Montenegro quer mais investimento em 2025. PRR e melhoria das condições financeiras dão ajuda
Instituições económicas estimam que investimento aumente no próximo ano. Execução do PRR, menor restritividade das condições financeiras e IDE deverão ajudar.
“A palavra de ordem em 2025 é investimento, investimento, investimento”. Luís Montenegro lançou o mote e as previsões apontam para que o “desejo” de ano novo do primeiro-ministro se cumpra, graças sobretudo à execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), mas também à melhoria das condições de financiamento e à captação de Investimento Direto Estrangeiro (IDE).
Em entrevista ao Diário de Notícias, publicada no domingo, Luís Montenegro defendeu que “o esforço principal tem de ser o de estimular o investimento e o de atrair investimento direto estrangeiro“, considerando que estas “são duas faces da mesma moeda”.
Um objetivo que, de acordo com as principais instituições económicas e internacionais, o país deverá alcançar. No Orçamento do Estado para 2025 (OE2025), o Ministério das Finanças estima que o investimento acelere ligeiramente, passando de uma taxa de variação de 3,2% em 2024 para 3,5% em 2025. Na ótica do Governo, esta evolução irá resultar sobretudo da crescente absorção dos fundos do PRR e outros instrumentos de financiamento europeu, bem como da menor restritividade das condições de financiamento, com impacto para o investimento privado.
A perspetiva do Governo para o próximo ano é, ainda assim, menos otimista do que a das restantes entidades, fixando-se abaixo do intervalo entre 8,7% (Conselho das Finanças Públicas) e 3,7% (Comissão Europeia).
O investimento será, caso as previsões se concretizem, um dos motores do crescimento económico, em larga medida influenciado pelo PRR. No Boletim Económico de dezembro, o Banco de Portugal destacou que em 2024 o crescimento da economia sustentou-se sobretudo no consumo, com o contributo do investimento a dever ser nulo. No entanto, prevê que será positivo em 2025 e 2026, voltando a ser nulo em 2027, refletindo neste ano a queda da componente pública.
À semelhança do Governo, também o Banco de Portugal espera que o investimento recupere dinamismo em 2025 e 2026 com a melhoria das condições financeiras e das perspetivas globais e o estímulo dos fundos europeus. “Em 2024, o crescimento de 0,5% da FBCF [Formação Bruta de Capital Fixo, correspondendo na prática ao investimento] decorre sobretudo da componente pública, com o investimento empresarial e das famílias em habitação a continuarem a ser penalizados pela restritividade das condições financeiras e pela baixa confiança”, pode ler-se na análise do regulador.
À semelhança do Governo também o Banco de Portugal espera que o investimento recupere dinamismo em 2025 e 2026 com a melhoria das condições financeiras e das perspetivas globais e o estímulo dos fundos europeus.
A instituição liderada por Mário Centeno espera que a situação melhore entre 2025 e 2027, “refletindo a redução adicional das taxas de juro”, enquanto “o investimento público acelera em 2025–26 com a maior execução esperada dos fundos europeus“.
Montenegro sublinhou, em entrevista, que o investimento público segue uma “boa trajetória”, mas o país está sujeito “a prazos muito apertados“. “Desse ponto de vista, recuperaremos nos próximos dois anos muito do investimento que se perdeu nos últimos oito. Agora, investir é a palavra de ordem”, vincou.
Subida do investimento público seria de apenas 4,8% sem o efeito do PRR, calcula o Conselho das Finanças Públicas.
Na análise ao OE2025, o Conselho das Finanças Públicas (CFP) assinalou que o acréscimo previsto para o investimento público de 16,7% – fortemente impulsionado por investimentos ao abrigo do PRR – seria de apenas 4,8% sem o efeito do PRR.
O investimento público deverá assim subir 0,4 pontos e atingir 3,7% do PIB em 2025, o rácio mais elevado desde 2010 (sem o efeito do PRR, estabilizaria nos 2,6% do PIB), assinala o CFP. A instituição liderada por Nazaré da Costa Cabral alerta, porém, que a previsão das Finanças deve ser “interpretada com prudência, tendo em conta que esta despesa tem ficado bastante aquém do previsto nos sucessivos” Orçamentos do Estado.
Investimento Direto Estrangeiro continua a subir
O primeiro-ministro quer “atrair grandes empresas e grandes projetos” e segundo o presidente da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal – AICEP, o país prepara-se para bater um novo recorde na atração de investimento este ano. Em entrevista ao ECO, divulgada em novembro, Ricardo Arroja revelou que até àquele momento foram contratualizados cerca de 50 milhões de euros, mas, até ao final de 2024, esse valor poderá subir para as centenas de milhões de euros.
Um valor esmagadoramente de origem estrangeira, segundo o responsável da AICEP. É certo que Portugal perdeu um lugar no ranking europeu de atratividade de investimento direto estrangeiro, ocupando o 7º lugar em 2023, de acordo com o EY Attractiveness Survey Portugal, divulgado em setembro. O país foi ultrapassado pela Polónia, que conquistou um maior investimento por parte dos Estados Unidos da América, porém, 84% dos investidores inquiridos têm planos para estabelecer ou expandir operações no país em 2025. Esta percentagem situa-se acima da média europeia, que não vai além dos 72%.
84% dos investidores estrangeiros têm planos para estabelecer ou expandir operações no país em 2025. Esta percentagem situa-se acima da média europeu que não vai além dos 72%.
Paralelamente, 77% dos inquiridos antecipam a melhoria da atratividade do país nos próximos três anos, percentagem que superam os 49% registado em 2021. De acordo com dados do Banco de Portugal, no final do terceiro trimestre de 2024, o stock de IDE em Portugal era de 196,5 mil milhões de euros, o correspondente a 70% do PIB português. Quer isto dizer que, entre o final de 2008 e o terceiro trimestre de 2024, este indicador mais do que duplicou e quando medido em percentagem do PIB aumentou 25 pontos percentuais.
E parece que irá continuar a subir, de acordo com os anúncios mais recentes de investimento com capital estrangeiro, entre os quais se inclui o da Lufthansa Technik sobre a construção de uma nova unidade de 54 mil metros quadrados em Santa Maria da Feira. A futura fábrica de reparação de peças de motores e componentes de aviões deverá estar concluída até ao final de 2027 e vai criar “mais de 700 empregos” na região.
Entre outros, a este soma-se o do grupo francês PGS, um dos maiores fabricantes e restauradores de paletes de madeira da Europa, que acaba de expandir a atividade para o mercado português com a construção de duas fábricas em Loulé e na Póvoa de Santa Iria (Vila Franca de Xira), num investimento avaliado em 2,5 milhões de euros. Ou o da Cimpor, que pretende investir 1,4 mil milhões de euros em Portugal até 2030, grande parte para fazer face ao “desafio número um” da descarbonização, com infraestruturas, tecnologia e novos produtos.
O país tem atualmente 60 projetos de Potencial Interesse Nacional (PIN) em acompanhamento, o que inclui projetos com capital estrangeiro ou nacional, mais cinco do que em agosto. Para ser considerado um projeto de PIN tem de, cumulativamente, representar um investimento global igual ou superior a 25 milhões de euros, criar um número de postos de trabalho diretos igual ou superior a 50, ter comprovada viabilidade económica, ser sustentável e ser apresentado por promotores de reconhecida idoneidade e credibilidade.
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