ECO da Campanha. A espinha na garganta de Montenegro e os “mexericos” sobre o namoro entre a AD e IL

A empresa familiar Spinumviva voltou a entrar na campanha com o líder da AD a criticar a comunicação social. Para o PS, o casamento da AD com IL é "uma mistura explosiva de radicalismo".

Luís Montenegro, presidente do PSD, de visita à feira de Espinho

Luís Montenegro arrancou a segunda semana de campanha a jogar em casa, na feira de Espinho, mas nem por isso se livrou da “espinha” cravada na garganta que provocou a moção de confiança chumbada, a dissolução da Assembleia da República e a convocação das eleições legislativas antecipadas de 18 de maio. A empresa da família, Spinumviva, nome inspirado na sua terra natal, voltou a entrar na campanha, com o líder do PSD a irritar-se com a comunicação social.

À pergunta sobre se estava arrependido por não se ter desvinculado mais cedo da Spinumviva, Montenegro foi particularmente cáustico. “O senhor não tem mais nenhuma pergunta para me fazer? A RTP está empenhadíssima…”, começou por atirar o líder social-democrata.

Assim que foi corrigido, uma vez que foi a SIC e não a RTP a colocar a questão, o líder do PSD ainda insistiu. “O microfone da RTP é que tem sido insistente… Não sei, querem continuar a fazer as mesmas perguntas há dois e três meses?”, desafiou o social-democrata, sublinhando que “sobre isso” está “muito tranquilo”. No final, considerou que se tratam de “manobras de diversão” que só servem para “distrair os portugueses”.

“Luís Montenegro não se importa que a Spinumviva possa ser tomada por um veículo de influência, que seja um potencial veículo de influência, que os clientes da Spinumviva lá ponham dinheiro sabendo que o primeiro-ministro saberá necessariamente, uma vez que a empresa está na esfera familiar, quem lá põe dinheiro”, atirou Rui Tavares, porta-voz do Livre. “Isto é do menos saudável possível para a política portuguesa”, acrescentou.

Pedro Nuno Santos, secretário-geral do PS, na feira de EspinhoLusa

O líder do PS, Pedro Nuno Santo, também escolheu a feira de Espinho, para o início da campanha desta segunda-feira. Tal como Montenegro é cabeça de lista pelo distrito de Aveiro. Um duelo de titãs em pleno coração da crise política e morada da empresa da família de o líder social-democrata, que a conta-gotas foi revelando os seus clientes.

Vários partidos escolheram a mesma localidade para se fazerem à estrada, incluindo Pedro Frazão, cabeça de lista por Aveiro do Chega. Houve momentos de tensão, o que levou a PSP a intervir e identificar um elemento da JS e o deputado do partido de André Ventura, depois de uma troca de palavras.

Foram ainda lançados os “piropos de campanha eleitoral” para os pensionistas. “Os pensionistas confiam na palavra deste primeiro-ministro, porque sabem que já não é um piropo de campanha eleitoral, num país que tem tranquilidade financeira, e que está habilitado a encarar e superar uma crise que se vai sentindo na Europa e no mundo. Não estamos aqui para lamentar, mas para superar os obstáculos que temos pela frente”, defendeu Luís Montenegro.

As contas públicas também se infiltraram na campanha, depois do ainda ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, ter garantido que espera um crescimento económico de 2,4% do PIB este ano, apesar da contração de 0,5% no primeiro trimestre.

“O ministro das Finanças não tem credibilidade nenhuma. Não há nenhum economista que tenha coragem de dizer que o programa da AD é um programa sério. Qualquer pessoa percebe que a meta prevista já não é possível”, criticou Pedro Nuno Santos.

Tema quente

Valsa entre AD e IL são “mexericos políticos” ou “mistura explosiva”

O secretário-geral socialista fez mira a um eventual acordo pós-eleitoral entre a AD e a IL. Pedro Nuno Santos acusou a coligação de direita de estar “completamente de cabeça perdida”. E dramatizou: “O PSD com a IL é uma mistura explosiva do ponto de vista do radicalismo e do ataque ao Estado Social”.

