Tensões globais podem agravar riscos no setor segurador
Reguladores europeu e português divulgaram as respetivas avaliações sobre os riscos no setor segurador. Tarifas de Trump e guerra na Europa alimentam pessimismo e tendência de agravamento.
Os mais recentes relatórios da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) e da EIOPA revelam um setor segurador estável, com níveis de risco globais classificados como médios, mas com zonas de vulnerabilidade persistentes, sobretudo ligadas à volatilidade dos mercados e às tensões geopolíticas internacionais.
A ASF avaliou dos riscos macroeconómicos em médio-alto, embora com tendência de crescer, segundo o estudo “Painel de Riscos do Setor Segurador – março de 2025”. Esta avaliação é sustentada pelo “elevado grau de incerteza que caracteriza o atual contexto macroeconómico, nomeadamente devido à persistência dos conflitos militares no leste europeu e no Médio Oriente, bem como às alterações nas políticas comerciais a nível global”. Destacam-se a imposição de tarifas pelos Estados Unidos da América e as consequentes medidas de retaliação por parte dos países afetados, “fatores que podem condicionar o crescimento económico e gerar pressões inflacionistas em Portugal e na Área do Euro”. Além destes fatores externos, o contexto macroeconómico é também afetado pela instabilidade política nacional.
A nível europeu, a EIOPA confirma que os riscos macroeconómicos deverão permanecer em nível médio, prevê que assim permanecerá até ao primeiro trimestre do próximo ano, mas alerta para uma ligeira desaceleração do crescimento do PIB e revisões em alta nas previsões de inflação, com destaque para os impactos negativos que a crescente fragmentação geopolítica pode ter no panorama económico europeu. Os dados europeus contam no estudo “April 2025 Insurance Risk Dashboard”.
Ambas as entidades consideram que riscos de mercado deverão aumentar até ao próximo ano. A ASF classifica o risco como médio-alto destacando o aumento dos níveis de volatilidade no mercado acionista e obrigacionista português desde fevereiro do ano passado. Por sua vez, a EIOPA classifica os riscos como elevados já que se verifica uma volatilidade elevada nos mercados de ações e obrigações à escala europeia, agravada por anúncios como a imposição de novas tarifas nos EUA, o que poderá acentuar a instabilidade dos mercados.
Os riscos de crédito mantêm-se em nível médio-alto segundo a ASF, prevendo que assim se manterá. O regulador português sustenta a avaliação com o facto de se ter verificado, entre março do ano passado a este, “trajetória global de redução dos prémios de risco da dívida soberana e uma relativa estabilidade dos prémios de risco dos emitentes dos setores financeiro e não financeiro”. A nível europeu, também se prevê estabilidade nos riscos de crédito até março de 2025, com ligeiras alterações nos spreads, aponta a EIOPA.
No plano da liquidez, ambas as autoridades classificam os riscos como médios, (a ASF avalia como médio-baixo). O regulador português identifica uma trajetória ascendente no rácio de entradas sobre saídas, e a EIOPA destaca a importância da gestão eficaz da liquidez face a potenciais choques de mercado, especialmente no uso de derivados.

A ASF avalia os riscos de rendibilidade e solvabilidade em médio-baixo com tendência a subir. De acordo com o regulador “verificou-se uma ligeira deterioração nos resultados técnicos provisórios da linha de negócio automóvel, sobretudo devido ao desempenho de dois operadores de grande dimensão”. Além disso, “o último trimestre de 2024, registou-se também uma diminuição do rácio global de solvência, com e sem o efeito da medida transitória sobre as provisões técnicas, para 207,1% e 183%, respetivamente. Não obstante, estes mantêm-se em níveis confortáveis para enfrentar eventuais desenvolvimentos adversos inesperados”.
A EIOPA indica que os riscos de solvência e rentabilidade na Europa permanecem estáveis. O regulador registou rácios de solvência robustos no último trimestre do ano passado. Já a rentabilidade revelou sinais mistos “alguns indicadores de rendibilidade melhoraram, enquanto outros diminuíram. O rácio combinado dos seguros Não Vida manteve-se inalterado”.
Em Portugal, os riscos especificos do ramo Vida diminuíram de médio-alto para médio-baixo. A produção total deste ramo registou um aumento em 2024 face ao ano anterior, suportado tanto por produtos Vida Ligados como pelos produtos Vida Não Ligados. Adicionalmente, também se verificaram menos resgates de produtos financeiros. Por outro lado, os riscos específicos do ramo Não Vida permanece classificado como médio-alto, pois “sinalizam-se os efeitos que as alterações ao nível das políticas comerciais internacionais – imposição de tarifas e retoma do protecionismo – poderão gerar nos custos com sinistros e na rendibilidade dos operadores”
A EIOPA aponta para que os riscos dos seguros Vida e Não Vida permanecem estáveis na Europa, tendo registado crescimento dos prémios de seguro Vida e Não Vida e com uma redução nas taxas de sinistralidade.
A EIOPA chama ainda a atenção para riscos ambientais, sociais e de governação (ESG), que permanecem estáveis mas com uma perspetiva de agravamento, devido à instabilidade geopolítica e à incerteza regulatória em torno de compromissos ambientais. Também os riscos cibernéticos e digitais continuam num nível médio, mas tendência crescente, refletindo um aumento na perceção de ameaça, particularmente em contextos de conflito. O sentimento do mercado permaneceu no nível de risco médio. As seguradoras do ramo Vida europeias registaram um desempenho superior ao do mercado em março deste ano, no entanto, as ações europeias de seguros foram afetas negativamente em abril, refletindo tendências mais gerais de mercado, avança a EIOPA.
Quer a nível nacional, quer a nível europeu os riscos de interligações deverão manter-se estáveis. A ASF avalia-o em médio-baixo, “as exposições a dívida pública portuguesa e a emitentes do setor financeiro apresentaram uma redução. Por outro lado, observou-se um ligeiro acréscimo na concentração de ativos por grupo económico e por setor de atividade”, refere o regulador. A nível europeu, as “as exposições a bancos, resseguradores e derivados registaram poucas alterações e as cessões de resseguros mantiveram-se consistentes”.
O painel de riscos desenvolvido pela EIOPA baseia-se em dados Solvência II e chegou a estas conclusões através de um conjunto de indicadores de risco do terceiro trimestre de 2024 e do final de 2023. Os dados baseiam-se em relatórios de estabilidade financeira e prudenciais recolhidos junto de 93 grupos seguradores e 2.153 empresas de seguros individuais. A informação Solvência II é complementada com dados de mercado com data de fecho no final de março de 2025.
De forma semelhante, no Painel de Riscos da ASF os indicadores assentam “na informação contabilística e nos reportes de Solvência II, submetidos pelas empresas de seguros sujeitas à supervisão da ASF, e ainda, na informação publicamente disponível relativa às variáveis macroeconómicas e aos mercados financeiros”.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Tensões globais podem agravar riscos no setor segurador
{{ noCommentsLabel }}