Startups nacionais atraem 448 milhões de euros no último ano. Mais do dobro que em 2023
No ano passado, o investimento no ecossistema de empreendedorismo nacional mais do que duplicou face a 2023. Irá o crescimento manter-se em 2025?
Um total de 448 milhões de euros foi investido no ano passado no ecossistema de empreendedorismo português, mais 134% face aos 191 milhões levantados pelas startups e scaleups nacionais em 2023. Apesar da incerteza que as mudanças na administração de Trump poderão trazer aos “fluxos de investimento” internacionais, com impacto num ecossistema dependente do investimento de fundos externos como o português, o otimismo para 2025 mantém-se.
Depois dos voos de unicórnio, que chutaram o volume capturado pelas startups e scaleups nacionais para 1.500 milhões de euros em 2021, o investimento no ecossistema caiu durante os dois anos seguintes, tendo em 2023 assistido a uma descida abrupta para 191 milhões de euros, segundo os dados da Dealroom, que compila dados públicos sobre rondas de investimento.
No entanto, essa queda foi recuperada, em parte, no ano passado. “2023 foi um ano de ajuste e também internacionalmente. Para 2024 esperava-se um ano já de recuperação e demonstra-se que, de facto, foi. Tivemos aqui um conjunto de rondas muito significativas, o que obviamente traz um alento”, comenta Gil Azevedo, diretor executivo da Unicorn Factory Lisboa, ao ECO.
Num ano, o ecossistema viu disparar 134% o seu bolo de capital investido. “É um crescimento notável e uma recuperação significativa para um setor da economia portuguesa que está, e vai continuar, em crescimento, depois de anos de investimento estratégico público e privado. O aumento de investimento captado para as startups cria um impacto direto no tecido socioeconómico, sobretudo na criação de mais emprego qualificado”, diz António Dias Martins, diretor executivo da Startup Portugal.
“Acredito que estes números também refletem a aposta do Governo português na captação de investimento estrangeiro, com uma série de incentivos fiscais e alterações legislativas que são cada vez mais atrativas“, aponta em jeito de justificação.
Em 2024, o número de rondas reduziu para 105, enquanto um ano antes eram 201, segundo os dados da Dealroom. Mas apesar desse recuo no número de operações, o montante de investimento mais do que duplicou. Os 100 milhões de euros levantados pela Powerdot no início do ano passado deu logo um sinal positivo, a somar às rondas de mais de 70 milhões de euros da Tekever, os 35 milhões de euros da IndieCampers ou cerca de 30 milhões de dólares (cerca de 29 milhões de euros) da Sword Health, rondas que lideram o top 5 das maiores rondas do ano passado.
Infraspeak, Oceano Fresco, Sensei, FVRR e Tonic App são outras rondas na ordem dos dois dígitos que fecham o top 10 das maiores rondas de investimento do ano passado, capital essencial para dar gás aos planos de expansão destas empresas, tanto no mercado interno, como internacional.
2025, novo ano de crescimento?
Depois da recuperação que o ecossistema assistiu no ano passado, 2025 irá manter a curva de crescimento? António Dias Martins acredita que sim. “Considero que este ciclo de recuperação poderá manter-se em 2025.
O aumento significativo de investimento em 2024 reflete um contexto positivo para o ecossistema de startups em Portugal, impulsionado por políticas públicas direcionadas à criação de um ambiente mais favorável para investidores e empresários”, diz o diretor executivo da Startup Portugal.
Um crescimento que pode ter uma ‘ajuda’ do contexto europeu. “A União Europeia está a concentrar esforços em várias áreas estratégicas, com destaque para a Inteligência Artificial (IA), deeptech e tecnologias digitais avançadas, particularmente nas áreas da saúde, biotecnologia e defesa. A IA, em particular, apresenta um grande potencial para transformar diversas indústrias”, lembra o responsável quando questionado sobre quais as áreas aposta em 2025 dos investidores.
“Outra área chave continua a ser a digitalização e o fortalecimento das infraestruturas tecnológicas, onde a União Europeia procura destacar-se para enfrentar a concorrência global”, refere ainda.
Por fim, olhando para o país, “a aposta em deeptech é evidente com o lançamento recentemente anunciado pelo Governo do novo programa Deep2Start, com o fundo deeptech com capital de até 100 milhões de euros, uma das medidas do programa Acelerar a Economia que terá maior impacto no ecossistema empreendedor”, lembra o responsável da Startup Portugal.
Apesar de otimista, António Dias Martins aponta alguns potenciais obstáculos ao evoluir positivo do ano. A começar pelo enquadramento geopolítico. Europeu e não só. “Na União Europeia, enfrentamos desafios como a possível fragmentação do mercado europeu e risco de alguns excessos na regulamentação. Obviamente, a concorrência com potências como os Estados Unidos e a China também coloca pressão adicional sobre o ecossistema europeu”, aponta.
No entanto, ressalva, “a União Europeia tem implementado medidas estratégicas para superar obstáculos e mostrar que pode estar na vanguarda não só económica, mas também tecnológica. A intensificação da colaboração entre os Estados-membros e a criação de um enquadramento legal mais standardizado para startups, como o ‘28th regime’, que visa simplificar as operações societárias promovendo um mercado mais coeso e acessível“.
Além disso, a “crescente aposta da UE em áreas inovadoras, como a inteligência artificial e a deeptech, assim como a necessária aposta no setor da Defesa, abrem novas oportunidades para os empreendedores europeus”, elenca. Por fim, “é de destacar a recente nomeação de Ekaterina Zaharieva, como a primeira Comissária para Startups, Pesquisa e Inovação, que demonstra mais uma vez que a União Europeia está focada em acelerar a implementação de políticas que fortalecem o ecossistema de inovação europeu, oferecendo uma base sólida para um futuro mais integrado e competitivo”, aponta.
“2025 começa com [alguma incerteza] que pode ter algum impacto nos fluxos de investimento, nos fluxos de inovação. A expectativa é que seja um ano positivo, sendo que obviamente tem algumas incertezas”, considera Gil Azevedo, diretor executivo da Unicorn Factory Lisboa.
“É ver um bocadinho qual vai ser o posicionamento dos Estados Unidos e como é que esse posicionamento vai afetar os fluxos de investimento e os fluxos de inovação entre os países“, admite. “Temos uma dimensão a que somos expostos naturalmente, aquilo que são as tendências mais macro a nível global”, reconhece. “Continuo bastante otimista até porque, no curto prazo, até pode haver aqui um efeito de atração de alguns projetos internacionais. Portugal continua a ter aqui este posicionamento de ser um porto seguro”, diz.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Startups nacionais atraem 448 milhões de euros no último ano. Mais do dobro que em 2023
{{ noCommentsLabel }}