Perdido na guerra das tarifas? Guia sobre os ataques, as retaliações e as negociações
Bruxelas quer negociar, mas avisa que está preparada para responder com “contramedidas". Tensão entre Washington e Pequim aumenta. Japão vai continuar a dialogar e Taiwan abstém-se de retaliações.
A escalada de tensão na ‘guerra’ de tarifas acentuou-se, levando a uma alta volatilidade nos mercados e a um crescente receio de uma recessão económica mundial. Entre novos passos, troca de pressões, algumas reuniões, poucos recuos, há também partes disponíveis para negociar.
Bruxelas propõe tarifas zero sobre produtos industriais
A Comissão Europeia propôs aos Estados Unidos tarifas zero sobre os produtos industriais norte-americanos. Uma proposta feita aos americanos, que não a aceitaram, mas que a presidente do executivo comunitário, Ursula von der Leyen, garante continuar em cima da mesa, porque, diz, existe disponibilidade para negociar com Washington.
“Este é um grande ponto de viragem para os EUA. No entanto, estamos prontos para negociar com os EUA. De fato, oferecemos tarifas zero para os bens industriais, como fizemos com sucesso com muitos outros parceiros comerciais. Porque a Europa está sempre pronta para um bom acordo”, disse Ursula von de Leyen numa conferência de imprensa após um encontro com o primeiro-ministro da Noruega, Jonas Gahr Støre.
A presidente da Comissão Europeia afirma que a instituição tem disponibilidade para dialogar, mas avisa que a UE está preparada para responder com “contramedidas” e defender os seus “interesses”.
O comissário europeu para o Comércio, Maroš Šefčovič, assinalou que “os EUA veem as tarifas não como uma medida tática, mas como uma medida corretiva“. Em conferência de imprensa na segunda-feira, reiterou que ainda que a UE continue aberta a negociar não irá esperar “indefinidamente”. Assim, até atingir “um progresso tangível”, a receita de Bruxelas passa por trabalhar com três objetivos: defender os interesses através de contramedidas, diversificar o comércio através de novos acordos comerciais e deter desvios comerciais prejudiciais.
Novas tarifas europeias de 25% a conjunto de produtos votada na quarta-feira
Em resposta às tarifas de aço e alumínio, após ouvir os Estados-Membros e “660 partes interessadas”, a Comissão Europeia enviou na segunda-feira aos Estados-Membros uma lista com os produtos norte-americanos aos quais irá avançar com taxas aduaneiras adicionais. Esta resposta não é ainda uma retaliação às tarifas adicionais de 20% às importações europeias anunciadas por Donald Trump na semana passada, mas sim às tarifas em vigor desde março.
A votação está marcada para quarta-feira, 9 de abril. O comissário europeu do Comércio tinha sinalizado que as medidas entrariam em vigor a 15 de abril e as restantes a partir de 15 de maio, mas de acordo com a Reuters, Bruxelas propõe que um conjunto de produtos importados dos EUA tenham taxas alfandegárias de 25% a partir de 16 de maio. Para outros produtos, a Comissão atira as contra-tarifas para o fim do ano, a partir de 1 de dezembro.
O executivo, liderado por Ursula von der Leyen, sugere direitos aduaneiros de 25% sobre o aço importado dos EUA e retira o bourbon, o vinho e os laticínios da lista original de produtos, sujeitos a retaliação, que tinha avaliado em março. A agência Reuters refere que a lista inclui agora produtos dos EUA variados, como diamantes, salsichas, nozes ou soja. O impacto deverá ser menor do que os 26 mil milhões de euros estimados inicialmente.

Task-force europeia para evitar desvio de comércio
Bruxelas assegurar estar preparada para usar todas as ferramentas disponíveis para proteger o Mercado Único da UE, os produtores da UE e os consumidores da UE. Neste sentido, anunciou que irá criar uma “task-force de vigilância da importação”. O objetivo é, segundo o Comissário para o Comércio, “rastrear fluxos de importação em tempo real”, de modo a alimentar a ação comunitária “com inteligência oportuna“.
Resposta unida ou assim-assim?
