Dia dos namorados. Amor é negócio que não arde e que se vê
Fiéis ao São Valentim, este ano "o mais caro de sempre", os portugueses voltam a encher os restaurantes e os hotéis, e a impulsionar o comércio de flores, chocolates, perfumes ou artigos sexuais.
Os consumidores portugueses continuam fiéis à comemoração do Dia dos Namorados. A ocasião festiva engorda o negócio da restauração, enche as camas dos hotéis com taxas de ocupação a rondar os 80%, e impulsiona igualmente a venda de chocolates, flores, perfumes e artigos sexuais. Adaptando o soneto de Luís Vaz de Camões, no São Valentim, o amor é um negócio que (não) arde e que se vê.
Este ano, por calhar a uma sexta-feira e permitir planos alargados para os dias seguintes, esta dinâmica económica ainda sai mais reforçada. O presidente da Associação Portuguesa de Hotelaria, Restauração e Turismo (APHORT) frisa que “esta coincidência dá aos hotéis a possibilidade de trabalharem a data não apenas como uma noite especial, mas sim como um fim de semana prolongado, criando programas mais completos e experiências imersivas”.
Em declarações ao ECO, Rodrigo Pinto Barros dá ainda conta que “há hotéis que já registam taxas de ocupação próximas dos 80%”, que diz ser “um número bastante positivo para esta altura do ano, que tende a ser mais desafiante”.
Há hotéis que já registam taxas de ocupação próximas dos 80%. É um número bastante positivo para esta altura do ano, que tende a ser mais desafiante.
Com a possibilidade de uma escapadinha romântica mais alargada, o porta-voz da Associação Portuguesa de Hotelaria, Restauração e Turismo realça que existe uma maior procura por “destinos fora dos grandes centros urbanos” e em “hotéis tradicionalmente menos procurados.”
À semelhança da hotelaria, também a restauração espera engordar os lucros no Dia dos Namorados. O presidente da Associação Nacional de Restaurantes (PRo.VAR), Daniel Serra, fala num “dia importantíssimo para o setor” e está convencido que será um período “excecional para a restauração, por estar colado ao fim de semana”. O responsável indica que “os restaurantes que funcionam melhor neste dia são aqueles que têm um target entre os 20 e os 40 anos”.
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Mesmo não havendo muitas reservas, Daniel Serra acredita “que à última da hora os restaurantes vão encher“. Isto numa altura que o negócio precisa de um boost, já que os primeiros dois meses do ano não foram animadores.
O líder da PRo.VAR justifica esta quebra no arranque de 2025 como “mau tempo e os constantes avisos amarelos e laranjas, que prejudicaram severamente a procura na restauração”. A somar à “diminuição dos almoços nos restaurantes, com as pessoas a optarem novamente pelas marmitas” e pela “redução significava de jantares durante a semana”.
É um dia importantíssimo para a restauração e este ano será excecional por estar colado ao fim de semana. Os restaurantes que funcionam melhor neste dia são aqueles que têm um target entre os 20 e os 40 anos.
Além do jantar e de uma noite fora de casa, no dia de São Valentim não costumam faltar igualmente os presentes e as experiências proporcionadas à ‘cara-metade’. E existem ofertas para todos os gostos e carteiras. Entre as opções mais habituais estão as flores, sendo as rosas vermelhas as mais procuradas nesta altura do ano. Não fosse esta a cor associada ao amor e à paixão.
O vice-presidente da Associação Portuguesa de Produtores de Plantas e Flores Naturais contabiliza ao ECO que as vendas de flores neste dia representam entre 10 a 15% da faturação anual dos produtores, mesmo sendo esta uma altura em que há menos produção nacional. Rui Algarvio sublinha que este é “um dia representativo para o setor, a somar ao dia dos finados, ao dia da mulher e ao dia dos avós”.
