Oscar Herencia: “Já olhámos para aquisições em Portugal, um dia pode acontecer”
A gigante americana MetLife faz 40 anos de presença em Portugal e Oscar Herencia, diretor-geral há 15 anos, diz que a seguradora quer ficar mais de 40. E explica o futuro mais imediato.

A MetLife, então Alico, foi a primeira seguradora estrangeira a estabelecer-se em Portugal depois da revolução. Faz agora 40 anos no país e nos últimos 15 anos sempre contou com Oscar Herencia no comando, o espanhol mais português do país, dizem muitos. A seguradora é especialista em coberturas de Vida Risco e em 2024 emitiu prémios de perto de 120 milhões de euros. Com 145 pessoas em Portugal e 265 no total da Ibéria, de que o gestor é diretor-geral, a par com a vice-presidência da região EMEA, Europa, Médio Oriente e África, da gigante americana, Oscar Herencia em entrevista a ECOseguros, fala sobre o passado, presente e antevê o futuro do negócio MetLife em Portugal.
Qual o saldo de 40 anos em Portugal?
Temos 500 mil portugueses segurados, então isso para nós é uma honra. Num país de 10,5 milhões de pessoas, 500 mil confiaram em nós e os mais antigos estão connosco há 40 anos. Nós tivemos que evoluir com eles, crescer com eles, identificar as necessidades, identificar as ferramentas que precisamos, como responder-lhes, como estar aqui, manter a solvência e o reconhecimento de uma marca. Isto requer um esforço. A companhia fez uma aposta no país. A ALICO inicialmente, e depois a MetLife mantiveram uma aposta por Portugal.
A atividade tem-se dividido em seguros de Vida Risco, Acidentes Pessoais e Proteção de pagamentos, é para manter?
A estratégia da companhia está focada em risco. Nós fizemos muito negócio de poupança, ainda que hoje alguém possa tratar como de residuais, negócio que vem do passado até, numa determinada altura, a companhia decidir que não valia a pena, com o movimento dos bancos e das companhias cativas não tínhamos uma boa proposta para trazer uma mais-valia ao mercado na parte da poupança. Desacelerámos e decidimos focar em risco. E aí continuamos, a maioria do negócio vai continuar a ser risco e, apesar disso, Portugal é provavelmente, das operações melhor diversificadas da região EMEA (Europe, Middle East, Africa), em termos de produtos e de canais.
Que novos produtos podem nascer?
Abrimos as classes de seguros de assistência e danos para outros bens e por aí vamos crescer um bocadinho. Fizemos alguns produtos para animais de companhia e lançámos alguns componentes de saúde e cibersegurança, coberturas que vão ajudar-nos a fazer o nosso produto mais pessoalizado, mais perto das necessidades dos portugueses. Como o seguro de desemprego, uma cobertura que fazemos bem e em que mercado nos reconhece. Então, por aí pode crescer alguma coisa nova. Depois, dentro dos produtos de vida ou de acidentes, evoluímos os produtos de alguma maneira para que ofereçam uma melhor proposta.
É muito importante para nós entender o que preocupa os portugueses e deixar de pensar que os portugueses estão preocupados com o que nós achamos que estão preocupados.
O crescimento virá de novos segmentos de mercado?
Estamos a trabalhar um produto de proteção sénior. Estamos ainda a estudar porque é muito importante para nós entender o que preocupa os portugueses e deixar de pensar que os portugueses estão preocupados com o que nós achamos que estão preocupados. Não é assim. Pergunta-se aos autónomos, os empregados por conta própria, esperando que eles se encontrem preocupados com o final da atividade e eles não estão preocupados com isso. Estão preocupados com outras coisas como as doenças temporárias, invalidez temporária. Por isso estamos ainda a fazer a última pesquisa para aterrar dentro da moldura do produto que nós temos e lançar o produto.
