ECO da campanha. Direita disputa ideias de Passos, esquerda quer tração na “estabilidade”
ECO da Campanha. Partidos aceleram e têm mais 36.972 eleitores a convencer do que há um ano. No dia em que Passos voltou com avisos, discutiram-se coligações que podem "ir além da troika".
Em carros de corrida, em autocarros apinhados ou com os ‘pés debaixo da mesa’, começa a acelerar a campanha eleitoral para as eleições legislativas de 18 de maio, em que o número de eleitores recenseados ascende a 10.850.215 (dos quais quase 1,6 milhões nos dois círculos da emigração). Serão mais 36.972 votantes a convencer pelos partidos do que nas legislativas do ano passado, segundo dados oficiais.
A precisar de recuperar terreno para a AD, a acreditar nas últimas sondagens, Pedro Nuno Santos sentou-se ao cockpit de um carro de corrida desenvolvido de raiz para ser utilizado na “Fórmula Student”, durante uma visita ao Instituto Politécnico de Leiria. Já nas oficinas da CP no Entroncamento, assegurou que, se vencer, encontrará uma “solução de estabilidade política” em diálogo com os grupos parlamentares saídos das eleições, recordando que “já [deu] provas de que [consegue] fazer isso” no período da geringonça.
Quem também andou sobre rodas foi Mariana Mortágua, que logo de madrugada apanhou o autocarro 711 da Carris para acompanhar a rotina dos trabalhadores por turnos, como as empregadas domésticas Adelina e Fernanda, entre a Amadora e as Portas de Benfica.
“Para um país onde se ouve falar tanto de meritocracia, ninguém me convence que alguém tem mais mérito na sociedade portuguesa que uma mulher que se levanta às quatro e meia da manhã e apanha três autocarros para limpar três casas ou três instituições e volta à casa às nove da noite para cuidar dos seus filhos”, atirou a líder bloquista.
Mais confortável foi a viagem de Luís Montenegro entre Leiria e a sede do PSD, em Lisboa, onde almoçou com quase todos os ex-líderes do partido (ver abaixo). Após visitar o Bolhão e descer Santa Catarina, André Ventura considerou o seu partido o que melhor representa as ideias de Passos Coelho, um dos participantes no evento laranja, defendendo que os eleitores preferem o original às “cópias geralmente contrafeitas, malfeitas e farsolas”.
Noutro mercado nortenho, em Matosinhos, com Rui Tavares (Livre) a acusá-lo de fazer do Parlamento um lugar de “má fama e má reputação”, o líder do Chega foi obrigado a defender a inclusão nas listas de Cristina Rodrigues, ex-dirigente do PAN acusada pelo Ministério Público de dois crimes.

E meio ano depois de recusar o desafio do ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, para comer uma “francesinha de carne barrosã” para demonstrar “tolerância e moderação”, mostrando-se disponível para provar uma opção vegan, Inês de Sousa Real (PAN) propôs que o país implemente as “segundas-feiras sem carne” – um dia por semana onde fosse promovida uma refeição vegetariana em instituições públicas, como escolas e o próprio Parlamento – e ainda apelou à criação de uma estratégia nacional de produção de leguminosas.
Tema quente
Maioria entre AD e IL é para ir além da troika?
Mesmo com o número de indecisos a disparar, já estando muito perto dos 20%, a sondagem diária da Pitagórica para o JN, TSF e TVI/CNN mostrou que as intenções de voto conjuntas na AD (35,8%) e Iniciativa Liberal (7,5%) apontam para a hipótese de uma coligação pós-eleitoral maioritária entre as duas forças políticas.
Esta terça-feira, durante uma visita à feira semanal de Viseu, Rui Rocha disse que saberá “interpretar a vontade dos portugueses e o que é necessário para o país”.
“Já disse que faremos uma coligação no dia 18 à noite, no dia 19 de manhã, com os portugueses, com os interesses dos portugueses, com a necessidade de termos um país que muda”, referiu o líder dos liberais, mesmo considerando que Montenegro “às vezes dispara da realidade” e “vê um país que não é o real”, em particular na saúde, habitação e no crescimento económico.
Mais tarde, após ter visitado uma empresa de vestuário em Mangualde, assegurou que o partido terá o “ímpeto reformista” que Passos Coelho exigiu à AD, que não trouxe “a mudança necessária” ao país.

Mais a sul, no final de uma visita à AICEP Global Parques em Sines, no distrito de Setúbal, naquela que foi a sua primeira ação de campanha do dia, o porta-voz do Livre defendeu que uma maioria entre o “montenegrismo” da AD e o “motosserismo” da Iniciativa Liberal seria “para ir mais longe do que a troika”.