“Sabemos agora que a AD já tinha tentado antes [da campanha] juntar-se à IL. A AD sozinha já faz estragos. Temos bem a memória do que fizeram quando tivemos uma crise económica e financeira a seguir a 2010: atacaram os trabalhadores e os pensionistas. E o 12º ministro desse Governo era Luís Montenegro [era então líder parlamentar do PSD], que defendeu sempre aquelas políticas. As pessoas não esqueceram”, acrescentou o líder do PS.

Mas Montenegro recusou “distrair os portugueses com mexericos políticos”, em resposta ao pré-acordo proposto à IL, e voltou a apelar aos eleitores para lhe darem “condições de governabilidade e estabilidade para continuar o trabalho” como primeiro-ministro.

Rui Rocha, presidente da IL, em Olhão

Do lado da IL, Rui Rocha disse apenas que “não ficou nada combinado” sobre eventuais acordos eleitorais com a AD e atirou: “Não existimos para passar certificados de bom comportamento à AD, existimos para modificar o comportamento da AD”. Nesta valsa entre AD e IL, Rui Rocha acabou por reconhecer o pedido de namoro e afastou os “mexericos”.

“O que eu afirmei é que antes desta campanha houve tentativa por parte da AD de integrar a IL noutra plataforma. Não desmentiu. Sobre os mexericos, não se trata disso: trata-se de ser transparente e enquadrar os portugueses no contexto de declarações feitas por responsáveis da AD”, revelou.

Face às críticas de Pedro Nuno Santo, o líder dos liberais contra-atacou. “Explosivo é ter estado em negociações, na geringonça, com BE e PCP”, sendo que no caso do BE “integrava nessa altura membros das FP-25”, acusou. “Isso é que é explosivo e radical”, completou. De lembrar que, em 2017 e 2021, foram noticiadas candidaturas de antigos membros das FP-25 (condenados e depois amnistiados) em listas do Bloco.

A figura

Duarte Cordeiro reaparece para apoiar PS e conquistar votos ao Chega

Pedro Nuno Santos, líder do PS, e Duarte Cordeiro, antigo ministro do Ambiente, num almoço na Figueira da Foz

O antigo ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, e amigo de longa data de Pedro Nuno Santos que, nas eleições do no passado, rejeitou ser candidato a deputado por causa da Operação Influencer, reapareceu na campanha socialista desta segunda-feira para acenar com o inferno de um eventualmente entendimento entre AD e IL e roubar votos Chega.

“Há uma total ausência de visão de Luís Montenegro, este é um Governo que pensa a curto prazo”, pedindo clarificação à AD e IL, afirmou num almoço na Figueira da Foz. O socialista desafiou Montenegro a ser “transparente com os portugueses e dizer até onde vai na negociação com a IL”. Cordeiro disse mesmo que isso “é fundamental para os pensionistas e o eleitorado do centro”, que “tem de saber o que a AD está disponível para negociar com a IL”.

“É que eu não sei e duvido que vocês saibam”, atirou. Para Duarte Cordeiro, o atual Governo “nunca foi posto à prova”, por isso diz “temer o momento em que isso possa acontecer, tendo em conta que não se arrependem do seu passado e não reviram a doutrina”.

Duarte Cordeiro juntou-se, assim, à tentativa socialista de reavivar a memória da troika, considerando que o PSD “nunca se distanciou das políticas da altura, dos cortes nas pensões ou da expressão ‘ir para além da troika”. E isso pode acontecer novamente quando o mundo atravessa “um momento que não é fácil”, com a “ameaça a leste e a ameaça comercial com a nova administração Trump”, completou.

Neste ponto do discurso atirou-se ainda ao Chega, para dizer que as suas posições em relação à administração americana “são uma traição à pátria e à Europa”.

A frase

"Não ficou nada combinado. Não existimos para passar certificados de bom comportamento à AD, existimos para modificar o comportamento da AD.”

Rui Rocha

Presidente da IL

A surpresa

CDU condena invasão russa da Ucrânia depois do aparecimento de Jerónimo de Sousa

Paulo Raimundo, líder da CDU, com o ex-secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa

Depois de a CDU ter ameaçado acionar “todos os meios legais” contra a RTP pelo facto do secretário-geral do PCP ter sido confrontado com a posição do partido relativamente à invasão russa da Ucrânia, durante uma entrevista dirigida por José Rodrigues dos Santos, sem dar uma resposta concreta, Paulo Raimundo clarificou agora que o “partido condena” a ação de Putin.

