BRANDS' TRABALHO IA: não podes combatê-la. Junta-te a ela!

  • BRANDS' TRABALHO
  • 3 Fevereiro 2025

No contexto da apresentação do estudo salarial no mercado tecnológico, a Damia Group Portugal juntou gestores de empresas que escolheram Portugal para os seus Tech Hubs para discutir o futuro do setor

A Damia Group Portugal, que opera no setor do recrutamento de talento tecnológico, apresentou, a 30 de janeiro, a mais recente edição do seu estudo anual, o HTTP: Hiring Tech Talent in Portugal e aproveitou o momento para juntar um painel composto por cinco líderes do setor. Além dos resultados do estudo, foi também discutido um dos temas mais prementes da atualidade: a Inteligência Artificial e os seus efeitos, imediatos e futuros, nas empresas de tecnologia. A conversa, moderada por Cláudio Menezes, CEO da Damia Group Portugal, e por Simon Brand, Data Science Manager da SIXT, abordou exaustivamente este grande cisma – irá a IA substituir, ou não, os programadores informáticos?

Os convidados começaram por apresentar diferentes perspetivas sobre o impacto do estudo HTTP 2025, a cuja apresentação tinham assistido momentos antes, e de como este se alinha com a realidade do mercado e contextos atuais.

Cláudio Menezes, CEO da Damia Group Portugal

Pedro Torres, Senior Director de Software Engineering da Salsify, unicórnio norte-americano que escolheu Lisboa para o seu primeiro escritório europeu, elogiou a transparência, credibilidade e rigor do estudo, destacando que revela que Portugal «não é um país barato, mas que possui talentos de classe mundial e cost-effective». O responsável destacou ainda a revelação de que os salários nas tecnológicas começaram a subir, contrastando com os salários baixos que se praticavam neste setor no início dos anos 2000, em Portugal, e assinalou esta mesma mudança na tendência do mercado de trabalho.

O painel dedicou-se, depois, às diferentes abordagens das empresas em relação às políticas de escritório pós-COVID. Stefanie Beckmann, co-fundadora e Managing Director da 7.1 Tech Hub no Porto, o braço tecnológico do grupo alemão de media ProSiebenSat.1 Media, partilhou que, no seu hub, seguem um modelo de trabalho flexível, exigindo 90 dias de trabalho presencial por ano, ficando os restantes dias sujeitos às preferências dos colaboradores, destacando, no entanto, que a realização regular de eventos de qualidade na empresa é altamente apreciada e incentiva a presença nos escritórios.

Rui Gramacho, VP de R&D Europa da norueguesa Vizrt, líder mundial em soluções de produção para a indústria de Media e transmissão de conteúdos, que também elegeu Portugal para o seu Tech Hub, revelou que a abordagem varia conforme a cultura dos países onde a empresa se encontra. Nos países nórdicos, por exemplo, o trabalho é baseado no escritório, enquanto em Portugal é totalmente remoto, com apoio aos colaboradores que precisem de um espaço.

Na Salsify, Pedro Torres partilhou que a política não mudou após a COVID-19. As pessoas podem escolher entre trabalhar remotamente ou ir aos escritórios em Lisboa e em Boston. A flexibilidade é total.

Tempos difíceis: como a Airbus Portugal recrutou em Portugal logo após a pandemia

Quanto aos grandes desafios de recrutamento enfrentados, um dos temas da noite, destacou-se o caso da Airbus Portugal, representada no painel pelo seu Head of Operations, Marc Braun, que tem a seu cargo mais de 250 engenheiros do Tech Hub português. A Airbus contratou mais de mil pessoas em pouco mais de três anos e o segredo, para este responsável, foi «humildade e aprendizagem, frequentando muitos eventos de recrutamento como este». Evitar erros e elaborar descrições de trabalho claras foram elementos essenciais nos primeiros tempos. Tendo em conta que os passos iniciais de recrutamento foram dados logo a seguir à pandemia, a Airbus enfrentou desafios pesados, como o desconhecimento do mercado sobre a empresa em Portugal e as dúvidas sobre a indústria da aviação que os anos de COVID 19 suscitaram. Marc Braun evidenciou também «a necessidade de uma marca forte e de uma boa cultura para atrair talentos» elementos que, segundo o responsável, não faltam à sua empresa. «Atualmente, o esforço de recrutamento é menor, pois as pessoas já nos conhecem bem, o que facilita a atração de novos talentos», referiu.