Como a produção nacional não chega para satisfazer a procura, a quase totalidade (99%) das rosas são importadas. O vice-presidente da associação que representa o setor calcula que um ramo com 20 pés de rosas da América do Sul ronda os 30 a 35 euros, enquanto um ramo de rosas proveniente dos Países Baixos custa perto de 20 euros. Os jovens das grandes cidades são os principais compradores, atesta.
Os produtos cosméticos são outra das opções clássicas, com destaque para os perfumes, como confirma ao ECO a Associação dos Industriais de Cosmética, Perfumaria e Higiene Corporal (AIC). Fonte oficial da organização refere que as “vendas têm maior expressão nos jovens”, embora a “celebração tenha vindo a estender-se a todas as classes etárias ao longo dos anos”.
De acordo com os dados partilhados pelo marketplace e comparador de preços KuantoKusta, que fez uma análise aos artigos mais procurados durante os últimos 15 dias, os perfumes foram precisamente a categoria que registou o maior crescimento tanto nas encomendas como no valor das vendas (+51%), face às duas semanas anteriores, com o aproximar do Dia dos Namorados.
A plataforma portuguesa de e-commerce, fundada em 2005, registou igualmente um disparo de 46% nas encomendas e de 52% no valor das vendas de artigos de sexualidade na primeira metade de fevereiro, face aos 15 dias anteriores. Entre os artigos mais procurados, elencou André Duarte, diretor comercial do KuantoKusta, estão o estimulador Satisfyer Pro 2, o Clone A Willy e o masturbador Durex Play Slide & Ride.
Ainda assim, apesar de todas as campanhas publicitárias que estão na rua, em 2025 nem todos os negócios parecem estar a florescer de igual forma nesta época por causa do São Valentim. É o caso da Worten, uma das mais populares lojas de eletrónica e marketplaces digitais do país. Através de fonte oficial, a empresa do grupo Sonae diz que está “com as vendas habituais”.
Um inquérito realizado pela Odisseias comprovou que 93% dos portugueses vai oferecer presentes no Dia dos Namorados. Entre os presentes mais populares estão as viagens e estadias (66%), os almoços ou jantares num restaurante (37%) e as experiências em spa’s e espaços de bem-estar (36%). E o que gostariam de receber os 1.150 inquiridos? Estadias (74,7%) ou massagens (42%). O orçamento disponível está no intervalo entre os 50 e os 100 euros.
No entanto, para aqueles que pretendem algo mais fora do vulgar, e não oferecerem flores, chocolates, perfumes ou jantares, neste Dia dos Namorados, a plataforma financeira Trade Republic está a incentivar os utilizadores a oferecerem presentes personalizados em ações ou um ETF. Presentes que diz poderem “constituir um património a longo prazo”.
“Com a nossa funcionalidade que permite oferecer presentes, queremos inspirar as pessoas a escolher presentes que duram mais do que apenas um momento: uma ação ou um ETF é mais do que apenas um gesto de apreço – é um investimento num futuro partilhado“, diz o cofundador da Trade Republic, em comunicado. “O Dia dos Namorados é o momento perfeito para fazer um presente que cresce em valor ao longo do tempo”, completa Christian Hecker.
Adoçar e beber o “mais caro” da história
Tendo em conta que as cotações do cacau e do ouro estão a atingir máximos históricos nos mercados internacionais, com impacto até nas reservas do Banco de Portugal, a corretora XTB descreve que “este Dia dos Namorados não só será mais caro do que no ano passado, como também o mais caro de sempre“. Desde 14 de fevereiro de 2024, calcula, o cacau valorizou 68% e o ouro disparou 46%.
Se o ouro subiu de pouco mais de 2.000 dólares por onça há um ano até superar nos últimos dias os 2.900 dólares por onça, um novo máximo histórico, no caso do cacau, as doenças das árvores, as condições climatéricas e a regulamentação estão a tornar esta matéria-prima cada vez mais dispendiosa. De acordo com os dados da XTB, os preços chegaram a ultrapassar o nível de 12.000 dólares por tonelada, isto ou, o dobro do valor a que estava cotado no Dia dos Namorados do ano passado.
