Moradores e comerciantes de Loures com o “coração nas mãos” sempre que chove
O concelho de Loures continua por resolver as possíveis consequências de inundações após momentos de forte precipitação, queixam-se comerciantes locais.
Pouco mais de dois anos depois das cheias que assolaram a região de Lisboa, moradores e comerciantes do concelho de Loures dizem continuar com o “coração nas mãos” sempre que chove, temendo novo cenário de “destruição”.
Vários distritos do continente foram afetados por chuvas fortes entre o final de 2022 e o início de 2023, com grandes inundações, estragos em estradas, comércio e habitações e dezenas de desalojados.
Na região de Lisboa, a chuva caiu com mais incidência nos dias 8 e 13 de dezembro. Além da capital, foram afetados com maior gravidade os municípios de Loures, Odivelas e Oeiras, onde se registou uma morte na localidade de Algés.
No concelho de Loures, a União de Freguesias de Santo António dos Cavaleiros e Frielas foi a mais afetada pelas intempéries, em particular a zona da Flamenga, junto à Estrada Nacional 8 (EN8).
Pouco mais de dois anos depois destas cheias, alguns comerciantes e moradores ouvidos pela agência Lusa admitiram ainda ficar com o “coração nas mãos” sempre que chove mais do que previsto.
“Temos sempre muito receio, quando não há pausas na chuva. A gente fica sempre alerta”, disse à Lusa Catarina Ferreirinha, proprietária da pastelaria Didu, um dos estabelecimentos comerciais afetados pelas inundações de dezembro de 2022.
Relativamente aos estragos, a comerciante contou que a intempérie originou estragos na parte elétrica e nas máquinas.
“A água entrou aqui duas vezes. Aquilo que verifico desde essas cheias é que a Câmara de Loures tem feito mais intervenções aqui. Quando chove mais há logo uma equipa que vem limpar os esgotos. Vamos ver como as coisas vão correr, mas estamos sempre com o coração nas mãos”, afirmou.
Uns metros mais à frente, já a chegar à rotunda da Ponte de Frielas, a proprietária do restaurante o Campino disse à Lusa que continua ainda a “fazer contas à vida”, uma vez que as cheias trouxeram um prejuízo de 60 mil euros.
“Primeiro veio a pandemia e depois as duas cheias. Foram 60 mil euros de prejuízo e a Câmara [de Loures] deu-me três mil euros. Balcões e comida foram para o lixo. Ficamos sem fogão e frigorífico. Por isso, cada vez que chove tenho medo”, afirmou Dulce Batista.
A comerciante admitiu mesmo que irá entregar o negócio, caso ocorra uma situação semelhante à de 2022.
“Ainda estamos a recuperar. Se houver outra cheia eu entrego a casa. Não aguento mais”, sublinhou.
O sentimento de angústia é partilhado também por moradores ouvidos pela Lusa, que relembraram o historial de cheias desta zona do concelho de Loures.
“Infelizmente, sempre que chove, a água acaba por galgar e inundar tudo. Em 2022 lembro-me que aqui parecia um cenário de terror, com carros e muito lixo a boiar. É uma imagem que custa apagar. Sempre que chove o coração bate mais forte”, apontou Rute Mendonça.
Também Emídio Ferreira, morador em Santo António dos Cavaleiros recordou os momentos de angústia vividos em dezembro de 2022, mas preferiu deixar uma mensagem mais otimista para o futuro.
“Tenho visto que a Câmara tem feito obras e notei melhorias. Claro que sempre que chove mais um bocadinho é uma aflição, mas quero acreditar que não vai voltar a ser como antes”, ressalvou.
Contactado pela Lusa, o presidente da União de Freguesias de Santo António dos Cavaleiros e Frielas, Jorge Silva (PS), reconheceu que as cheias de 2022 “impactaram toda a comunidade” e por isso percebe a apreensão dos comerciantes e dos moradores.
“Eu próprio também tenho sempre o coração nas mãos, mas estamos a falar de um acontecimento meteorológico que foi extraordinário. O trabalho que temos vindo a fazer vai no sentido de aumentar o sentimento de segurança”, sublinhou.
Jorge Silva referiu que têm sido realizadas intervenções no sentido de minimizar o impacto de futuras cheias, como a intervenção na limpeza das linhas de água das ribeiros ou o fortalecimento das motas do rio.
No entanto, o autarca ressalvou que muitos dos problemas verificados naquela zona “poderão ser bastante mitigados” no futuro com a construção de uma bacia de retenção.
Segundo explicou Jorge Silva, esse projeto, sem data prevista, foi discutido entre a Câmara Municipal de Loures e a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), encontrando-se neste momento “em fase de estudo e projeto”.
“Nós nunca poderemos dizer, isso seria enganar as pessoas, que o problema das cheias ficará resolvido. O que nós temos de fazer é todos os esforços e cumprir tudo para mitigar e ganhar resiliência nesta adversidade”, atestou.
No concelho de Loures, o prejuízo global das cheias de 2022 foi de cerca de 22 milhões de euros.
Na sequência da candidatura a fundos estatais, resultou a atribuição de uma verba de 9,5 milhões de euros para este município fazer face aos prejuízos resultantes da intempérie.
A Câmara de Loures disponibilizou um apoio a 127 famílias (180 mil euros) e a 38 empresas (250 mil euros), segundo dados avançados pela autarquia à Lusa em 2023.
Entretanto, a Área Metropolitana de Lisboa (AML) informou na sexta-feira que vai receber até 400 mil euros do Fundo Ambiental para desenvolver um plano de intervenções de redução dos riscos de cheias e inundações nos locais mais críticos das bacias hidrográficas intermunicipais.
O desenvolvimento do plano de intervenções baseia-se num protocolo de colaboração técnica e financeira entre a AML e a APA, que foi aprovado na sexta-feira pelo Conselho Metropolitano de Lisboa, o órgão decisor metropolitano, constituído por todos os presidentes das 18 Câmaras da AML.
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