“Somos uma geração hipotecada”, diz presidente dos estudantes de Medicina

"É necessário que haja políticas flexíveis de trabalho, que se possa conciliar a nossa vida pessoal com a profissional”, diz líder da associação de estudantes de medicina.

Estudantes universitários na 7.ª edição da Fábrica 2030Hugo Amaral 3 dezembro, 2024

“Somos uma geração hipotecada”, começa por afirmar Emília Pinho, presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (AEFMUP) a propósito das dificuldades que os jovens enfrentam no acesso a habitação, emprego e salários condignos.

Numa intervenção durante a 7.ª edição da Fábrica 2030, uma conferência organizada pelo ECO na Alfândega do Porto, a futura médica elenca alguns dos fatores que contribuem para que os jovens emigrem: “os salários são baixíssimos para a qualidade de vida que pretendem ter e não acompanham a inflação e o custo de viver em Portugal“. Acresce a dificuldade em ter habitação condigna que, apesar de programas como o Porta 65 e a nova política de acesso ao crédito à habitação, continuam a não ser suficientes, sustenta a jovem durante a sua intervenção no painel “O País Não é Para Jovens?”.

Os salários são baixíssimos para a qualidade de vida que [os jovens] pretendem ter e não acompanham a inflação e o custo de viver em Portugal.

Emília Pinho

Presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (AEFMUP)

Face a este cenário, Emília Pinho é perentória em afirmar: “Não quero chegar aos meus 40 ou 50 anos ainda a pagar a minha primeira casa”. Até porque, justifica, “a habitação em Portugal não funciona”.

Já José Paulo Soares, estudante de Economia na Faculdade e Economia do Porto (FEP), diz que “o problema não está em emigrar, mas sim em emigrar e não querer voltar”. Por isso mesmo, o universitário desafia o Estado a criar condições para que estes jovens regressem e se fixem no país, contribuindo para a competitividade e desenvolvimento económico.

José Paulo Soares elenca igualmente os baixos salários e o problema do acesso à habitação como fatores principais para a “fuga” de talento do país. Acresce a tudo isto o facto de a emigração surgir como uma escapatória ao problema atual de os jovens viverem até tarde na casa dos pais, por não conseguirem pagar o custo de uma habitação própria no seu próprio país.

Face a este cenário “dramático”, o estudante de Economia aponta que a emigração tem a mais-valia de acrescentar valor e know-how ao jovem emigrante, mas também ao país, no caso de ele regressar e se fixar.

O problema não está em emigrar, mas sim em emigrar e não querer voltar.

José Paulo Soares

Estudante de Economia na Faculdade e Economia do Porto (FEP)

Interpelada sobre o IRS Jovem, Emília Pinho responde que não basta implementar a medida que isenta de IRS, durante 10 anos, jovens até aos 35 anos, independentemente das habilitações académicas, e até ao sexto escalão de rendimentos. “É necessário que haja políticas flexíveis de trabalho, que se possa conciliar a nossa vida pessoal com profissional”, ter melhores salários, habitação condigna, sublinha a presidente da AEFMUP.

Já José Paulo Soares acredita no impacto da medida, que “poderá ser uma ajuda”. Ainda assim, questiona: “O dinheiro que está a ser despendido nesta política não deveria estar a ser aplicado noutras áreas?”

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