Portugal, porto seguro para os Tech Hubs

O painel debruçou-se, de seguida, na experiência dos gestores convidados ao instalaram os seus Tech Hubs em Portugal.

Timo Steinbrenner, VP de Software Engineering da SIXT, que viajou de Munique para este evento e que tem a seu cargo mais de 300 engenheiros de software, revelou que, tal como Marc Braun, para constituir a sua equipa em Portugal, teve de participar em muitos eventos de recrutamento em vários países, mas que foi em Portugal que encontrou «cultura e talento adequados à marca». Enfrentados e corrigidos os erros iniciais, uma seleção cuidadosa e uma comunicação eficaz com a equipa nuclear permitiram poder, hoje, partilhar «uma história de sucesso».

Timo Steinbrenner, VP de Software Engineering da SIXT

No caso da 7.1 Tech Hub, Stefanie Beckmann destacou que o processo foi (e ainda é) «trabalhoso, mas divertido», e que um dos «segredos» foi terem apostado no envolvimento das pessoas e obter as suas opiniões e o seu input para entender como as coisas funcionavam localmente. «No início», relatou, «fizemos muitas perguntas e demos grande atenção aos detalhes».

Já Pedro Torres frisou a importância de «ter um bom parceiro de recrutamento, como a Damia», a que recorreu em ocasiões anteriores, para ajudar a escalar no novo mercado. «Um bom parceiro é crucial para introduzir e estabelecer a empresa num mercado onde não é conhecida».

Profissionais portugueses vs resto do mundo: melhores ou piores?

Os convidados da Damia para este debate revelaram-se unânimes. Habituados a recrutar e a lidar com equipas multinacionais, concordam que os colaboradores portugueses são tão qualificados quanto os de outros países, apresentando um nível técnico e mindset semelhantes.

Para Pedro Torres, «os profissionais de engenharia formados em Portugal são comparáveis aos dos EUA, Alemanha ou Países Baixos».

Stefanie Beckman acredita que a principal diferença nos é favorável: «os Portugueses falam muito bem inglês», algo que os distingue dos espanhóis, dos italianos ou dos gregos, tendo sido essa, revelou, uma das razões que levaram a 7.1 a instalar-se em Portugal.

Rui Gramacho apontou o dinamismo como fator diferenciador. «Portugal tem muitas startups e uma cultura aberta à inovação, o que o torna um ambiente dinâmico para negócios», referiu.

Partindo de uma perspetiva concorrencial, Pedro Torres lembrou ainda que a ausência de grandes empresas tech como uma Google, uma Uber ou um Airbnb, em território português, permite que empresas tecnológicas menores ou menos conhecidas tenham mais facilidade em atrair talentos, sem concorrência de salários impossíveis de igualar, fator que torna o país ainda mais interessante neste contexto.

Empresas não estão a substituir equipas por IA, mas sim a usá-la para aumentar a eficiência dos colaboradores

O fantasma da substituição iminente de pessoas por máquinas parece, por ora, adormecido. Ainda que todos os convidados do painel concordem que a Inteligência Artificial é incontornável, diferentes perspetivas foram abordadas no debate promovido pela Damia.

«A IA é uma ferramenta para potenciar as equipas, não para substituir pessoas. O foco está em melhorar a produtividade sem cortes de postos de trabalho.» Quem o diz é Pedro Torres, da Salsify. Na mesma linha, Rui Gramacho, afirmou que na Vizrt «a IA é há muito utilizada em conteúdos televisivos de desporto», mas que do ponto de vista das equipas, a abordagem é sobretudo «explorar as melhores ferramentas para maximizar o impacto e os resultados».

Pedro Torres, Senior Director de Software Engineering da Salsify

Claramente visto como complemento, e não como substituição, ficou, no entanto, vincada a ideia de que a adoção da Inteligência Artificial se fará sentir mais depressa nuns contextos do que noutros. Um desses é, inegavelmente, entre os gestores intermédios (middle management). Pareceu reunir consenso no painel de que o papel destes profissionais continuará relevante se conseguir ser gradualmente mais estratégico e humano. Foi Simon Brand, da Sixt, no papel de co-moderador, que promoveu uma conversa mais aprofundada sobre esta polémica.

