Mais de metade da poupança das famílias está concentrada nos 20% mais ricos

O Banco de Portugal revela um quadro de grande desigualdade na distribuição da poupança, apesar de nos últimos cinco anos se ter assistido a um aumento de 36,9% da riqueza líquida das famílias.

A distribuição da poupança em Portugal continua a ser marcada por uma forte desigualdade, revelam os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE). Ao mesmo tempo, a riqueza líquida das famílias tem registado um crescimento significativo nos últimos anos, impulsionada por fatores como o aumento excecional da poupança durante a pandemia, a valorização dos imóveis e o efeito nominal da inflação desde 2021.

Segundo a análise do Banco de Portugal, baseada no Inquérito às Despesas das Famílias 2022-23 (IDEF 2022), “as famílias nos dois decis mais elevados da distribuição da poupança são responsáveis por cerca de dois terços da poupança”, lê-se no Boletim Económico de dezembro do Banco de Portugal, publicado esta sexta-feira.

Esta concentração da poupança nos grupos de rendimento mais elevados é ainda mais evidente quando se observa que “os 20% de famílias com rendimentos mais elevados geram 55% da poupança”, enquanto “no decil de rendimento mais baixo as despesas são superiores ao rendimento.”

A análise do Banco de Portugal revela que as famílias nos dois decis mais elevados da distribuição da poupança são responsáveis por cerca de dois terços da poupança, enquanto os dois primeiros decis (com menos riqueza) apresentam inclusive uma poupança média negativa, o que significa que estas famílias estão a gastar mais do que o seu rendimento disponível, possivelmente recorrendo a crédito ou utilizando poupanças acumuladas.

A análise dos técnicos do Banco de Portugal revela ainda um padrão relacionado com a idade dos agregados familiares. “Comparando as taxas de poupança em cada decil de rendimento, observa-se que as maiores taxas de poupança se encontram nos escalões etários mais elevados“, indica o estudo. Este facto sugere que as famílias mais velhas tendem a poupar mais, contrariando a ideia tradicional de que a poupança diminui após a reforma.

Quanto à evolução da riqueza das famílias, o cenário é globalmente positivo. Segundo os dados do Banco Central Europeu (BCE), “entre o quarto trimestre de 2019 e o segundo trimestre de 2024, a riqueza líquida das famílias registou um aumento acentuado (36,9%)”, lê-se no Boletim Económico de dezembro.

Este aumento foi impulsionado principalmente pela valorização dos imóveis, com “a riqueza em habitação” a aumentar 37,1%, destaca o Banco de Portugal, sublinhando que o crescimento da riqueza foi mais pronunciado entre as famílias com menor património. O estudo indica que “o aumento foi particularmente pronunciado até ao percentil 50 (57,6%, face a 39,8% no grupo de riqueza intermédia e 32,4% no grupo de riqueza mais elevada)”.

Apesar deste crescimento nominal, é importante notar que, em termos reais, o aumento da riqueza foi mais modesto. “O crescimento real da riqueza situou-se em 16,9%” entre o quarto trimestre de 2019 e o segundo trimestre de 2024, refere o Banco de Portugal, sublinhando que “no contexto inflacionista, a riqueza líquida real interrompeu a tendência de aumento em 2022 e apenas voltou a aumentar a partir do início de 2023”.

Estes dados desenham um quadro complexo da situação financeira das famílias portuguesas. Por um lado, há um aumento geral da riqueza, impulsionado principalmente pela valorização imobiliária. Por outro, a persistente desigualdade na distribuição da poupança sugere que muitas famílias continuam vulneráveis a choques económicos.

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