![Fábrica da Casa de Chocolate Arcadia - 24SET20](https://ecoonline.s3.amazonaws.com/uploads/2020/09/cropped-arcadia_7.jpg)
Algo que, porém, não parece ser suficiente para refrear o romantismo dos portugueses. Com 44 lojas espalhadas pelo país e uma equipa com mais de 420 colaboradores, o líder da Arcádia atesta que a empresa “regista sempre algumas variações positivas nas vendas neste período”. Desde o início de fevereiro, as vendas de chocolate nas lojas próprias da marca estão a registar um aumento superior a 15% face ao período homólogo”, relata Francisco Bastos.
“O Dia dos Namorados representa mais de 20% das vendas de chocolate nas lojas da Arcádia no mês de fevereiro, o que demonstra a importância desta época para o nosso negócio”, afirma o gestor, que pertence à quarta geração da empresa. Em declarações ao ECO, nota ainda que “a procura é sobretudo impulsiva, intensificando-se nos dias que antecedem o Dia dos Namorados”.
E para adoçar este dia, a histórica empresa portuense tem uma coleção “Corações” que inclui opções variadas, desde bombons recheados a formatos diferenciados e embalagens para diferentes budgets. Vende ainda cabazes especiais que combinam chocolates com outros produtos, como bolachas artesanais e vinho.
Também a Borges aproveitou para fazer uma “sugestão oficial” de três vinhos “para quem acredita que sentimentos se podem demonstrar com autenticidade, caráter e subtileza, seja num jantar a dois, num presente especial ou num simples brinde”. Ainda assim, conta a diretora de marketing da JMV – José Maria Vieira, que detém esta sociedade, deixou de fora os espumantes que tem no portefólio, incluindo o conhecido Fita Azul. É que o consumo diz que tem vindo a “aumentar significativamente, e não apenas nesta época do ano”.
“Felizmente, o consumidor já não associa o espumante exclusivamente a momentos de celebração, mas também o vê como uma excelente opção para harmonização à mesa. Isso significa que, apesar do Dia dos Namorados continuar a ser uma data relevante para as vendas, já não vemos os mesmos picos sazonais de antigamente. Tornou-se uma escolha mais frequente e versátil, sendo apreciado ao longo do ano em diversas ocasiões gastronómicas. Mas claro que continua ligado a momentos especiais”, descreve Ana Montenegro.
Fuga aos menus e convite aos solteiros
Os tempos são de mudança e esta festividade não escapa à tendência. O líder da Associação Portuguesa de Hotelaria, Restauração e Turismo (APHORT) refere que o Dia dos Namorados “deixou de ser trabalhado apenas para um segmento jovem, mas sim de uma forma transversal“. Exemplificando que “hoje, a hotelaria e a restauração apostam em experiências originais e diferenciadas, ajustadas ao posicionamento de cada estabelecimento”.
“Além das tradicionais ofertas românticas para casais, há um crescimento de propostas que incluem programas para grupos de amigos ou mesmo para solteiros que queiram assinalar a data de forma diferente“, refere Rodrigo Pinto Barros, destacando que “esta diversificação reflete uma abordagem mais criativa e inclusiva, que contribui para tornar esta época num momento de dinamização do setor”.
Há um crescimento de propostas que incluem programas para grupos de amigos ou mesmo para solteiros que queiram assinalar a data de forma diferente.
O presidente da Associação Nacional de Restaurantes (PRo.VAR) corrobora a ideia e defende que “os restaurantes estão a diminuir os menus fechados e acabam por fazer um menu com mais opções para o cliente”. Daniel Serra justifica, a este propósito, que os donos dos “restaurantes não querem limitar a escolha dos consumidores” que são cada vez mais exigentes.
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