Se uns assumem a tarefa da austeridade com “uma face mais fofinha”, os outros vão fazendo a “política da extrema-direita, do medo, do preconceito e do discurso do ódio”, completou Rui Tavares, acusou-os ainda de terem “o rei na barriga” e estarem a cantar vitória antes da ida às urnas.
“Está tudo muito a contar já com o resultado das eleições, a pôr o carro à frente dos bois e a verem-se juntos ao horizonte no poder”, censurou.
A figura
Pedro Passos Coelho
O antigo líder do PSD, acarinhado por uma parte do partido e que espera o seu regresso, marcou presença no almoço de antigos líderes do partido. Recebido por Luís Montenegro, posou ao seu lado e de Pedro Santana Lopes, antes de alertar que o partido deve “fazer pleno jus à sua tradição reformista em Portugal”, avisando o atual líder social-democrata que não basta ter estabilidade política, é preciso avançar com as reformas que o país precisa.
“As duas coisas são necessárias: a estabilidade – para a qual os eleitores podem dar uma contribuição importante através das suas escolhas –, mas também reformismo, que é aquilo que os líderes dos partidos têm de fazer. As duas coisas são essenciais para os próximos anos. E é importante que o país não se alheie do que está a acontecer no mundo e se vá preparando para o que aí vem”, rematou.
Na campanha das últimas legislativas, Pedro Passos Coelho fez uma única aparição, que originou uma polémica sobre a imigração. “As pessoas sentem hoje insegurança, o que é o resultado da falta de investimento e prioridade a essas matérias”, afirmou em 2024.

A frase
"Acho que estou a ver qual é a ementa desse almoço. Deve ser batatas fritas de Bruxelas, deve ser uma salsicha alemã e deve ser uma sopa ralinha, com muita água. E a fatura é para quem?”
A surpresa
Verdes sonham com o regresso ao Parlamento
Em Sesimbra, numa ação dedicada a questões ambientais, o secretário-geral do PCP apareceu ao lado de Heloísa Apolónia, ex-deputada e número três no distrito de Setúbal, apontando ao regresso ao Parlamento do Partido Ecologista “Os Verdes” (PEV), que integra a CDU. Apesar de nas últimas duas eleições a coligação só ter conseguido eleger um deputado por Setúbal (ao contrário dos três em 2019 e dos quatro em 2015), Paulo Raimundo mostrou-se confiante nessa hipótese.
Numa visita à Lagoa de Albufeira, o líder comunista disse que essa possibilidade não é “uma fezada”, mostrando-se convencido e com “muita confiança” de que “é possível” isso acontecer no círculo de Setúbal, com a eleição de Heloísa Apolónia, que apresentou como “uma deputada com coragem para este embate” no distrito.
Prova dos 9
"Na realidade, o aumento das pensões apresentado por Luís Montenegro foi feito por nós na oposição. Fizemos um aumento acima do que estava previsto na lei com o voto contra da AD. Aquilo que a AD fez foi enganar os pensionistas. Primeiro, na festa do Pontal, anunciam um aumento que depois se veio a verificar que era um bónus sem repetição. O segundo engano foi terem criado a expectativa que tinha havido uma redução do IRS maior do que aquela que fizeram e chegaram agora a esta altura, habituados a receber reembolsos e perceberam que têm de pagar IRS.”
A maioria das pensões aumentou 3,9% em janeiro deste ano à boleia do crescimento da economia e da inflação, mas também com a subida extraordinária proposta pelo PS e aprovada pelo Parlamento, à revelia do Governo.
Pela via regular, isto é, em resultado do crescimento da economia e da inflação, as pensões mais baixas (até 1.045 euros) tiveram aumentos de 2,6%. As pensões intermédias (entre 1.045 euros e 3.135 euros) uma subida regular de 2,1% e as pensões mais altas (acima de 3.135 euros) uma atualização de 1,85%. (acima dos 12 indexantes dos apoios sociais, continuaram congeladas).
No entanto, esses não foram os únicos aumentos a que os pensionistas tiveram direito no arranque de 2025. O PS propôs e o Parlamento aprovou (contra a vontade do Governo e do PSD, que preferiam dar um novo suplemento aos reformados, em vez desta subida extra permanente) que as reformas até três vezes o Indexante dos Apoios Sociais (IAS) tivessem um reforço extraordinário de 1,25 pontos percentuais.
Em consequência disto, as pensões mais baixas subiram 3,9% e as pensões acima de 1.045 euros, mas abaixo de 1.567 euros, subiram 3,35%. Às demais reformas, aplicaram-se apenas os referidos aumentos regulares decorrentes da inflação e do crescimento económico.
Importa notar que o PSD e o CDS-PP viram aprovada uma proposta, no âmbito do Orçamento do Estado para 2025, que abria a porta a que os pensionistas tivessem mesmo direito também a um suplemento extraordinário (além dos aumentos regulares e da subida extraordinária do PS), caso as contas públicas o permitissem.
