“Mais do que tarifas de Trump”, metalúrgicas estão preocupadas com resposta da União Europeia

Representantes dos setores da metalurgia, tecnologia e vestuário demonstraram esta terça-feira a sua preocupação com a guerra comercial e defenderam uma redução da carga fiscal sobre as empresas.

Empresários representantes dos setores da metalurgia, tecnologia (centros de dados) e vestuário demonstraram esta terça-feira a sua preocupação com a guerra comercial e defenderam uma redução dos custos do trabalho e da carga fiscal sobre as empresas para estimular o investimento e a produtividade.

O vice-presidente executivo da AIMMAP – Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal mostrou-se especialmente temeroso em relação à resposta da União Europeia (UE) à subida das taxas alfandegárias dos Estados Unidos (UE) às importações. “Mais do que preocupados com as tarifas de Trump, estamos preocupados com as tarifas da UE”, referiu Rafael Campos Pereira, numa intervenção durante a 8.ª edição da Fábrica 2030, uma conferência organizada pelo ECO no CCB – Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

A declaração surge num momento em que decorre a suspensão de 90 dias das tarifas retaliatórias aos produtos dos Estados Unidos por parte de Bruxelas, após a Casa Branca ter anunciado uma pausa temporária nas tarifas. Para o dirigente da AIMMAP, as tarifas anunciadas por Donald Trump são uma “grande preocupação”, mas também a concorrência que virá da China, que “vai precisar de fazer escoar os seus produtos e inundar a Europa”.

Rafael Campos Pereira, Vice-Presidente Executivo da AIMMAP, na conferência Fábrica 2030Hugo Amaral/ECO

Rafael Campos Pereira considera que a atenção também deve estar virada para a segunda maior economia do mundo, até porque “a Europa está muito preocupada com impor tarifas à importação de matérias-primas, mas ao mesmo tempo não há tarifas aos produtos transformados”. “Ou seja, não protege os transformadores de aço e alumínio”, explicou o também vice-presidente do Conselho Geral da CIP – Confederação Empresarial de Portugal e conselheiro do CES – Conselho Económico e Social, numa referência aos setores do automóvel, ferrovia e aeronáutica.

Por sua vez, o presidente da Anivec – Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confeção e CEO da Calvelex admitiu que as empresas do setor têxtil estão “muito apreensivas” com esta política protecionista da administração Trump e espera que a UE consiga negociar com a contraparte norte-americana no sentido de obter um desfecho positivo.

César Araújo, Presidente da Anivec, na conferência Fábrica 2030Hugo Amaral/ECO

“Já tínhamos taxas aduaneiras de 17%. Agora com tarifas [recíprocas] de 10%, temos 27%. O cliente não consegue refletir as tarifas no consumidor final. E, se forem à falência, deixamos de ter encomendas”, lamentou César Araújo. Na sua opinião, Bruxelas não deve entrar já em retaliação. Porém, “se em 90 dias os EUA insistirem nisso, não nos devemos pôr de joelhos”. Face à avalanche de produtos têxteis chineses que se antecipa, a UE tem de estar atenta “e regular as entradas para não colapsar a economia europeia”, defendeu o presidente da Anivec.

O presidente da Portugal DC – Associação Portuguesa de Centro de Dados revelou que está a encetar esforços para reverter a decisão dos Estados Unidos de colocarem Portugal entre os países com restrições aos chips norte-americanos.

“Estamos a tentar reverter esta classificação de Portugal como país Tier 2. Já estivemos em reuniões com o Ministério da Economia e em breve teremos com a embaixada dos Estados Unidos. Há países que passaram a situação on hold“, disse Luís Pedro Duarte.

“Já tinha sido anunciado pelos EUA, antes das tarifas, a classificação do mundo em três Tiers sobre quem tem acesso ao fabricante norte-americano de chips Nvidia. Portugal foi dos poucos países da Europa com a classificação 2. Tem efeitos nefastos para o investimento“, explicou o especialista em data centers.

Luís Pedro Duarte, Portugal DC, na conferência Fábrica 2030Hugo Amaral/ECO

Luís Pedro Duarte esclareceu que, enquanto Portugal não sair “desta zona cinzenta, ficará “para trás”, o que é prejudicial, até porque existem recursos nacionais de valor para este setor, nomeadamente a localização estratégica através dos cabos submarinos, que ligam o país a todos os continentes.

“Não é por ter fundos americanos que deixam de ser travados por esta restrição”, alertou o líder da Portugal DC, numa referência indireta à Start Campus, que tem em mãos um investimento de milhares de milhões em Sines com capital da Davidson Kempner.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

“Mais do que tarifas de Trump”, metalúrgicas estão preocupadas com resposta da União Europeia

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião