App no smartphone pode reduzir acidentes rodoviários em 30%

A WingDriver já está em contacto com três seguradoras para lançar o seu sistema de monitorização do condutor. A ideia são poupanças em seguros com uma app instalada num simples smartphone.

Em 2024 as seguradoras a operar em Portugal pagaram 1.341 milhões de euros em indemnizações devidas por 1,243 milhões de acidentes de viação, referem dados da Associação Portuguesa de Seguradores (APS). Pior, foram envolvidas com 35.712 pessoas em sinistros em que se verificaram danos corporais. Ainda pior, 421 pessoas morreram na sequência desses acidentes.

André Azevedo e Filipe Monteiro, fundadores do sistema de monitorização do condutor WingDriver, deram um passo para a democratização do sistema: Informação e avisos sobre a condução em tempo real num normal smartphone.

“As seguradoras são as segundas entidades mais interessadas em resolver o problema, os primeiros são os familiares da vítimas”, diz André Azevedo que, com Filipe Monteiro, fundaram a WingDriver, uma empresa tecnológica financiada de início por 2,5 milhões de dólares pela Techstars, uma das maiores aceleradoras norte-americanas, alguns business angels dos EUA, um investidor português e um italiano.

A União Europeia (UE) está já a adotar medidas que, na opinião do co-fundador da WingDriver, vão contribuir para melhorar a sinistralidade rodoviária. “A partir de 2026, novos veículos comercializados na UE serão obrigados a ter uma tecnologia como a da WingDriver, uma Driver Monitoring System”, refere André Azevedo.

Se, pelo uso generalizado desta tecnologia, a estimativa de redução de acidentes é de 30%, uma conta média grosseira poderia indicar que as seguradoras portuguesas poderiam poupar 400 milhões de euros por ano, lidar com menos 130 mortos e 10.500 feridos por ano resultantes de acidentes em Portugal.

Para esse efeito, a WingDriver desenvolveu um sistema em que a câmara selfie e a tecnologia de inteligência artificial desenvolvida emite alertas sonoros e visuais em tempo real, que ensinam o condutor que o seu comportamento é errado e que deverá ser corrigido.

“O que há de novo no WingDriver é que qualquer smartphone de 150 euros pode receber a app”, refere André Azevedo ao ECOseguros, acrescentando que “a nossa tecnologia é capaz de detetar com elevada precisão, distrações, níveis de fadiga, adormecimento, manobras bruscas como viragens, travagens e acelerações, entre outros fatores. No futuro será capaz de detetar stress, condução sob o efeito do álcool e outros segredos que temos na manga”.

Os clientes mais naturais são as empresas com soluções para gestão de frotas em que a digitalização está a trazer para o cockpit das viaturas smartphones e tablets. Logo depois as plataformas de Ride-Hailing, empresas como Uber ou Bolt que oferecem serviços de transporte de passageiros baseados nas tecnologias mobile. André Azevedo prevê que no futuro vão “estar presentes nos veículos desde a sua construção, através de parcerias com fabricantes automóveis e seus fornecedores”.

A personalização dos produtos ou serviços é uma tendência global em diversos setores. É expectável que o mesmo possa vir a acontecer também nos prémios de seguro.

André Azevedo

Co-fundador da WingDriver

As seguradoras que oferecem apólices de seguro automóvel convencionais e com apólices personalizadas são clientes obrigatórios. “A relação com as seguradoras é muito interessante, pois na realidade todas as seguradoras do mundo têm o mesmo objetivo. Elas procuram reduzir as perdas relacionadas com a sinistralidade e dar ao cliente o melhor preço para o seu seguro”, refere André Azevedo, acrescentando que “um dos grandes fatores que altera o equilíbrio é o risco percecionado pela seguradora sobre determinado condutor”.

Para o co-fundador da WingDriver “diferentes mercados como os EUA e na Inglaterra têm já disponível para o consumidor seguros baseados na performance da condução ou na quilometragem percorrida pelo veículo, chamam-lhe usage-based insurance (UBI). “Nós vimos revolucionar completamente estes UBI, pois pela primeira vez estas aplicações móveis poderão, por um lado, impactar positivamente a sinistralidade dos seus clientes e, por outro, educá-los em tempo real para melhorar a sua performance, contribuindo para uma redução do risco daquele condutor e consequentemente o seu prémio de seguro”, diz André Azevedo.

O empresário considera que o mercado dos seguros automóveis em Portugal tem características ligeiramente diferentes dos EUA e Inglaterra, mas tudo indica que irá percorrer este caminho no futuro.

“A personalização dos produtos ou serviços é uma tendência global em diversos setores. É expectável que o mesmo possa vir a acontecer também nos prémios de seguro”, avança André Azevedo, referindo ainda que “a personalização é um fator diferenciador que permitirá ganhar uma posição no mercado mais apelativa aos olhos do consumidor. Estamos já em contacto com três seguradoras em Portugal com o intuito de demonstrar a efetividade da tecnologia, para que depois possamos desenhar o futuro dos produtos de seguros em conjunto, tirando o máximo proveito do conhecimento das equipas de ambas as equipas”.

A medição do batimento cardíaco permite-nos identificar a maior causa de mortalidade mundial, paragens cardíacas, bem como detetar o nível de stress do condutor.

André Azevedo

Co-fundador da WingDriver

O avanço maior da difusão do sistema é, para os seus fundadores, ser desnecessário hardware específico para o utilizar. Com a sua adoção estimam uma redução da sinistralidade em pelo menos 30%. No entanto, como continuam em pleno crescimento, com lançamentos da nossa tecnologia em diversas regiões do planeta, Portugal, UE, EUA, Austrália, Chile e Cazaquistão ainda não conseguem “precisar o valor global ou por tipo de comportamento perigoso”.

Segundo a ANSR – Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, as vítimas mortais em acidentes rodoviários no primeiro semestre de 2024, foram, em proporção, 74,4% condutores, 14,3% peões e 11,3% passageiros. Deve ainda salientar-se que 52% dos acidentes se deram em automóveis ligeiros e 22% em motociclos ou velocípedes. Quanto a veículos de duas rodas, o sistema WingDriver apenas permite, por enquanto, detetar quando o condutor está a olhar para o smartphone.

Para André Azevedo, “a medição do batimento cardíaco permite-nos identificar a maior causa de mortalidade mundial, paragens cardíacas, bem como detetar o nível de stress do condutor”. Estas duas capacidades, prossegue, “permitirão, por exemplo efetuar uma chamada de emergência automática, ou sugerir uma alteração da playlist para músicas mais relaxantes em caso de stress”.

“Também a deteção de condução sob efeito de álcool e drogas é fundamental nos dias de hoje em qualquer região do mundo, pois não existem soluções altamente eficazes que permitam efetuar uma medição durante a condução”, conclui.

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