Porém, o fim antecipado da legislatura colocou essa medida em suspenso. A AD já prometeu que, caso vença, poderá atribuir um novo suplemento aos pensionistas, novamente na condição de as contas do país o permitirem.
Ainda antes destes aumentos em janeiro, os pensionistas já tinham recebido um suplemento extraordinário, que foi, como refere Pedro Nuno Santos, anunciado na Festa do Pontal. Logo nesse dia foi noticiado que o Governo tencionava atribuir um suplemento extra de 100 a 200 euros às reformas mais baixas.
“Disse que, se tivéssemos condições financeiras, iríamos ajudar mais os pensionistas e reformados com pensões mais baixas. Vamos atribuir e pagar no próximo mês de outubro um suplemento extraordinário aos pensionistas que têm mais baixas pensões”, assinalou Montenegro na rentrée do partido. Indicou que a sua vontade até seria dar um aumento permanente aos pensionistas (em vez de um suplemento), mas justificou a decisão com as condições financeiras do país.
“No próximo ano, se tivermos uma situação financeira igual ou melhor, tomaremos de acordo com essa disponibilidade”, garantiu. Pago no mês da apresentação do Orçamento do Estado para 2025, que acabou por ser viabilizado pelo PS após uma longa negociação, o apoio abrangeu 2,4 milhões de beneficiários (incluindo cerca de 280 mil pensionistas da Caixa Geral de Aposentações) e custou 422 milhões de euros aos cofres públicos.
No que toca ao IRS, no período para a entrega da declaração, que arrancou a 1 de abril e que se prolonga até 30 de junho, é verdade que muitas famílias estão a ser surpreendidas com um reembolso menor e outras até vão ter de pagar imposto pela primeira vez. Mas isto não significa um agravamento fiscal. Pelo contrário, no ano passado, o IRS desceu por duas vezes, via Orçamento do Estado para 2024 (OE2024) e, depois, na sequência de uma proposta do PS aprovada pelo Parlamento.
O Fisco está a devolver menos dinheiro, não porque a tributação aumentou, mas porque os contribuintes descontaram ou adiantaram um montante inferior do imposto ao Estado, na sequência de duas descidas das tabelas de retenção na fonte, em janeiro e em setembro do ano passado. E, no acerto de contas, verificou-se uma efetiva aproximação entre a retenção mensal e o imposto final, o que dá origem a um reembolso bastante menor.
Conclusão: parcialmente correto.
Norte-Sul
A AD começou a terça-feira num contacto com a população em Sintra, de onde Luís Montenegro seguiu para o almoço com os ex-líderes do PSD, fechando o dia com o jantar do 51º aniversário do partido, em Lisboa.
O PS passou por Leiria, Marinha Grande e Entroncamento, encerrando o périplo em Santarém, num jantar comício.
Por sua vez, durante a manhã, a IL visitou a Feira Semanal de Viseu e, de tarde, uma unidade de produção têxtil em Mangualde, enquanto o Chega passou por dois mercados no Grande Porto: o de Matosinhos e o do Bolhão.
Depois de ter acompanhado de madrugada trabalhadoras domésticas no percurso da Amadora a Lisboa, Mariana Mortágua (BE) visitou o Bairro do Zambujal.
E Paulo Raimundo (CDU) dividiu-se entre Sesimbra, Covilhã e Lamego, onde fecha o dia com um jantar/comício. Finalmente, Inês de Sousa Real (PAN) começou na Maia e no Porto com visitas a associações de proteção animal e acabou o dia com uma reunião com a Associação Académica de Lisboa.
Já na quarta-feira, Luís Montenegro ‘acorda’ no Mercado do Livramento (Setúbal), almoça na União Mutualista Nossa Senhora da Conceição (Montijo) e termina o dia em Évora.
Mais a sul andará Pedro Nuno Santos da parte da manhã – visita o mercado semanal de Quarteira, almoça em Olhão e visita uma IPSS em Faro – subindo depois para comícios em Évora e Portalegre.
O PAN vai andar entre Montijo e Lisboa e o Bloco entre Alpiarça, acompanhando a greve na Sumol+Compal, e ações em Leiria.
Os restantes partidos com representação parlamentar andarão a Norte. Rui Rocha (IL) no seu círculo eleitoral, prevendo terminar em convívio com jovens estudantes de Braga. É também na cidade dos Arcebispos que Rui Tavares termina o dia, depois de visitar o Hospital de Gaia e a feira dos Carvalhos, no mesmo concelho.
O comunista Paulo Raimundo vai contactar com a população em Matosinhos, tem agendada uma sessão pública em Gondomar e comícios em Gaia e Espinho.
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