Apoio para grandes empresas ajudou Autoeuropa a garantir novo elétrico low-cost
"Negociação para o veículo elétrico estava avançada", garantiu ao ECO o ex-ministro Costa Silva, através do Regime Contratual de Investimento da RCM 34/2023. Mas há outro regime contratual envolvido.
“Conseguimos trazer para Portugal e para a Autoeuropa a produção de um novo carro elétrico da Volkswagen”, disse o primeiro-ministro, Luís Montenegro, no dia da votação da moção de confiança, a 10 de março. Mas, que contrapartidas ofereceu Portugal para garantir a produção do elétrico low cost do construtor alemão em Palmela?
Os apoios deste tipo de investimentos nunca são públicos, porque há sempre várias geografias a concorrer entre si. Acresce que em causa está uma grande empresa que à partida não é elegível para apoios com fundos europeus de coesão, esses sim com obrigatoriedade de publicitação. Para contornar este constrangimento o Governo anterior criou um mecanismo para garantir o apoio às mesmas até 2027, o RCM34/2023, de abril desse ano. Em causa estavam 150 milhões de euros por ano a alocar ao Regime Contratual de Investimento. Mas um outro regime contratual, o RCM 49, também determinante nesta negociação, só ganhou materialidade já com Pedro Reis à frente da Economia. Quando o atual Governo, agora em gestão, tomou posse, faltava a aprovação em sede de cabimentação orçamental do regime de incentivos (RCM49) bem como aprovação do Regime de Apoio ao Investimento pela própria Comissão Europeia.
Ora, o ID. EVERY1, cujo lançamento está previsto para 2027, beneficiou deste regime, revelou ao ECO o ex-ministro da Economia, António Costa Silva. “A Autoeuropa já tinha assegurado o veículo híbrido, mas não estávamos satisfeitos. O Ministério da Economia e a Aicep reuniram com a Autoeuropa e com a Volkswagen na Alemanha e apresentámos os argumentos de Portugal, como a qualidade dos trabalhadores, para tentar vencer a concorrência das outras unidades”, explicou o antigo responsável.
O trabalho de atração do novo carro elétrico continuou a ser desenvolvido pelo atual Governo, até porque o novo investimento da VW num veículo elétrico na Autoeuropa ainda não estava assegurado (pode ler aqui). Havia nove destinos na corrida, mas Portugal venceu e a própria gestão da empresa elogiou publicamente o envolvimento da atual governação na decisão final.
A Autoeuropa já tinha assegurado o veículo híbrido, mas não estávamos satisfeitos. O Ministério da Economia e a Aicep reuniram com a Autoeuropa e com a Volkswagen na Alemanha e apresentámos os argumentos de Portugal.
“A negociação para o veículo elétrico estava avançada, com apoios previstos no âmbito do Regime Contratual de Investimento da RCM 34/2023, de 19 de abril, e também com o apoio da Agenda do PRR Drivolution em que a Autoeuropa não participa diretamente por questões relacionadas com as metas ambientais muito rigorosas impostas pela Comissão Europeia no âmbito da regulamentação Do No Significant Harm (DNSH)”, revelou António Costa Silva.
Apesar de não participar “diretamente” nesta agenda mobilizadora, que acabou por ficar com a Faurécia como líder do consórcio, a Autoeuropa “vai colaborar e testar as tecnologias desenvolvidas”, disse Costa Silva, acrescentado que a empresa “assinou uma carta de compromisso com a Agenda a 11 de dezembro de 2023”.
Mas além dos apoios previstos neste Regime Contratual de Investimento que apoia projetos que “aumentem a oferta de bens e serviços inovadores, que fomentem a procura de bens complementares noutros setores e que tenham efeitos de arrastamento em diferentes agentes económicos”, a Autoeuropa contou ainda nesta negociação com o Banco Português de Fomento.
O novo CEO da instituição, Gonçalo Regalado, revelou que o banco está “a criar em parceria, não só com a Volkswagen, mas sobretudo com o setor industrial português, uma linha para todo o ecossistema de reindustrialização portuguesa, que faz o fornecimento do automóvel, mas também de outros setores”. Na Conversa Capital da à Antena 1 e ao Jornal de Negócios, Regalado disse que esta “linha de mil milhões de euros , com uma garantia robusta”, foi mais um dos argumentos apresentados aos administradores da Volkswagen a nível global.

“Em cima disso, percebemos que a Volkswagen precisaria de um financiamento na casa dos 400 milhões de euros para ampliar a fábrica e meter lá a linha elétrica. Fizemos, em parceria com o Banco Europeu de Investimento (BEI), e também estamos agora a trabalhar com a banca nacional, para criar um sindicato bancário que permita que esses 400 milhões adicionais possam ser aportados para que façamos a transição do motor a combustão para o motor elétrico”, revelou ainda o responsável.
Com a construção do novo elétrico do grupo, a fábrica portuguesa da multinacional alemã “assegura o futuro da unidade de Setúbal de uma fábrica de nova geração da Volkswagen, e de uma enorme cadeia de valor de fornecedores nacionais, por muitos anos”, como realçou o Ministério da Economia, em comunicado a confirmar o anúncio do investimento.
Com os argumentos que Portugal pôs em cima da mesa, os nove destinos que estavam na corrida ficaram para trás (na reta final a Polónia e a Eslováquia) e a unidade de Palmela vai converter-se, como dizia o comunicado do Ministério liderado por Pedro Reis, numa “fábrica eletrificada de nova geração e a adoção de processos de produção e logísticos, bem como a assemblagem robotizada de sistemas de baterias”.
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