BRANDS' ECO ESG e o Futuro da Água: “A água é crítica para a transição energética”
ESG e o Futuro da Água foi o mote do evento, organizado pelo ECO e pela Águas de Santarém, que promoveu um debate com especialistas do setor da água sobre inovação, políticas públicas e governança.
Os desafios ambientais e sociais impostos pelas alterações climáticas e também pelo crescimento populacional têm obrigado a que haja uma gestão cada vez mais sustentável da água, um recurso vital, mas também limitado. Nesse sentido, a integração dos princípios ESG no setor da água não só garante a preservação do recurso, mas também posiciona empresas e instituições como líderes na transição para uma economia mais sustentável.
Algumas dessas empresas e líderes nacionais marcaram presença no evento “ESG e o Futuro da Água”, organizado pelo ECO em parceria com a Águas de Santarém, que teve como principal objetivo a promoção do debate sobre inovação, políticas públicas e governança responsável.
“Há uma relação estreita entre inovação e sustentabilidade. A inovação neste setor não é apenas tecnológica, é também organizacional, regulatória, digital e social. Portanto, desde os sistemas inteligentes de monitorização e deteção de perdas até ao reaproveitamento das águas residuais, passando por modelos de governação mais participativos e soluções baseadas em recursos naturais, tudo aponta para um caminho muito próprio para a água, que é usar melhor, desperdiçar menos, garantir acesso e preparar o futuro“, começou por dizer Ramiro de Matos, Presidente da Águas de Santarém, na abertura do evento.

Como trazer a inovação para o setor da água?
Esse caminho, de acordo com Vera Eiró, presidente da ERSAR (Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos), tem de ser feito e pensado tendo em conta o impacto que toda a manutenção da água tem, quer para a economia, quer para o clima, quer para os consumidores: “A água é um tema muito relevante de pegada carbónica. O terceiro maior consumidor de energia em Portugal é o grupo Águas de Portugal. Por isso, a dimensão de perdas de água é um tema de gestão do recurso, mas também um tema de descarbonização. Além disso, nos próximos anos, a atividade das utilities vai lidar com desafios que vão implicar muito investimento, tão grande que a única forma de fazermos face a isso é inovarmos, é conseguirmos fazer mais com menos”.
A opinião foi corroborada por José Sardinha, administrador da Águas de Portugal, que deu o exemplo da inovação dentro da empresa, dividindo-a por três tipos – a inovação proativa, reativa e a orgânica. “Temos a inovação reativa, que se baseia em abrirmos as portas, enquanto entidade pública, e acolhermos as universidades nacionais e estrangeiras para concorrer a projetos de investigação. Depois temos a inovação proativa e estratégica, definida e financiada pelo grupo. Para isso, fazemos um concurso anual e a nossa alocação é de cerca de 800 mil euros por ano. Já a terceira é a inovação orgânica ou operacional, na qual cada uma das empresas do grupo age por si nas suas próprias atividades”, explicou.
“Nós precisamos de ter financiamento porque hoje em dia a operação ao nível de entidades gestoras, quer seja de alta, quer seja de baixa, tem que ter softwares e um conjunto de ajudas e de monitorizações que são caras. Só que quanto mais pequena é a dimensão da entidade gestora, mais difícil é de financiar. E, apesar de se falar muito em fundos nacionais e europeus, a verdade é que atualmente eles são reduzidos na nossa área, quer na água, quer no saneamento“, lembrou, no entanto, Ramiro de Matos.
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Painel "A inovação no Setor da Água", com José Sardinha, Administrador das Águas de Portugal; Ramiro de Matos, Presidente das Águas de Santarém; e Vera Eiró, Presidente da ERSAR -
Vera Eiró, Presidente da ERSAR -
José Sardinha, Administrador das Águas de Portugal -
Ramiro de Matos, Presidente das Águas de Santarém
Financiamento e circularidade são soluções?
