“Parece que a política é fechar os olhos”. Oposição critica resposta do Governo às cartas que EUA enviaram a empresas e faculdades
PS, Bloco de Esquerda, PCP e Livre criticam resposta que o Governo tem dado às cartas que os EUA enviaram a empresas e faculdades em Portugal contra a diversidade. Pedem que embaixador seja chamado.
Depois de vários dias sem reagir às cartas e ao questionário que os Estados Unidos enviaram, respetivamente, a empresas e a faculdades em Portugal, o ministro dos Negócios Estrangeiros quebrou o silêncio no início desta semana, para esclarecer que as perguntas colocadas às referidas instituições de ensino superior são “contrárias à Constituição”.
O PS, o Bloco de Esquerda, o PCP e o Livre criticam a demora da resposta do Governo e exigem que um representante norte-americano seja chamado pelo Executivo de Luís Montenegro, para se evitar uma repetição desta situação.
“Em ambos os casos [empresas e faculdades], é preocupante“, sublinha o socialista Pedro Delgado Alves. Em conversa com o ECO, diz ter “estranhado a passividade do Governo em repudiar” até há poucos dias estas missivas, ainda que reconheça que “a gestão diplomática é complexa“.
“Os outros Estados europeus não deixaram de ser assertivos“, atira.
“Havia outras possibilidades para formalmente dar conhecimento de que esta abordagem [dos Estados Unidos] não é a mais adequada”, continua Pedro Delgado Alves, que sugere que o Governo poderia, por exemplo, chamar o encarregado de negócios da embaixada, o que permitiria preservar os contactos diplomáticos, ao mesmo tempo que se pedia esclarecimentos.
Havia outras possibilidade para formalmente dar conhecimento de que esta abordagem não é a mais adequada. Por exemplo, chamar o encarregado de negócios e pedir esclarecimentos.
Proposta semelhante fez Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, no arranque desta semana. Em declarações aos jornalistas, a coordenadora bloquista criticou o silêncio do Governo e desafiou a chamar o embaixador norte-americano para transmitir que Portugal “não aceita ingerências”.
“O embaixador dos Estados Unidos deveria ser chamado pelo Governo para lhe ser transmitida a posição oficial do Governo português de que Portugal é uma república soberana que não aceita ingerências na sua política científica ou em qualquer área soberana e da nossa governação“, realçou Mariana Mortágua.
Da parte do PCP, Paula Santos também sublinha, em resposta enviada ao ECO, que “é incompreensível que o Governo se tenha mantido em silêncio durante tanto tempo“.
“É bem demonstrativo da sua subserviência ao imperialismo norte-americano”, afirma a deputada. Paula Santos considera que o envio do referido questionário a faculdades portuguesas é “um flagrante desrespeito pela sua autonomia e pela soberania de Portugal” e “uma inaceitável ingerência nas decisões de instituições democráticas”.
Parece que a política é fechar os olhos, tentar passar despercebido e esperar que a tempestade passe.
Já em nome do Livre, o deputado Jorge Pinto argumenta, em conversa com o ECO, que “parece que a política é fechar os olhos, tentar passar despercebido e esperar que a tempestade passe“.
“Parece-me ser importante chamar o embaixador”, realça, explicando que tal serviria para evitar a repetição daquilo que considera ser “um ataque à autonomia das empresas e faculdades“.
“Este Governo tem sido lento a reagir. Já houve uma reação do ministro dos Negócios Estrangeiros, mas ainda não vi reação do ministro da Educação“, alerta Jorge Pinto. O ECO questionou o Ministério da Educação há vários dias e continua sem resposta.
O ECO contactou também a Iniciativa Liberal — que decidiu não comentar a situação — e o Chega, cuja resposta ainda aguarda.
No início da semana passada, o ECO avançou em primeira mão que a embaixada norte-americana em Lisboa enviou cartas às empresas portuguesas com contratos públicos com os Estados Unidos, de forma a forçá-las a abandonar as políticas de diversidade, equidade e inclusão.
Questionado sobre se esta atitude não representa uma intromissão na economia portuguesa, o ministro Pedro Reis foi evasivo e não quis tomar uma posição firme sobre o tema, com o governante a preferir não “encontrar pontos de discórdia”.
Entretanto, o Expresso e a Lusa avançaram que o Governo dos Estados Unidos também cancelou ao Instituto Superior Técnico (IST) um programa que permitia ter nas suas instalações um espaço de divulgação da cultura americana, tendo a instituição portuguesa sido questionada sobre ligações a organizações terroristas.
O presidente do IST, Rogério Colaço, detalhou à Lusa que recebeu a 5 de março um inquérito com “questões bastante desadequadas” sobre se o IST colaborava ou não, ou era citado ou não em acusações ou investigações envolvendo associações terroristas, cartéis, tráfico de pessoas e droga, organizações ou grupos que promovem a imigração em massa.
O IST decidiu não responder, à semelhança da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, cujo diretor, Hermenegildo Fernandes, disse à Lusa que recebeu o mesmo questionário, que o deixou estupefacto pela “dimensão do descaramento” das perguntas, nomeadamente sobre “agendas climáticas”, se a instituição tinha “contactos com partidos comunistas e socialistas” ou “relações com as Nações Unidas, República Popular da China, Irão e Rússia” e o “que fazia para preservar as mulheres das ideologias de género”.
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