Duelo equilibrado aquece com apagão e Spinumviva

  • Luis Claro
  • 8:52

Único debate entre Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos teve um dos momentos mais tensos com o caso Spinumviva. Apagão e estabilidade também aqueceram o frente-a-frente

Pedro Nuno Santos e Luis Montenegro

O único debate entre Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos durou mais de uma hora e aqueceu com o caso Spinumviva. Saúde, pensões, habitação e impostos foram outros dos momentos fortes em que os candidatos trocaram acusações com os dois a quererem provar que têm mais condições para dar estabilidade ao país depois de este governo ter durado apenas um ano.

Pedro Nuno Santos defendeu, em vários momentos do debate, que o atual primeiro-ministro e recandidato é “um fator de instabilidade”. Uma ideia em que insistiu durante a discussão sobre a empresa familiar do primeiro-ministro, que acabou por ser um dos temas que maior tensão provocou neste frente-a-frente. “Não tem idoneidade para o cargo que ocupa”, disparou o líder do PS, acusando o líder da AD de continuar a receber dinheiro de “algumas empresas” como primeiro-ministro. Luís Montenegro garantiu que não recebeu “um único euro de uma entidade privada” desde que chegou à liderança do PSD. E acusou o socialista de ter “um comportamento “deplorável”. Pedro Nuno Santos “não tem autoridade moral, nem tem vida para falar assim de mim”, atirou.

O debate foi adiado devido ao apagão, na segunda-feira, e foi por aí que começou com o primeiro-ministro a garantir que atuou com “eficácia” e a justificar a comunicação tardia por não ser possível “falar com os portugueses através do meio mais direto que é a televisão”. E lembrou que, ao contrário do que aconteceu em Espanha, não houve mortes, o que prova que a atuação foi bem sucedida.

Pedro Nuno Santos entrou ao ataque com a acusação de que o governo deixou “os autarcas entregues à sua sorte” e de ter falhado “naquilo que era a sua missão”. Mostra “impreparação para enfrentar crises” e já tinha “falhado na crise do INEM”.

"Pedro Nuno Santos não tem autoridade moral, nem tem vida para falar assim de mim”

Luís Montenegro

Primeiro-ministro e recandidato

Um dos temas mais esperados era os constrangimentos na área da saúde. Luís Montenegro lembrou os acordos com os médicos e enfermeiros para aumentar a capacidade de recrutamento, mas desta vez não se comprometeu com prazos para que todos os portugueses possam ter médico de família. E insistiu que as parcerias público-privadas (PPP) podem ser uma solução para “libertar mais recursos para ter outras respostas”.

Pedro Nuno Santos defendeu que esta foi a área de “maior falhanço do governo” e acusou a AD de não cumprir a promessa de aumentar o número de utentes com médico de família. E discordou da política do governo em relação às PPP com o argumento de que “os nossos hospitais podem ser melhor geridos sem os entregarmos à gestão do privado”.

Os dois candidatos discordaram também em relação aos impostos com Pedro Nuno Santos a contestar a aposta do governo na redução do IRC e reafirmando que essa medida deve abranger “as empresas que reinvestem os seus lucros”. O líder socialista classificou o programa da AD como “uma fantasia”, devido às previsões otimistas. “A justificação para a diferença dos números são as políticas públicas“, respondeu Luís Montenegro, acusando o PS de não querer fazer reformas, porque “as medidas do PS não mudam nada na economia e não mudam nada no Estado”.

A estabilidade voltou a ser um dos temas centrais do debate entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro, tal como tinha acontecido há um ano. Nenhum dos candidatos esclareceu o que fará no caso de perder as eleições com o argumento de que estão concentrados na vitória. Montenegro garantiu que continuará a governar com “os mesmos princípios” e através do diálogo. “O governo caiu por tática política. Não caiu por falta de estabilidade”, afirmou o atual primeiro-ministro, criticando o adversário por se juntar ao Chega em momentos decisivos como a discussão do orçamento do Estado.

“Como pode prometer estabilidade. Ao mínimo aperto atirou o país para eleições”, respondeu Pedro Nuno Santos, que preferiu não assumir nenhum compromisso se perder as eleições. Já depois do debate, o líder do PS garantiu que a comissão de inquérito a Montenegro “mantém-se prevista”, depois de ter admitido deixar cair esta proposta no caso de serem dados mais esclarecimentos. Durante o debate, Luís Montenegro garantiu que nunca forçará “nenhum adversário a expor a sua família para tirar proveito político”.

"Como pode prometer estabilidade. Ao mínimo aperto atirou o país para eleições.”

Pedro Nuno Santos

Secretário-geral do PS

Na habitação, os dois candidatos concordaram que é necessário construir mais casas para enfrentar a subida dos preços. Luís Montenegro lembrou a promessa de construir 59 mil casas enquanto o governo socialista previa apenas 26 mil. “Ainda estamos a pagar o desinvestimento na habitação que as ideias de Pedro Nuno Santos trouxeram”, acusou o líder da AD, aproveitando o facto de o seu adversário ter tido responsabilidades nesta área durante os governos liderados por António Costa.

Pedro Nuno Santos garantiu que “as casas que Luís Montenegro entregou em Oeiras” foram lançadas por ele e admitiu que é preciso construir habitação para a classe média. E garantiu que, se vencer as eleições, não irá reverter as medidas deste governo, nomeadamente a isenção para os jovens do pagamento de impostos na aquisição da primeira habitação.

O fantasma da privatização da Segurança Social

O debate terminou com Luís Montenegro a garantir que tomou decisões que estavam adiadas há muitos anos. “Estou aqui para decidir, estou aqui para executar”, disse o candidato da AD, lembrando algumas medidas do governo para aumentar os rendimentos e transformar os serviços públicos.

Na última intervenção, Pedro Nuno Santos considerou que este debate foi “importante e esclarecedor” e prometeu defender os pensionistas e aumentar a qualidade de vida dos portugueses com medidas como o IVA zero para bens alimentares.

E insistiu na ideia de que o governo está a preparar-se para “entregar parte do sistema público de pensões ao mercado de capitais” e, por isso, uma das primeiras medidas, se for eleito, será extinguir o grupo de trabalho criado para avaliar a sustentabilidade da segurança social. Montenegro já tinha garantido que o governo se limitou a “estudar aquilo que o anterior governo mandou fazer” e que a privatização parcial está afastada durante a próxima legislatura.

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