A Comissão Europeia detém a competência da política comercial da União Europeia, mas os Estados-Membros tem sido ouvidos na resposta a dar à Administração Trump, que está a revolucionar o sistema de comércio mundial. No entanto, o tom da resposta divide-se entre os países que defendem uma posição mais moderada, como Portugal, Espanha ou a Irlanda, e os que esperam uma ação firme, como França e a Alemanha.
O ministro das Finanças, Miranda Sarmento, afirmou na segunda-feira esperar que a UE responda às tarifas norte-americanas de “forma ponderada e equilibrada” e demonstrando “disponibilidade para negociar” com os Estados Unidos da América. “Não gosto da palavra retaliação, acho que a União Europeia deve responder de uma forma ponderada, de uma forma equilibrada, aproveitando aquilo que é a experiência de 2016 e 2017“, disse o governante, citado pela Lusa.
Por sua vez, vozes como a do presidente francês apelam a uma resposta mais dura. Emmanuel Macron defendeu a suspensão dos investimentos europeus nos Estados Unidos, integrado numa estratégia de resposta da UE que defende que seja “proporcional”.
China preparada para guerra comercial, Trump ameaça com tarifas de 50%
O presidente norte-americano, Donald Trump, voltou a intensificar a guerra comercial com a China, anunciando que implementará tarifas adicionais de 50% sobre produtos chineses a partir de 9 de abril de 2025, caso Pequim não retire os seus recentes aumentos tarifários de 34% até 8 de abril. A declaração foi feita através da rede social Truth Social, onde Trump criticou duramente as práticas comerciais chinesas e reafirmou a sua postura protecionista.
As medidas de Pequim incluem taxas de 34% sobre as importações americanas, restrições à exportação de minerais raros essenciais para tecnologias avançadas e a inclusão de empresas norte-americanas numa lista negra comercial.
Na manhã de segunda-feira, antes da ameaça de Donald Trump, o jornal oficial do Partido Comunista Chinês (PCC) admitia que as tarifas terão impacto na economia do gigante asiático, mas indicou que a liderança em Pequim já vinha a preparar-se para este momento.
“Embora os mercados internacionais considerem, de modo geral, que os abusos tarifários dos Estados Unidos excederam as expectativas, o Comité Central do Partido [Comunista] já tinha previsto esta nova ronda de contenção e repressão económica e comercial contra a China, estimou plenamente o seu potencial impacto e preparou planos de resposta com tempo de antecipação e reservas suficientes”, escreveu o Diário do Povo, citado pela Lusa.
Reino Unido anuncia medidas para apoiar setor automóvel
O Governo britânico acenou à sua indústria automóvel, altamente exposta ao impacto das tarifas americanas, com medidas de apoio. Entre estas inclui-se a venda de automóveis híbridos até 2035, mais cinco anos do que os automóveis com motores de gasolina e gasóleo e reduziu as multas para construtores que não cumpram as metas para comercialização de veículos elétricos.
Os EUA representam cerca de 10% do total das exportações britânicas no setor automóvel, movimentando cerca de 22,2 mil milhões de euros e empregando 152 mil pessoas no país.
O Reino Unido continua a negociar com os Estados Unidos, mas garante que só fechará um acordo caso seja benéfico para ambos.
Japão vai continuar a negociar
O Japão e os Estados Unidos vão continuar a negociar, tendo decidido nomear membros do gabinete para levarem a cabo as discussões. O primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, e Donald Trump conversaram telefonicamente e Tóquio apelou a que Washington revisse as medidas anunciadas.
O governante japonês tinha defendido perante o parlamento a necessidade de “apresentar um pacote de medidas”, o que poderia incluir a participação do Japão num projeto de gasoduto no Alasca. “Não o podemos fazer de forma fragmentada”, afirmou, segundo a AFP.
Taiwan abstém-se de impor direitos aduaneiros recíprocos às importações dos EUA
Taiwan anunciou que não tenciona impor direitos aduaneiros recíprocos às importações provenientes dos Estados Unidos, depois de Washington ter aplicado à ilha uma sobretaxa de 32%. De acordo com a Lusa, o governo taiwanês criticou as tarifas americanas como “injustas” e “muito pouco razoáveis”, mas absteve-se de ameaçar com medidas de retaliação contra o seu principal parceiro de segurança.
O plano de resposta passa antes por gastar o equivalente a 2,5 mil milhões de euros para ajudar as indústrias afetadas pelas novas tarifas americanas.
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