“Somos uma geração hipotecada”, diz presidente dos estudantes de Medicina
"É necessário que haja políticas flexíveis de trabalho, que se possa conciliar a nossa vida pessoal com a profissional”, diz líder da associação de estudantes de medicina.
“Somos uma geração hipotecada”, começa por afirmar Emília Pinho, presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (AEFMUP) a propósito das dificuldades que os jovens enfrentam no acesso a habitação, emprego e salários condignos.
Numa intervenção durante a 7.ª edição da Fábrica 2030, uma conferência organizada pelo ECO na Alfândega do Porto, a futura médica elenca alguns dos fatores que contribuem para que os jovens emigrem: “os salários são baixíssimos para a qualidade de vida que pretendem ter e não acompanham a inflação e o custo de viver em Portugal“. Acresce a dificuldade em ter habitação condigna que, apesar de programas como o Porta 65 e a nova política de acesso ao crédito à habitação, continuam a não ser suficientes, sustenta a jovem durante a sua intervenção no painel “O País Não é Para Jovens?”.
Os salários são baixíssimos para a qualidade de vida que [os jovens] pretendem ter e não acompanham a inflação e o custo de viver em Portugal.
Face a este cenário, Emília Pinho é perentória em afirmar: “Não quero chegar aos meus 40 ou 50 anos ainda a pagar a minha primeira casa”. Até porque, justifica, “a habitação em Portugal não funciona”.
Já José Paulo Soares, estudante de Economia na Faculdade e Economia do Porto (FEP), diz que “o problema não está em emigrar, mas sim em emigrar e não querer voltar”. Por isso mesmo, o universitário desafia o Estado a criar condições para que estes jovens regressem e se fixem no país, contribuindo para a competitividade e desenvolvimento económico.
José Paulo Soares elenca igualmente os baixos salários e o problema do acesso à habitação como fatores principais para a “fuga” de talento do país. Acresce a tudo isto o facto de a emigração surgir como uma escapatória ao problema atual de os jovens viverem até tarde na casa dos pais, por não conseguirem pagar o custo de uma habitação própria no seu próprio país.
Face a este cenário “dramático”, o estudante de Economia aponta que a emigração tem a mais-valia de acrescentar valor e know-how ao jovem emigrante, mas também ao país, no caso de ele regressar e se fixar.
O problema não está em emigrar, mas sim em emigrar e não querer voltar.
Interpelada sobre o IRS Jovem, Emília Pinho responde que não basta implementar a medida que isenta de IRS, durante 10 anos, jovens até aos 35 anos, independentemente das habilitações académicas, e até ao sexto escalão de rendimentos. “É necessário que haja políticas flexíveis de trabalho, que se possa conciliar a nossa vida pessoal com profissional”, ter melhores salários, habitação condigna, sublinha a presidente da AEFMUP.
Já José Paulo Soares acredita no impacto da medida, que “poderá ser uma ajuda”. Ainda assim, questiona: “O dinheiro que está a ser despendido nesta política não deveria estar a ser aplicado noutras áreas?”
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