Um em cada cinco trabalhadores portugueses faz teletrabalho, a maioria em regime híbrido

Quase 1,1 milhões de trabalhadores portugueses exerceram as suas funções em casa com recurso a tecnologia no último trimestre de 2024 (ou seja, em teletrabalho). É uma subida em cadeia de 7%.

Se durante a pandemia o teletrabalho chegou a ser ponderado como o modelo de trabalho do futuro, hoje existem dúvidas quanto a essa perspetiva. Amazon, JPMorgan e Tesla são algumas das empresas (norte-americanas) que decidiram acabar com o trabalho remoto e impor um regresso ao escritório a 100%, contra a vontade de muitos trabalhadores. Pelo contrário, em Portugal, segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), o trabalho a partir de casa cresceu em 2024. A maioria dos trabalhadores que trabalham à distância está em regime híbrido, isto é, com parte do trabalho em regime presencial e outra parte em teletrabalho.

Segundo o destaque publicado esta semana pelo gabinete de estatísticas, havia 5,1 milhões de empregados em Portugal no último trimestre de 2024, dos quais 21,5% indicaram ter trabalho em casa. Em causa estão 1,1 milhões de pessoas, mais 86 mil do que no trimestre anterior, de acordo com as contas do ECO.

Entre quem trabalha à distância, a maioria (95,7%) está em teletrabalho, mostram os números do INE. Isto é, utilizam as tecnologias de informação e comunicação para desempenhar as suas funções de modo remoto. E entre o terceiro e o quarto trimestre de 2024, houve mais 73,3 mil trabalhadores nessa situação (em teletrabalho), o correspondente a uma subida de cerca de 7%.

“Os dados do INE reforçam que o teletrabalho veio para ficar, nomeadamente numa altura em que os colaboradores exigem maior flexibilidade“, salienta a empresa de recursos humanos Randstad Portugal, em reação a estes números.

Híbrido cresce e domina entre modalidades remotas

Há diferentes modelos de trabalho à distância. Segundo o INE, entre os empregados que trabalharam em casa nos últimos três meses de 2024, 23,7% fizeram-no sempre, 37,9% fizeram-no regularmente mediante um sistema híbrido que concilia o trabalho presencial e em casa, 15,6% fizeram-no apenas pontualmente e 22,% fizeram-no fora do horário de trabalho. Ou seja, o regime híbrido foi o mais comum.

Além disso, esse foi também o modelo de trabalho remoto que mais cresceu no fim de 2024, tanto em comparação com o trimestre anterior como com o mesmo trimestre de 2023. Em cadeia, o salto foi de 40,9 mil trabalhadores, enquanto em termos homólogos houve uma subida de quase 81,6 mil empregados.

“Entre os empregados que indicaram trabalhar regularmente num sistema híbrido, a combinação mais comum foi a que conjuga alguns dias por semana em casa todas as semanas (74,3%; 310,9 mil indivíduos), tendo sido igualmente a combinação que registou a maior variação trimestral (mais 24,2 mil pessoas) e homóloga (mais 65,4 mil pessoas)“, sublinha o INE, e confirma o gráfico abaixo.

Híbrido com dias remotos todas as semanas é o mais popular

Fonte: INE

Em média, os trabalhadores que exercem o sistema híbrido ficam em casa três dias por semana, mostra ainda o destaque do gabinete de estatísticas esta semana.

A propósito deste predomínio do regime híbrido, numa análise recente da empresa de recursos humanos Hays ao mercado de trabalho, mais de metade dos 900 empregadores ouvidos garantiam praticar um regime híbrido com pelo menos um dia de trabalho remoto por semana.

O regime híbrido tem sido apontado por vários estudos como vantajoso, nomeadamente ao nível do bem-estar dos trabalhadores. Um estudo da empresa de recursos humanos ManpowerGroup revelava que mais de oito em cada dez dos que trabalham em regime híbrido (83%) consideram-se realizados com os seus empregos. Entre os trabalhadores completamente remotos (80%) e os trabalhadores presenciais (79%) esse sentimento é mais fraco.

Também no que diz respeito ao índice de bem-estar, os trabalhadores que exercem as suas funções em modelo híbrido ou remoto têm melhores pontuações. E, “contrariamente à perceção de que o alinhamento com os valores e propósito da empresa é maior nos modelos presenciais”, são os trabalhadores híbridos ou remotos que conseguem uma melhor classificação neste indicador.

Porém, segundo esse mesmo estudo, o sentimento de segurança no emprego atual é superior para os trabalhadores em modelos presenciais e os trabalhadores nos regimes inovadores têm “uma maior propensão para mudar de emprego nos próximos seis meses“.

2025 não inverte tendência?

2025 será o ano em que Portugal seguirá a tendência norte-americana e verá o regime encolher? No referido estudo da Hays, quanto ao ano que acaba de arrancar, 85% dos inquiridos indicavam pretender manter o modelo, o que sinaliza que em Portugal o modelo híbrido deverá manter a sua expressão atual.

Aliás, entre os inquiridos, só 9% dos empregadores adiantavam que os trabalhadores terão de passar mais tempo em trabalho presencial (como mostra o gráfico abaixo).

Em outubro, quando foi conhecida a decisão da Amazon de eliminar o teletrabalho, o ECO já tinha ouvido várias vozes sobre o que estaria no horizonte para Portugal e os sinais já eram de continuação do regime híbrido (pelo menos, por agora).

Por exemplo, as investigadoras Ana Alves da Silva e Eugénia Pires, do Laboratório Colaborativo para o Trabalho, Emprego e Proteção Social (CoLabor), referiram que “a tendência atual é não só a da consolidação do recurso ao teletrabalho como até de um ligeiro crescimento”.

E entre os representantes dos empresários, o diretor-geral da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), Rafael Rocha, explicava que, “o que se tem verificado, quer em Portugal, quer internacionalmente, é que algumas empresas, após a experiência acumulada, estão a readaptar os seus modelos, passando sobretudo para modelos híbridos”.

Luís Miguel Ribeiro, presidente do conselho de administração da Associação Empresarial de Portugal (AEP), sublinhava que a “decisão de reverter o teletrabalho teria influência na atratividade laboral, nomeadamente na fixação de talento, sobretudo das camadas mais jovens”.

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