Inteligência artificial e energia. Do consumo às emissões em cinco gráficos
Conheça melhor a relação entre a indústria dos centros de dados e a energia em cinco gráficos.
“A inteligência artificial alimenta-se de dados e de eletricidade.” A frase é da diretora de Sustentabilidade, Tecnologia e Projeções da Agência Internacional de Energia (AIE), Laura Cozzi, que apresentou recentemente um relatório sobre Energia e Inteligência Artificial (IA).
Uma das principais conclusões é que a eletricidade consumida por centros de dados deve duplicar até 2030 face aos dias de hoje e triplicar em 2035. Uma tendência que acompanha os números de investimento que têm sido divulgados: só a Microsoft, Meta, Amazon e Apple comprometeram 300 mil milhões de dólares em investimento para a construção de centros de dados e equipamento tecnológico em 2025.
Por outro lado, embora muita desta eletricidade deva ser suportada por fontes renováveis, também o gás natural e o carvão serão impulsionados por esta indústria. Nesse sentido, as emissões de carbono associadas à energia consumida pelos centros de dados devem atingir as 500 milhões de toneladas em 2035. Por outro lado, podem ajudar a evitar a emissão de 1.400 milhões de toneladas, embora exista uma elevada incerteza quando a esta possibilidade e efeitos colaterais. Veja abaixo cinco gráficos sobre a relação entre a energia e esta tecnologia emergente.
Centros de dados devem duplicar consumo de eletricidade até 2030 e triplicar até 2035
Em 2024, os centros de dados representaram 1,5% do consumo global de eletricidade, ou o equivalente a 415 terawatts-hora (TWh). Globalmente, o consumo de eletricidade por centros de dados já cresceu 12% desde 2017, quatro vezes mais rápido que o crescimento do total do consumo.
A AIE estima que o consumo de eletricidade a partir de centros de dados vai duplicar para cerca de 945 terawatts-hora em 2030. “Isto é um pouco acima do consumo total de eletricidade do Japão ao dia de hoje”, lê-se no relatório, que identifica a inteligência artificial como o principal motor deste crescimento. Apenas cinco anos depois, em 2035, a AIE prevê que o consumo ascenda aos 1200 terawatts-hora.
Centros de dados crescem e multiplicam o consumo próprio
Os centros de dados estão a crescer “muito rapidamente” em tamanho, indicou Laura Cozzi. Atualmente, o maior centro de dados em construção prevê um consumo de energia 20 vezes superior ao típico hyperscaler, um centro considerado de grandes dimensões ao dia de hoje – salta-se de um consumo equivalente ao de 100.000 famílias, neste último caso, para um consumo correspondente a dois milhões de lares domésticos. Além disso, a tendência é que os centros de dados se concentrem cada vez mais nas mesmas localizações, criando desafios para a capacidade de rede.
Ainda assim, tudo dependerá de como a tecnologia evolua: tanto pode exigir mais energia, caso sejam criadas novas funções que peçam um maior consumo, como pode crescer a eficiência do setor da inteligência artificial de forma a alterar, em baixa, as suas necessidades energéticas.
Renováveis ganham na Europa, mas não lá fora
Uma grande variedade de fontes vão ser necessárias para responder à procura por energia que é criada por estes centros. A nível mundial, as renováveis vão ficar a ganhar, mas a energia com origem no gás natural e no carvão, assim como a nuclear, também deverão ser solicitadas. Vão ser necessários 450 TWh extra de capacidade renovável até 2035, para dar resposta às exigências dos centros de dados, enquanto se calcula que sejam necessários 175 TWh extra de gás natural e a mesma quantidade de energia nuclear adicional no horizonte de uma década.
O “cabaz” energético usado dependerá de região para região, com a União Europeia a abastecer-se sobretudo com base renovável, os Estados Unidos a apresentarem um maior peso no que diz respeito ao gás natural, e a China a “ganhar” no consumo de carvão.
Ciberataques às energéticas triplicam em quatro anos
Em 2024, uma entidade típica do setor energético, como uma empresa de gás ou eletricidade, registou mais de 1.500 ciberataques por semana, o triplo do valor registado em 2020, assinala o estudo. Contudo, ressalva Cozzi, a inteligência artificial também ajudou a que estes problemas tivessem uma resposta mais imediata.
Inteligência artificial gera emissões, mas também as reduz
As emissões de dióxido de carbono que resultam do consumo de eletricidade dos centros de dados deverão aproximar-se das 500 milhões de toneladas em 2035.
Contudo, existem alguns usos desta tecnologia que têm potencial para baixar as emissões, apesar de a respetiva evolução ser “altamente incerta”, ressalva a AIE. Entre esses usos estão a redução de fugas de metano nas operações de petróleo e gás, que podem ser mais facilmente detetadas e reparadas com o uso de IA; a otimização energética de processos industriais; a maior eficiência que podem induzir no setor dos transportes caso a IA seja usada para agilizar os fluxos de trânsito ou no setor imobiliário, otimizando o consumo de energia. Num cenário de adoção generalizada da inteligência artificial para estes fins, a AIE estima que as poupanças nas emissões de CO2 podem chegar a 1.400 milhões de toneladas.
Ainda assim, existe mais um fator, difícil de contabilizar, a ter em conta: o “efeito ricochete” que pode verificar-se se o crescimento da procura por parte dos centros de dados for acompanhado por uma descida dos preços dos combustíveis fósseis, estimulando mais a sua adoção.
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