«Se os gestores intermédios forem apenas operacionais, podem estar em risco, pois a IA lida bem com dados e processos. Mas se assumirem um papel estratégico e forem “o elemento humano do processo”, continuam valiosos, já que a IA não toma decisões nem assume riscos».

Para Pedro Torres, outros profissionais que «podem ser mais afetados por esta onda são os IC júniores», referindo-se aos colaboradores individuais sem funções de gestão, uma vez que as empresas podem optar por soluções mais baratas que a IA proporciona. Um pouco contra a corrente, o mesmo responsável referiu que os middle managers são fundamentais para o ambiente de trabalho e para a retenção de talento pois, mesmo que a tecnologia avance, ainda existe um enorme risco de se confiar cegamente em máquinas. A respeito deste tema, Rui Gramacho levantou a questão de accountability: «se algo falhar, quem assume a responsabilidade: a máquina ou o ambiente em que opera?», questionou.

"A IA ajuda na escrita, especialmente para quem não tem o inglês como língua materna. Ferramentas como Grammarly garantem um tom adequado e reduzem fricções na comunicação digital, tornando as interações mais eficazes”

Pedro Torres, Senior Director de Software Engineering da Salsify

A fechar, foram partilhados vários exemplos de como a IA pode ser uma valiosa ajuda. Para Pedro Torres, «a IA ajuda na escrita, especialmente para quem não tem o inglês como língua materna. Ferramentas como Grammarly garantem um tom adequado e reduzem fricções na comunicação digital, tornando as interações mais eficazes», referiu.

No caso da Vizrt, Rui Gramacho partilhou que a empresa implementou uma ferramenta (Jellyfish) para recolher dados sobre produtividade, permitindo ajustes rápidos sem penalizar indivíduos. A IA, sublinhou, «ajuda a entender melhor como as equipas trabalham».

O papel da IA na otimização da gestão de equipas grandes reuniu, aliás, concordância de outros membros do painel, sendo que, no computo geral, a IA parece ser vista como um recurso para melhorar a eficiência e a colaboração, não apenas para reduzir custos. As empresas podem adotar a IA para impulsionar a inovação e melhorar a eficiência, especialmente em tarefas administrativas.

Marc Braun referiu que, na Airbus Portugal «há uma atitude positiva em relação à IA e à automação. Ferramentas como a Synthesia (conversão de texto para vídeo) melhoram as ações no campo da formação, enquanto outras soluções automatizam processos transacionais que antes eram manuais. «Isso permite que as equipas se foquem em tarefas mais estratégicas, como o desenvolvimento de pessoas, em vez de burocracia», reforçou, lembrando ainda que a Airbus «promove projetos piloto e discute a IA ao mais alto nível», garantindo que a empresa está preparada para essa transformação.

A mensagem de encerramento partilhada pelo painel foi de que a melhor forma de lidar com a IA é adotá-la proactivamente, experimentando novas ferramentas e mantendo-se atualizado para assegurar a relevância no mercado.

Pedro Torres acredita que «a IA não substituirá pessoas, mas deve ser usada para aumentar a produtividade» e a felicidade no trabalho. Para o responsável da Salsify, «o cenário da IA muda rapidamente – como o provou o recente caso da DeepSeek -, e os que se tornarem especialistas desde cedo terão uma grande vantagem competitiva».

A chave, acredita Rui Gramacho, «é expor as equipas a novas tendências, testar ferramentas e adotar as melhores opções» de forma pragmática. «Criar uma cultura de inovação é essencial. A empresa dedica tempo a explorar novas tecnologias e incentiva os colaboradores a acompanhar as tendências do mercado», partilhou.

Stefanie Beckman acredita que «trabalhar com tecnologia de ponta atrai talentos. Os profissionais mais bem-sucedidos são aqueles que abraçam a mudança em vez de resistir a ela».

«A IA deve ser vista não só como uma necessidade, mas como algo divertido e estimulante.», rematou Timo Steinbrenner.

O conselho geral é experimentar, adaptar-se e liderar a mudança, pois os que abraçam a IA serão os mais valorizados no futuro.

Leia aqui o artigo sobre as principais conclusões do estudo HTTP: Hiring Tech Talent in Portugal

O relatório “HTTP: Hiring Tech Talent in Portugal” está disponível para download no site da Damia Group Portugal.

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