E à procura da economia grisalha…
Sim, a silver economy, a economia grisalha. Em 2050 um de cada três portugueses será maior de 55 anos e aí vão surgir novas necessidades. A maneira que temos agora de envelhecer não é a de antigamente. Hoje quando chega a reforma, as pessoas têm uma quantidade de planos e de ideias para fazer no futuro que não conseguiu fazer durante a vida profissional e passa a existir uma preocupação gigante por estar protegido. Hoje um senhor ou uma senhora com 60 anos ou 65 anos, inclusive 70, quer comprar uma televisão, quer conseguir financiamento e quer proteger isso.
Nessas idades começam a surgir novas preocupações?
Evoluímos e estamos agora a desenhar um produto muito ligado às doenças degenerativas. Porque a vida mais longa cria problemas diferentes. Observando as curvas de mortalidade e de morbilidade verificamos que, antigamente, o infarto era a primeira doença para os homens. Hoje em dia não é tão diferente para homens e mulheres, mas o estilo de vida é diferente das mulheres agora. O AVC é a doença que nos está a dar alguma dor de cabeça porque cada vez é mais frequente. Tudo isso significa que já mudou a maneira que vivemos, mudou a maneira que envelhecemos, e agora, se vivemos 90 anos, 95 anos…
Outra mudança a dar resposta?
Há muitas pessoas que trabalham desde casa praticamente a semana toda. Aqueles seguros de itinerância que tínhamos antigamente, agora como que se cobrem? E se alguém tem um acidente em casa enquanto está a trabalhar, é um acidente laboral?
Os prémios da MetLife cresceram em 2024 abaixo do mercado. A que se deveu?
Houve um impacto nos juros que impactou o crédito habitação e nós temos uma linha de produto muito ligada ao crédito de habitação. Somos muito sensíveis para isso, e o mercado segurador é muito sensível para isso também. Então, há uma mudança de olhar dos consumidores para a poupança, para tentar poupar dinheiro porque a situação é de incerteza. Então, tudo isso nos impacta significativamente. Com a taxa de juro mais elevada, os bancos aproveitaram essa onda e muitas dessas contribuições para seguros de vida risco foram para outro lado.
Nos prémios emitidos quanto é novo quanto é continuado?
Estamos a crescer em novas vendas, dois dígitos, provavelmente, e esse tipo de negócio tem uma persistência e uma qualidade grande. Temos maneiras de distribuir diferentes, mas para os nossos agentes exclusivos, mantém-se um negócio muito bom. No produto individual, somos sempre identificados como uma das companhias com melhor proposta para o mercado, considerando preço, serviço, marca, solvência da companhia, tudo.
Quanto colaboradores tem a MetLife?
Somos 145 em Portugal e no total da Ibéria, estamos em 265. Em Portugal temos um canal de agentes próprios, de agentes exclusivos que requer um tipo de serviço diferente do que requer Espanha onde não temos. A contribuição para vendas e margem é 50/50. A diversificação de negócios em Portugal traz uma estabilidade maior em termos de lucros que Espanha.
Hoje em dia, as pessoas querem gerir a sua economia familiar com pagamentos mensais e a proteção por seguros funciona muito bem porque são prémios muito baixos
Isso significa que Portugal tem as funções todas?
A parte de underwriting e sinistros é gerida daqui também para a Espanha. O contrário, também acontece, nas partes de operações e tecnologia e o management é ibérico. Há colaboradores que fazem só coisas de Portugal, outros só coisas de Espanha, mas é grande a sensação de cultura ibérica.
Como se reparte a distribuição em faturação?
Pode dizer-se que 50% é a mediação exclusiva e independente, 25% é banca, 20% direto e agências e o restante entre employee benefits e ainda poupança que mantemos dos contratos do passado. Esta dispersão deixa-me muito tranquilo, se há um impacto um mês ou um trimestre em um dos canais, o outro vai cumprir. Por exemplo as agências estão a correram um bocadinho melhor que os mediadores, no primeiro trimestre deste ano. Mas, no ano passado, foram os mediadores que trouxeram um retorno maior que as agências.
