BRANDS' TRABALHO Salários altos, regresso ao escritório e Inteligência Artificial para manter competitividade
Estas são as tendências reveladas no estudo anual “HTTP 2025”, realizado pela Damia Group Portugal, que orienta empresas e candidatos do setor tecnológico nas suas escolhas.
A Damia Group Portugal, que opera no setor do recrutamento de talento tecnológico, revelou esta semana a mais recente edição do seu estudo anual, o “HTTP: Hiring Tech Talent in Portugal”. A apresentação realizou-se na quinta-feira, 30 de janeiro, na Factory Lisbon, em Lisboa, no tech hub da SIXT, parceira da Damia. Media partner da Damia nesta apresentação, o ECO acompanhou o evento e recolheu as principais conclusões.
Numa primeira intervenção de boas-vindas, e perante uma plateia com mais de 160 pessoas, na sua maioria profissionais da área da tecnologia e de Recursos Humanos, Cláudio Menezes, CEO da Damia Group Portugal sublinhou a relevância deste benchmark para a orientação das empresas que procuram talento tecnológico e que precisam saber o que é necessário para serem atrativas, assim como para os candidatos, que beneficiam de «informação mais transparente para tomarem decisões mais informadas».
A apresentação da edição de 2025 do estudo salarial do mercado tecnológico português, uma análise detalhada sobre tendências de mercado, benchmarks salariais e as competências mais procuradas no setor tecnológico português para 2025, coube a duas especialistas de Recrutamento Tech da Damia Group Portugal – Alexandra Teixeira e Ângela Lopes.
A base do estudo apresentado assenta nas expetativas salariais de mais de cinco mil candidatos, partilhadas em entrevistas para vagas reais, realizadas nos últimos sete anos. A maioria dos inquiridos são developers sénior de backend, ou seja, profissionais que desenvolvem a parte “invisível” do software, embora o espectro abarque todos os perfis de profissionais desta área.
Portugal continua a atrair investimentos significativos no setor tecnológico
Já sem contar com os efeitos da pandemia, o contexto em causa é, agora, a clara instabilidade geopolítica que afeta a economia mundial. Perante estas condições, o mercado tecnológico português teve de se adaptar. No relatório apresentado pode ler-se que Portugal continua «a atrair tecnologia», que «novos tech hubs se estabeleceram no país» e que «as empresas anteriormente estabelecidas tiveram de equilibrar os seus orçamentos com investimentos estratégicos no desenvolvimento de IT e das suas operações em Portugal».
O estudo destaca, também, que as regiões de Lisboa e Porto concentram a maior parte do talento nacional mas que cidades como Braga, Aveiro e Faro têm registado um crescimento consistente na atração de profissionais de tecnologia. Este movimento é acompanhado pela consolidação de modelos de trabalho híbridos, agora considerados a norma em startups e empresas de médio porte, enquanto as maiores empresas começam a implementar políticas mais voltadas para o regresso ao escritório.
Os resultados do “HTTP 2025” demonstram um mercado em evolução e fortemente competitivo, onde os candidatos mantêm o controlo sobre as dinâmicas de contratação. As tendências salariais apontam para um crescimento generalizado, com posições como engenheiros de backend a atingirem salários anuais de até 110 mil euros, e líderes de engenharia a superarem os 150 mil euros. O relatório agora disponibilizado compreende uma completa tabela na qual é possível consultar os salários mínimos e máximos de perto de 30 categorias profissionais nas empresas de tecnologia em Portugal.
«Corrida de linguagens» em alta
No que toca às diversas tecnologias e frameworks mais utilizadas no mercado, e aos profissionais que com elas trabalham, o relatório apresentado revela uma verdadeira corrida. Ficamos a par, por exemplo, de como tecnologias como Python (para developers backend e fullstack) e frameworks como React (frontend) continuam a liderar as preferências do mercado, ao passo que áreas emergentes como a Inteligência Artificial e Machine Learning (IA/ML) ganham terreno, com um aumento exponencial na procura por especialistas em NLP e engenheiros de modelos de larga escala.
O estudo revela ainda que a procura por developers Java continua estável e a tendência salarial está de acordo com a pequena descida observada nos últimos dois anos. Apesar do congelamento das contratações e dos despedimentos que afetaram a função, continua a ser uma excelente opção de carreira, com quase 30% de quota de procura no mercado. Ainda assim, a procura de programadores C# (C-Sharp, da Microsoft) continua a ser elevada e tem-se mantido estável ao longo dos anos. No entanto, devido às recentes demissões em grandes empresas e ao congelamento de contratações em todo o mercado, houve maior disponibilidade de candidatos, o que resultou numa diminuição considerável das médias salariais.
Para as especialistas de recrutamento da Damia Group, questionadas durante a apresentação, a maior surpresa do estudo acabou por ser a tendência para o aumento do salário de programadores frontend, apesar da menor procura pelos mesmos, mas, também, o crescimento do PHP (Hypertext Preprocessor), entre os developers de fullstack (engenheiros que trabalham Backend e Frontend), linguagem que, apesar dos rumores sobre o seu desaparecimento, continua a ter uma presença significativa no desenvolvimento web, assistindo-se a um aumento da sua procura no mercado.
