevadas poupanças das famílias para investimentos produtivos na UE será essencial” para desencadear uma recuperação económica face à competição estrangeira.

Embora Maria Luís tenha sido proposta para o cargo, a nomeação não é, no entanto, definitiva. A antiga ministra das Finanças terá ainda de passar por um processo de escrutínio no Parlamento Europeu que começará com uma avaliação da idoneidade pela Comissão dos Assuntos Jurídicos (JÚRI) e a resposta a um questionário geral por escrito.

Antes disso, os indigitados entregarão aos eurodeputados um conjunto de elementos, nomeadamente, a declaração de interesses, o currículo e a carta de missão. Esta última será também entregue ao Conselho Europeu. Só depois de estarem reunidas todas as condições é que começarão as audições presenciais com os respetivos comités. O processo deve arrancar em outubro para que a nova Comissão entre em funções a 1 de novembro.

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