Suspensão das tarifas por 90 dias pode ser janela para escoar encomendas para os EUA
Muitas empresas do têxtil têm encomendas canceladas ou com pedidos de adiamento devido às tarifas impostas por Trump. Outras têm encomendas em suspenso, tal como a metalomecânica.
O anúncio do Presidente norte-americano Donald Trump de suspender por 90 dias a aplicação das taxas recíprocas a mais de 75 países, enquanto decorrem negociações comerciais, pode ser a janela de oportunidade que muitas empresas esperavam para exportar as encomendas que têm em carteira.
Na sequência dos anúncios sucessivos de imposição de tarifas e contra medidas, muitas empresas estão a ser confrontadas com o cancelamento de encomendas ou com pedidos de adiamento, avançaram ao ECO o presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), Mário Jorge Machado, e o presidente da Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e de Confecção (ANIVEC), César Araújo.
Mas há ainda uma terceira consequência que é comum ao setor têxtil, mas também à metalomecânica: “Há clientes que estão a pedir para que as encomendas não sejam expedidas já”, relatou também ao ECO Rafael Campos Pereira, vice-presidente executivo da Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal (AIMMAP).
“Os pedidos para que as encomendas não embarquem já surgem na expectativa de que o Presidente dos EUA suspenda a imposição de tarifas”, explicou Mário Jorge Machado.
O anúncio de suspensão chegou ao final do dia de quarta-feira. “Mais de 75 países chamaram representantes dos Estados Unidos, incluindo os Departamentos do Comércio, do Tesouro e o USTR [Escritório do Representante de Comércio dos EUA], para negociar uma solução para os assuntos que estão a ser discutidos em relação ao comércio, barreiras comerciais, tarifas, manipulação de moeda, e tarifas não monetárias”, escreveu Donald Trump na rede social, Truth Social.
Para estes países, que, sob uma “forte sugestão” do Chefe de Estado norte-americano, não retaliaram “de qualquer forma ou feitio contra os Estados Unidos”, Trump autorizou uma pausa de 90 dias na aplicação das tarifas e a implementação imediata de “uma tarifa recíproca substancialmente reduzida durante este período, de 10%”.
Esta pode ser a janela que se abre para as encomendas “retidas” serem despachadas. Porquê? Porque “é a data de embarque das encomendas” que dita o montante da tarifa a aplicar, explicou Mário Jorge Machado. Mas, “o nível de incerteza que se vive é tão grande que é tudo absolutamente imprevisível”, diz Rafael Campos Pereira.
A exposição direta das empresas de metalomecânica ao mercado americano é de “apenas de 800 milhões de euros, cerca de 3% das exportações do setor, mas há muitas exportações indiretas de equipamentos e componentes e peças técnicas nacionais que são incorporados em produtos finais franceses e alemães e até italianos, que são vendidos depois para os Estados Unidos, alerta o responsável da AIMMAP.
“Todos estão na expectativa”, diz César Araújo, porque “não sabemos quando e como isto acaba. E os nossos clientes não podem refletir o aumento de preços ao consumidor final que não está disposto a pagar”, diz o responsável da ANIVEC.
O cancelamento de encomendas na sequência das tarifas não é um exclusivo de toda a fileira do setor têxtil. Antes do anúncio de novas tarifas de 20% à União Europeia foram suspensas ou canceladas encomendas de vinho para o mercado norte-americano, revelou o presidente da Associação das Empresas de Vinho do Porto (AEVP). “Há várias encomendas que foram suspensas ou anuladas à espera da clarificação da situação relativamente às tarifas”, afirmou António Filipe, citado pela Lusa, referindo-se a empresas associadas da AEVP.
O responsável especificou que esta situação aconteceu depois da ameaça feita pelo Presidente Donald Trump, em meados de março, de aplicar taxas de 200% a bebidas como o vinho proveniente da União Europeia. Em 2024, foram exportados cerca de 36 milhões de euros de vinho do Porto para os EUA, o que se traduz num aumento de 6,5% comparativamente com o ano anterior.
A União Europeia aprovou esta quarta-feira, por maioria (só a Hungria votou contra), a aplicação de tarifas de 25% a produtos norte-americanos, em resposta às tarifas aplicadas pelos EUA às importações de aço e alumínio europeus. Mas insiste na “preferência por uma solução negociada com os EUA”, por isso, deixou claro que “estas contramedidas podem ser suspensas em qualquer momento, se houver um acordo com os EUA para uma solução justa e negociada”.
De acordo com a Comissão Europeia, as tarifas de 25% aplicadas às exportações dos EUA terão um valor de mais de 22 mil milhões de euros, de acordo com as importações feitas em 2024 para os países do bloco comunitário. Mas no total o valor poderá ascender aos 26 mil milhões, equiparando as consequências das tarifas que Washington aplicou aos 27 Estados-membros.
Horas mais tarde, Donald Trump anunciou a suspensão por 90 dias da aplicação das taxas a mais de 75 países, enquanto decorrem negociações comerciais. Mas aumentou para 125% as tarifas impostas aos produtos chineses, face ao aumento de 104% anunciado na terça-feira e que teve retaliação imediata de Pequim com uma taxa adicional de 50% sobre as importações oriundas dos Estados Unidos, para 84%, intensificando a guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo.
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