Há alguma novidade de Espanha para desenvolver em Portugal?
Aqui somos especialistas em vida, mas temos uma cobertura do mercado maior. Em Espanha, somos praticamente somos um jogador de nicho, fazemos muito a proteção de produtos. Em Espanha, temos um produto que também temos aqui, a que chamamos Lifestyle, serve para cobrir todas aquelas despesas recorrentes que temos com faturas de gás, de luz, qualquer coisa. Com a NOS fazemos isso, cobrimos todo o serviço que nos dão para as casas e que têm um pagamento mensal. Em Espanha 85% do mercado é nosso e, com a NOS, começámos uma colaboração simpática, mas eu acho que ainda temos muito para fazer.
Pode ser uma tendência?
Antigamente não tínhamos tanta despesa recorrente. Pagávamos à cabeça. Hoje em dia, as pessoas querem gerir a sua economia familiar com pagamentos mensais e a proteção por seguros funciona muito bem porque são prémios muito baixos.
E com baixa sinistralidade?
Nós tentamos ter certeza que todos os nossos produtos têm um mínimo de 15% de sinistralidade, porque essa é a maneira de dizer ao cliente que somos uma mais-valia. Se não há 15% de sinistralidade temos planos de recuperação para chegar a isso, se não o produto é desnecessário. Isto também mostra como mudou o mundo dos seguros. Provavelmente, há 30 anos, a ideia era de cobrar muito prémio e pagar poucos sinistros. Temos eliminado exclusões, temos acrescentado capitais, temos simplificado muito a parte do tratamento dos sinistros para que o seguro seja útil.
Capacidade para aquisições de seguradoras não falta, a MetLife é um gigante da indústria e estamos sempre dispostos para olhar para boas oportunidades, isso de certeza
Em relação a recursos humanos como está a situação dos seguros?
Quem entra na indústria seguradora não sai. Mas se se pergunta na universidade quem quer trabalhar em seguros a resposta é ninguém. Talvez os atuários, mais ninguém. Eu quando estava na universidade, não queria trabalhar em seguros, preferia negócio automóvel ou qualquer outra coisa. E a verdade é que já estou há 33 anos na indústria seguradora.
Qual a estratégia para Portugal? Mais 40 anos?
Mais de 40 anos, é uma praça importantíssima para nós. A MetLife não vende o negócio europeu. Tem um hub na Irlanda e 17 sucursais na Europa tudo Isso está muito bem consolidada. A região ibérica contribui cada vez mais para o resultado total da companhia. São dois mercados maduros onde estamos confortáveis e onde apostamos claramente. São ainda uma maneira de aprender como fazer bem as coisas em outros mercados.
Quanto a aquisições? Não Vida é um caminho?
Não Vida não é alternativa para nós. Somos especialistas em Vida. Pode ser que tenhamos algum tipo de cobertura, algum tipo de risco pequeno, mas é estratégia clara não avançar em Não Vida. Na Europa e América Latina é sempre Vida, só nos Estados Unidos EUA é diferente. Gostamos de ser reconhecidos como especialistas em vida, não vamos ser generalistas nunca.
E em Vida?
Temos apetite de crescer aqui em Vida com aquisições, estamos de olhos abertos mas tem de aparecer a oportunidade. Já fizemos compra de alguma carteira, coisa menor, mas estamos sempre com os olhos abertos porque de facto, a MetLife tem uma história grande de comprar companhias.
E Vida em Portugal?
Já olhámos para umas coisas em Portugal e alguma vez pode ser que sim. Estamos sempre com os olhos abertos para isso. Capacidade para isso não falta, a MetLife é um gigante da indústria estamos sempre dispostos para olhar para boas oportunidades, isso de certeza.
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