Governo admite “tomar as rédeas” da TAP se companhia não assegurar rotas estratégicas
"Se nós não tivermos as garantias de salvaguarda dessas rotas, do sentir estratégico, tomaremos nós as rédeas de gerir a operação", declarou o primeiro-ministro, Luís Montenegro.
O primeiro-ministro admitiu esta sexta-feira em Mafra vir a “tomar as rédeas” da TAP se a companhia aérea não garantir as rotas consideradas estratégicas para o país.
“Jamais abdicaremos do hub em Lisboa, das rotas que são estratégicas para nós enquanto povo e enquanto economia e, além da diáspora, há geografias que são cruciais para o futuro do país e do turismo”, afirmou Luís Montenegro, na sessão de encerramento da VII Cimeira do Turismo Português.
“Se nós não tivermos as garantias de salvaguarda dessas rotas, do sentir estratégico, tomaremos nós as rédeas de gerir a operação”, declarou.
O primeiro-ministro esclareceu que “não é isso que está no programa de Governo”, nem que pretende, mas “é uma linha que não vamos permitir que seja ultrapassada”, frisando que a companhia aérea é “estratégia para a economia e para o turismo”.
O presidente da TAP, Luís Rodrigues, considerou que a companhia aérea tem de estar preparada para operar com ou sem privatização e alertou que o mercado pode mudar radicalmente e não haver condições para a venda.
“Nós temos de estar preparados para viver com ou sem privatização. Ela pode não acontecer por alguma razão, o mercado amanhã pode mudar radicalmente e pode não haver condições para o fazer e a companhia tem de se aguentar”, afirmou o presidente da companhia aérea, que participou num debate sobre os desafios da aviação, na 7.ª Cimeira do Turismo Português, no Palácio Nacional de Mafra.
Luís Rodrigues disse que o tema da privatização da TAP não o assusta “minimamente”. “O caminho que estamos a fazer é de dizer ao acionista que a privatização é um tema vosso, nós estamos cá para ajudar, confiamos no trabalho que estão a fazer e nós internamente dizemos às pessoas: vamos esquecer que este tema existe”, explicou o responsável.
Luís Rodrigues realçou ainda que o caminho é construir uma operação mais ágil, mais leve do ponto de vista administrativo, mais resiliente e mais capaz de se adaptar ao sinal dos tempos, trabalhando em conjunto com todo o ecossistema da aviação.
“Se ficarmos parados à espera que aconteça [a privatização] e ver quem vem aí e o que vai dizer, quando alguém chegar vê: ‘esta malta está toda parada, não me serve de nada'”, sublinhou.
O Estado detém a totalidade do capital da companhia aérea de bandeira portuguesa, depois de ter aumentado a sua participação quando a TAP entrou em dificuldades devido ao impacto da pandemia de Covid-19.
O processo de reprivatização arrancou em setembro passado, quando o anterior governo socialista aprovou as condições da venda, mas ficou em suspenso após a demissão do primeiro-ministro, António Costa, e a convocação de eleições antecipadas para 10 de março, que deu a vitória à Aliança Democrática (PSD/CDS-PP e PPM).
No Programa de Governo, entregue na Assembleia da República, o executivo de Luís Montenegro comprometeu-se a “lançar o processo de privatização do capital social da TAP”, sem avançar mais detalhes.
Os três grandes grupos de aviação europeus – Air France-KLM, o grupo hispano-britânico IAG e a alemã Lufthansa – manifestaram interesse na privatização.
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