O estudo agora apresentado fornece dados relativos à procura por profissionais que operam nos já mencionados backend, frontend, ou fullstack, mas, também em mobile e nos domínios de QA (Quality Asurance), Devops (Development and Operations) e SRE (Site Reliability Engineers). Tanto os recrutadores como os próprios candidatos poderão aqui consultar facilmente as principais tendências de salários e de procura e disponibilidade de talento, cruzadas com indicadores relativos a profissionais a operar especificamente com as principais linguagens de programação, frameworks (estruturas) e libraries (Bibliotecas, coleções de recursos como JavaScript, Python ou C#).
Técnicos de Inteligência Artificial equiparados aos engenheiros que lideraram ascensão das tecnologias web e móveis.
Como era de esperar, o estudo deu grande destaque à Inteligência Artificial, evidenciando que as funções neste domínio e no do Machine Learning há muito que deixaram de ser apenas «nice to have», sendo, antes, essenciais para as empresas se manterem competitivas. Os profissionais nestas áreas estão a assumir papeis semelhantes ao que os engenheiros de backend desempenharam na ascensão das tecnologias web e móveis, na década de 2000. Uma das conclusões do “HTTP 2025” é clara: «As empresas que ignoram as estratégias de IA arriscam-se a ficar para trás em termos de inovação, experiência do utilizador e eficiência operacional.»
Neste contexto, sublinhou-se o papel dos Data Scientists, cujas funções estão a mudar da análise tradicional para modelos preditivos e prescritivos orientados para a IA, e dos especialistas em processamento de linguagem natural (PNL) que, por sua vez, estão a evoluir da análise básica de texto para a criação de IA de conversação, sistemas de análise de sentimentos e interfaces de voz.
Benefícios: semanas reduzidas e mais dias a trabalhar de casa agradam.
Através das entrevistas à amostra de candidatos inquirida foi possível percecionar a importância de oferecer benefícios competitivos para atrair e reter os melhores talentos. Vantagens como semanas de trabalho reduzidas, seguros de saúde privados, flexibilidade laboral e programas de formação contínua foram destacados como fatores decisivos para profissionais altamente qualificados. Além dos benefícios habituais, o estudo menciona ainda os planos de pensões, raros até agora entre nós, como uma das boas práticas das empresas de tecnologia para com os seus colaboradores, apresentando-se como forma de garantir um complemento no momento da reforma.
«HTTP2025 apoia todas as partes a alcançar o seu máximo potencial»
A propósito do estudo apresentado, Cláudio Menezes, CEO da Damia Group Portugal, referiu que «O HTTP 2025 é mais do que um relatório. É uma bússola que orienta empresas e candidatos num mercado em constante evolução. O nosso compromisso é promover transparência e apoiar todas as partes envolvidas a alcançar o seu máximo potencial». Numa entrevista recente ao ECO, o mesmo responsável havia já destacado o impacto crescente que este Salaries Benchmark tem tido no setor tecnológico em Portugal, algo que ficou claro pela forma como a ele se referiram os gestores participantes no painel de debate que animou a segunda parte do evento aqui relatado (leia aqui as principais conclusões do painel).
De acordo com a empresa, os líderes de RH e Tecnologia com que a Damia interage têm vindo a destacar a relevância deste documento para apurar as dificuldades, bem conhecidas, de quem recruta talento tecnológico e de quem procura construir equipas altamente qualificadas, num contexto muito competitivo onde, muitas vezes, não há uma visão clara por onde começar para se encontrar as pessoas certas. Mais do que revelar quais os salários praticados no mercado, o estudo procura responder a uma questão bem pertinente: «quanto é que as empresas precisam de pagar ou o que têm de fazer para serem relevantes e captar o melhor talento».
Modelo de Trabalho: híbrido parece ser a regra, mas escritório ganha força
Recorrendo a dados fornecidos pelo Ministério do Trabalho, o estudo “HTTP 2025” revela que o trabalho totalmente remoto está a perder força. O que começou por ser uma tendência trazida por empresas multinacionais com grandes equipas no escritório, a verdade é que agora está a tornar-se mais difícil encontrar empregos totalmente remotos. O híbrido parece ser a regra, mas com maior tendência para o regresso ao escritório. O estudo menciona, ainda, que em 2024 assistiu-se a várias políticas abruptas de regresso ao modelo presencial. Espera-se, assim, que, neste início de 2025, muitas empresas adotem políticas mais claras e restritivas relativamente ao trabalho remoto e que muitas outras se alinhem com a tendência.
No entanto, os contratos de trabalho que incluem o exercício de funções remotas aumentaram 30%, o quarto aumento consecutivo, particularmente em empregos relacionados com TI e Consultoria, que representam 36% do aumento global.
O modelo de trabalho híbrido está, assim, a caminho de se tornar o novo normal na indústria tecnológica.
O relatório “HTTP: Hiring Tech Talent in Portugal” está disponível para download no site da Damia Group Portugal.
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