Tecnologia

TikTok está a aprender com eleições e garante estar “mais equipado” para evitar riscos

Mariana Bandeira,

Responsáveis da rede social vieram a Portugal explicar que pretendem fazer mais parcerias como a do 'Polígrafo', dois dias após Bruxelas abrir uma investigação relacionada com as eleições romenas.

Dois dias após a Comissão Europeia abrir uma investigação ao Tik Tok por alegadas interferências nas eleições da Roménia, o responsável da rede social com a pasta das relações com setor público veio a Portugal garantir que a empresa está a investir na segurança, a controlar as contas dos candidatos e a aprender com cada ida às urnas.

A tecnológica de origem chinesa admitiu que está consciente de que os utilizadores são mais influenciáveis a determinados conteúdos durante um processo eleitoral, portanto recorre a um sistema em que, nesses períodos, torna mais difícil o candidato aparecer no feed – a menos que se procure especificamente por aquele político no motor de busca do Tik Tok.

“Estamos mais bem equipados, aprendemos enquanto empresa, mas não é um trabalho acabado. Temos estado a trabalhar com fact checkers [verificadores], políticos… Ninguém consegue vencer esse jogo sozinho”, afirmou Enrico Bellini, responsável do Tik Tok pelas relações governamentais no sul da Europa, num encontro com jornalistas portugueses, em Lisboa.

O objetivo é expandir o número de parcerias em Portugal, onde tem 3,6 milhões de utilizadores, como a que têm desde novembro com o jornal Polígrafo. Mas também noutras vertentes. “É importante manter boas relações com as instituições em vários tópicos, além da desinformação”, argumentou o responsável, em declarações à imprensa.

Esta terça-feira a Comissão Europeu abriu um processo formal contra o TikTok por suspeitas de falhas na análise e mitigação de riscos associados à integridade eleitoral durante as presidenciais da Roménia, a 24 de novembro. Bruxelas está a investigar se a rede social interferiu mesmo no processo eleitoral da Roménia ao permitir a publicação e propagação de vídeos que podem significar uma ameaça para a livre escolha do eleitorado.

Questionado sobre esta investigação, o Tik Tok respondeu que tem políticas de integridade e autenticidade e, desde setembro, impediu quase 45 milhões de likes (‘gostos’) falsos e mais de 27 milhões de pedidos de seguidores falsas e bloqueou perto de 400 mil contas de spam da criação na Roménia, além de eliminar 1.100 contas que se faziam passar por candidatos presidenciais.

Em relação às eleições europeias, que ocorreram de 6 a 9 de junho, Enrico Bellini reconheceu que foi um “projeto complicado”, uma vez que a comunidade tem 27 países, com línguas diferentes, mas tinha uma task force com “milhares de pessoas”. “Estávamos preparados”, referiu o executivo do Tik Tok.

nos Estados Unidos, onde o TikTok está em batalha judicial para evitar uma suspensão da operação no país, o porta-voz disse apenas que o “o caso está aberto e não vamos especular”. Em causa está uma lei, aprovada em abril e em avaliação do Supremo Tribunal, que pretende prevenir riscos de espionagem e manipulação dos utilizadores da rede social por parte de autoridades chinesas.

E se o mesmo acontecer na UE? “É o início deste mandato da Comissão. Na última legislatura, o comissário Thierry Breton disse que tem uma abordagem diferente na Europa e se as regras forem cumpridas não haveria problemas”, respondeu.

É nesse sentido que o Tik Tok está a trabalhar com os especialistas em cibersegurança do grupo internacional NCC com quem tem um acordo a longo prazo (10 anos), o ‘Projeto Clover’, que representa um investimento de 12 mil milhões de euros na segurança de dados europeus. O diretor global de privacidade da NCC, Stephen Baily, explicou aos meios de comunicação social que a empresa (third party) está a fazer uma radiografia aos dados que são recolhidos pelas aplicações e a migração da informação para centros de dados europeus, na Noruega e na Irlanda. Por exemplo, dados como email e número de telemóvel são considerados “restritos”.

Apesar de existirem ferramentas, do ponto de vista tecnológico, para detetar riscos, ambos reconhecem que é “complexo”, porque é necessário saber separar o que é política pura e dura – o que determinada figura pública diria normalmente numa intervenção parlamentar – ou tentativa de propaganda utilizando indevidamente as redes sociais.

O Projeto Clover estende-se ao longo de uma década devido à complexidade em termos de arquitetura de dados, à necessidade de recursos e ao facto de o Tik Tok querer mostrar que se envolve em iniciativas de longo prazo e tem interesse no “crescimento contínuo e diálogo” em todos os mercados onde está presente, inclusive Portugal.

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