Esse financiamento pode ajudar diretamente na transição energética que, segundo Nelson Lage, presidente ADENE, não pode acontecer sem água. “A água é crítica para a transição energética, mas, por outro lado, não há um futuro sustentável para a transição da água sem considerar a energia, a eficiência, o financiamento verde e a circularidade“, referiu, lembrando também as principais conclusões de um estudo que a ADENE coordenou no âmbito da rede RNAE, que refere a simplificação de processos, a aceleração de licenciamentos e o apoio técnico local como fundamentais. “A ADENE adotou, por isso, uma estratégia muito assente na proximidade, no apoio técnico”, disse.
No entanto, outras fontes de financiamento, como fundos de pensões e fundos de investimento do Médio Oriente foram sugeridos por Jerónimo Meira da Cunha, Associate Director da EY: “O Médio Oriente procura investimentos com alguma segurança e previsibilidade a longo encontro, portanto um dos primeiros desafios é encontrar quem esteja disponível e disposto a investir nestes projetos de transição energética e certamente que os há porque é uma área onde há bastante apetite para investir“.
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Painel "Transição Energética: do Financiamento ao Roadmap Europeu", com Nelson Lage, Presidente da ADENE; e Jerónimo Meira da Cunha, Associate Director | Markets & Business Development – Energy & Resources, EY -
Nelson Lage, Presidente da ADENE -
Jerónimo Meira da Cunha, Associate Director | Markets & Business Development – Energy & Resources, EY
Mas, além do financiamento, a economia circular também pode ser uma das soluções para esta transição, com grande impacto no setor da água. Contudo, apesar de ser um termo reconhecido nacionalmente, não tem sido colocado em prática na proporção necessária e os números confirmam isso. “A Europa tem uma circularização de recursos que está a chegar aos 12%. Em Portugal são 2,6%. Mesmo reconhecendo que o país fez um caminho importante no consumo e noutras indústrias, eu diria que falta trazer a nossa responsabilidade. Estamos muito abaixo e o nosso potencial tem muito explorar”, revelou Ana Trigo Morais, CEO da Sociedade Ponto Verde.
Estes números foram complementados por Filipa Pantaleão, Secretária-Geral do BCSD, que chegou mesmo a afirmar que “os números de Portugal são desastrosos”: “Nós estamos em 24º lugar dentro dos Estados-Membros (27) e não podemos desconsiderar a nossa própria lógica e responsabilidade como indivíduos, quer seja na vertente profissional, quer na pessoal. Tudo aquilo que são matérias-primas que extraímos, energia que consumimos, ou água que utilizamos para os nossos processos produtivos, estão a contar para esses índices de circularidade”.
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Painel "Portugal está a avançar na Economia Circular", com Ana Trigo Morais, CEO da Sociedade Ponto Verde; e Filipa Pantaleão, Secretária-Geral do BCSD -
Ana Trigo Morais, CEO da Sociedade Ponto Verde -
Filipa Pantaleão, Secretária-Geral do BCSD
O papel do governo
Apesar da responsabilidade associada à sociedade e às próprias entidades privadas, João Leite, Presidente da Câmara Municipal de Santarém, destacou a relevância que as entidades públicas, nomeadamente o governo, também assumem nesta inovação. Relembrou, por isso, a importância da água para a agricultura e, neste âmbito, realçou o Projeto Tejo. “Temos de olhar para este recurso natural com maior ambição e eficácia. Só que aí deixamos de estar na dimensão de política pública local e precisamos da política pública nacional. A autarquia de Santarém e as demais que abrangem o rio Tejo precisam de uma intervenção definitiva e a curto prazo para que o rio Tejo possa ser usado no reaproveitamento da sua água para a agricultura“, referiu.
Por sua vez, Emídio Sousa, Secretário de Estado do Ambiente, respondeu, apresentando uma das conclusões da Estratégia Nacional para a Gestão da Água – “Água que Une” – que passa por melhorar a eficiência no uso deste recurso: “A eficiência é fundamental. O nosso país ainda tem perdas no abastecimento urbano perto dos 40%. É um disparate porque produzir água para consumo humano tem custos significativos. O desenvolvimento sustentável também é não desperdiçar e há indicadores de eficiência muito significativos. Tudo o que seja acima de 15% é um desperdício muito grande e sabem quem é que paga este desperdício? O consumidor”.
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João Leite, Presidente da Câmara Municipal de Santarém -
Emídio Sousa, Secretário de Estado do Ambiente
Assista à conferência aqui:
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