Pausa nas tarifas? Rumor abanou os mercados, mas era “fake news”

O que parece ter sido uma má interpretação das palavras de um conselheiro do Presidente fez as bolsas americanas sofrer fortes oscilações. Pausa nas tarifas é "fake news", assegura a Casa Branca.

Os futuros já apontavam para uma abertura em forte queda das bolsas norte-americanas, devido ao impacto das novas tarifas dos EUA. Mas ninguém poderia prever o alto nível de volatilidade que fez um dos principais índices de Wall Street passar de uma queda de 4% a uma subida equivalente em apenas poucos minutos.

Não foi imediatamente clara a razão por detrás desta inversão, que até se alastrou ao mercado das matérias-primas, levando o barril de petróleo a escalar 2%. Entretanto, começaram a circular nos meios internacionais a notícia de que Donald Trump estaria a considerar uma pausa de 90 dias na imposição das tarifas, exceto as que incidem sobre as importações com origem na China. A origem da informação era atribuída a Kevin Hasset, conselheiro económico da Casa Branca.

Ora, a Casa Branca apressou-se a desmentir a informação, assegurando tratar-se de “fake news“. E os investidores, ainda a digerir a notícia original, levaram um novo safanão. Por esta altura, a volatilidade em Wall Street estava totalmente instalada, com os índices a oscilarem entre fortes ganhos e fortes perdas.

É uma loucura absoluta, os clientes não sabem o que fazer, está tudo meio perdido.

Laurent Lamagnere

Vice-presidente executivo da AlphaValue

Um erro caro

O que aconteceu afinal? Tudo pode não ter passado de uma má interpretação de declarações do conselheiro económico da Casa Branca, Kevin Hasset, em direto na Fox News.

Questionado no programa Fox & Friends sobre se consideraria uma pausa de 90 dias nas tarifas, Hasset respondeu “yeah”, mas rapidamente acrescentou: “Eu acho que o Presidente vai decidir o que o Presidente vai decidir. Há mais de 50 países a negociar com os EUA (…)”, respondeu.

Em causa, e a motivar a pergunta, estava o apelo recente do multimilionário investidor Bill Ackman, que pediu ao Presidente dos EUA para impor uma pausa de 90 dias, de modo a “resolver a posição comercial historicamente injusta dos EUA de forma cuidadosa e estratégica”.

Este fenómeno ilustra bem a atual sensibilidade dos investidores ao tema das tarifas. “Estamos a viver momentos bastante únicos em todo o mercado. Na minha opinião, a inversão que acabámos de ver é muito sintomática de várias coisas, incluindo o nervosismo extremo que é palpável no VIX”, reagiu Andrea Tueni, head of sales trading do Saxo Banque France, citado pela Bloomberg.

“Em segundo lugar, há muita gente por aí que não quer perder o fundo do mercado. A recuperação depois da Covid está na mente de todos e muitos investidores não querem ficar de fora, o que significa que estão dispostos a correr grandes riscos. Sinceramente, não vejo o atual nível de volatilidade a diminuir de forma significativa tão cedo”, acrescentou.

Já para o vice-presidente executivo da AlphaValue em Paris, Laurent Lamagnere, esta inversão “é bastante reveladora do estado do mercado”. “É uma loucura absoluta, os clientes não sabem o que fazer, está tudo meio perdido. Mostra mesmo como tudo depende da decisão de um único homem. E quando se pensa nisso, imaginemos que é verdade, que há realmente uma trégua de 90 dias para todos os países, exceto a China — e depois? O que se faz, sabendo que a situação pode voltar a mudar a qualquer momento?”, disse, citado pela mesma agência.

Na verdade, a situação mudou. Uma hora depois do desmentido da Casa Branca, Donald Trump anunciou nas redes sociais que irá aplicar uma tarifa adicional de 50% sobre a China se Pequim não voltar atrás na retaliação anunciada na semana passada. Pelas 16h40 em Lisboa, o S&P 500 caía 2%. Mas, quando ler este texto, o cenário nas bolsas americanas JÁ poderá ser bem diferente.

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