Cinco ideias-chave do Plano Orçamental de Médio Prazo enviado a Bruxelas

No documento remetido à Comissão Europeia, o Governo compromete-se com excedentes orçamentais até 2028 e um teto da despesa em linha com o definido por Bruxelas.

O Governo remeteu à Comissão Europeia o Plano Orçamental Estrutural Nacional de Médio Prazo, tornado público pelo executivo comunitário na segunda-feira. O documento define qual deve ser a trajetória orçamental que o país deve seguir para reduzir o rácio da dívida pública face ao Produto Interno Bruto (PIB), uma vez que este ainda se encontra acima do recomendado por Bruxelas. Para isso, o Ministério tutelado por Joaquim Miranda Sarmento compromete-se com um teto médio de crescimento da despesa líquida de 3,6% entre 2025 e 2028.

O plano incorpora para o próximo ano o cenário macroeconómico subjacente ao Orçamento do Estado para 2025 (OE2025), ou seja, admite o impacto das medidas de política previstas no documento, mas utiliza a partir de 2026 uma base de políticas invariantes, isto é, caso se mantenham as medidas em vigor, e que exclui o impacto do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Isto porque Bruxelas quer perceber qual a resistência da economia e das contas públicas.

Do crescimento aos excedentes orçamentais, passando pelo teto de despesa, são cinco as ideias-chave do plano cuja primeira avaliação será feita pelos técnicos da Comissão apenas na primavera de 2026. Antes disso, o Conselho ainda terá de aprovar o documento.

Excedentes orçamentais

No plano de médio prazo, o Governo prevê passar de excedente orçamental de 0,4% este ano para 0,3% em 2025, reduzindo-se para 0,1% em 2026 (num cenário de políticas invariantes). Esta evolução resulta do impacto negativo no saldo da execução de projetos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) financiados através de empréstimos e, em 2025, do impacto das medidas discricionárias aprovadas em 2024 e das novas medidas incluídas no OE2025.

No entanto, aponta para uma melhoria das contas públicas a partir daí, contando com um excedente orçamental de 1,1% em 2027 e 1,3% em 2028. O Ministério das Finanças justifica a melhoria do saldo projetado como sendo “estrutural e concentrado no lado das despesas”.

O Executivo prevê ainda que o peso da dívida pública caia de 95,9% do PIB em 2024 para 93,3% em 2025, recuando para 83,2% em 2028, último ano do plano.

Saldo estrutural

O Governo prevê que o saldo primário estrutural, isto é, aquele que retira a despesa com juros e o efeito do ciclo económico e das medidas temporárias e não recorrentes, se reduza de 2,3% em 2024 para 2,1% em 2025 e para 1,7% em 2026, voltando a subir para 2,8% e 2,9% em 2027 e 2028, respetivamente.

Projeta ainda que este saldo, quando descontado as despesas financiadas por empréstimos do PRR, aumente de 2,4% em 2024 para 2,5% em 2025, para 2,6% em 2026, para 2,8% em 2027 e para 2,9% em 2028.

Crescimento

O Ministério das Finanças prevê que após uma desaceleração do crescimento da economia de 2,5% em 2023 para 1,8% em 2024, a taxa volte a recuperar para 2,1% em 2025 e, num cenário de políticas invariantes, para 2,2% em 2026.

O Executivo espera que em 2025 a atividade económica beneficie do consumo, impulsionado pelas medidas que contribuem para o aumento do rendimento das famílias, assim como do investimento, enquanto em 2026 aponta o impacto desfasado destas medidas e do efeito da redução do IRC.

No entanto, prevê que em 2027 e 2028 o crescimento real do PIB modere para 1,7% e 1,8%, respetivamente, à medida que os estímulos do PRR diminuem.
As projeções no cenário de políticas invariantes fixam-se abaixo das inscritas no programa eleitoral da Aliança Democrática (AD) – 2,7% em 2026, 3% em 2027 e 3,4% em 2028 -, desenhado com o impacto das medidas do Governo para a legislatura.

O Executivo espera que em 2025 a atividade económica beneficie do consumo, impulsionado pelas medidas que contribuem para o aumento do rendimento das famílias, assim como do investimento, enquanto em 2026 aponta o impacto desfasado destas medidas e do efeito da redução do IRC.

No entanto, prevê que em 2027 e 2028 o crescimento real do PIB modere à medida que os estímulos do PRR diminuem. Para o crescimento do produto potencial aponta 2,1% em 2025, de 2% em 2026, de 1,7% em 2027 e de 1,6% em 2028.

Ajustamento orçamental

Com as novas regras passou a existir um indicador fundamental: a despesa líquida. Esta despesa corresponde à despesa pública que exclui juros, medidas discricionárias em matéria de receitas, despesas suportadas por fundos da União Europeia, elementos cíclicos de despesas relativas a prestações de desemprego, e medidas pontuais e outras medidas temporárias. Na prática, os encargos que não resultam da evolução da economia e estão antes sob o controlo dos governos.

É com base neste indicador que a Comissão Europeia define a trajetória de referência de um país, isto é, a trajetória plurianual das despesas líquidas para enquadrar o diálogo com os países cuja dívida pública exceda 60% do PIB ou cujo défice orçamental seja superior a 3%.

O objetivo é que a trajetória de referência assegure que o rácio da dívida pública face ao PIB diminua num montante médio anual mínimo de:

  • um ponto percentual do PIB, sempre que o rácio dívida pública/PIB exceda 90%;
  • 0,5 pontos percentuais do PIB, sempre que o rácio dívida pública/PIB se mantenha entre 60% e 90%.

De acordo com o plano submetido pelo Ministério tutelado por Joaquim Miranda Sarmento, a trajetória plurianual das despesas líquidas definida por Bruxelas para Portugal é de em média 3,6% entre 2025 e 2028: em 2025 de 4,1%; em 2026 de 3,6%; em 2027 de 3,4% e em 2028 de 3,3%.

É precisamente a média que o país se propõe a cumprir. Contudo, com uma receita em que o teto para o crescimento da despesa líquida em 2025 e 2026 se fixa acima dos valores definidos e em 2027 e 2028 se reduz fortemente. Como o ECO explicou em julho, ao ser calculada como uma média a quatro anos (período do plano) permite que a despesa seja mais elevada em determinado período e no seguinte mais reduzida. Sendo calculada em percentagem do PIB, será também influenciada pelo crescimento da economia.

Fonte: Plano Orçamental Estrutural de Médio Prazo

Na prática, prevê um maior aperto da despesa e, consequentemente, da política orçamental na segunda metade da legislatura, com 2027 a ser o ano de maior consolidação: 2,7% de ajustamento. De acordo com as regras, a trajetória pode ter um desvio de até 0,3 pp. do PIB e em termos acumulados até 0,6 pp..

Conselho das Finanças Públicas

No parecer ao plano, o Conselho das Finanças Públicas (CFP) considerou que as estimativas e previsões para a evolução do PIB real e respetivo deflator como prováveis e plausíveis, mas que “as estimativas apresentadas para a taxa de crescimento do PIB potencial, bem como para o hiato do produto, não aparentam ser coerentes com o restante cenário macroeconómico apresentado”.

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