Numa visita a uma exposição de serigrafia, na escola secundária António Arroio, em Lisboa, o líder dos comunistas foi confrontado por um homem, que gritava a exigir ao secretário-geral que condenasse a invasão russa da Ucrânia.

Raimundo desvalorizou – e ainda procurou o homem para falar com ele no final da ação, apesar de não o encontrar – mas questionado pelos jornalistas sobre se a guerra na Ucrânia era um tema que ainda o perseguia, respondeu assim: “O senhor perguntou se eu condenava, e sim condeno. A resposta é assim tão simples. Nem percebo o alvoroço”.

No domingo, o PCP contou com o apoio do ex-secretário geral do PCP, Jerónimo de Sousa, que considerou a a liderança de Raimundo uma “surpresa extraordinária”.

Prova dos 9

"Temos mais de 1,5 milhões de pensionistas a ganhar menos de 522 euros e o primeiro-ministro fala do Complemento Solidário para Idosos (CSI) que só chega a 200 mil pensionistas. Não sabe o país que está a governar.”

Pedro Nuno Santos

Secretário-geral do PS

O secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, afirmou esta segunda-feira que Portugal tem “mais de 1,5 milhões de pensionistas a ganhar menos de 522 euros”. Para além disso, “o primeiro-ministro fala do Complemento Solidário para Idosos (CSI) que só chega a 200 mil pensionistas”. É mesmo assim?

Os últimos dados disponíveis pela Segurança Social, relativamente a 2023, mostram que 66% dos pensionistas de velhice e invalidez do regime geral recebem menos de 480,43 euros, o equivalente ao Indexante de Apoios Sociais (IAS) daquele ano.

Tendo em conta que há 2.209.768 pensões, isto significa que 1.458.446,88 pensões têm direito a um cheque inferior a 480,43 euros. Ou seja, cerca de 1,5 milhões de pensões e não pensionistas – uma vez que um reformado pode receber mais do que uma prestação – auferem menos de 480 euros mensais.

Relativamente ao Complemento Solidário para Idosos (CSI), as últimas estatísticas do Gabinete de Estratégia e Planeamento do Ministro do Trabalho indicam que, em março, existiam 216.002 beneficiários. Face ao mês anterior, registaram‐se mais 4.065 contribuintes a receber esta prestação, o que corresponde a um crescimento de 1,9%”, indica o mesmo relatório.

Conclusão: Tendencialmente correto

Norte-Sul

Luís Montenegro arrancou a segunda semana da campanha na feira de Espinho, sua terra natal, como o seu opositor Pedro Nuno Santos. Também Inês de Sousa Real começou a manhã na mesma localidade em contacto com os feirantes.

O presidente do PSD seguiu depois para Chaves e terminou com um comício em Vila Real, enquanto o secretário-geral do PS colocou o GPS para sul. Almoçou na Fogueira da Foz e fechou o dia com um comício em Coimbra.

André Ventura andou pelo Algarve. O líder do Chega começou de manhã cedo com uma arruada em Portimão. Repetiu a mesma ação mais ao final da tarde na praia da Rocha e terminou com um convívio noturno num bar em Faro. A disputar o mesmo eleitorado, coordenadora do BE, Mariana Mortágua, também marcou presença em terras algarvias, mais concretamente em Loulé mas depois partiu para Lisboa.

Rui Rocha, da IL, começou a campanha na capital e terminou com um comício em Leiria. Paulo Raimundo, da CDU, passou por Lisboa e Almada e acabou com um comício em Alpiarça, Santarém. Rui Tavares, do Livre, também escolheu a região de Lisboa, primeiro esteve na capital e depois rumou a Paio Pires, no Seixal. E Inês de Sousa Real, do PAN, fechou o dia em Coimbra.

Esta terça-feira, a caravana de Montenegro arranca em Benavente, passa por Torres Novas e termina com um jantar-comício nas Caldas da Rainha.

Pedro Nuno Santos vai estar todo o dia na zona de Lisboa. O líder do PS começa na Ajuda, almoça em Queluz passa pela Venteira e termina com um comício na Aula Magna. A capital também é o local escolhido pela caravana de Inês de Sousa Real.

Pelo segundo dia consecutivo, o presidente do Chega vai estar no Algarve. Desta vez, vai estar em Tavira, primeiro com uma arruada e termina o dia com um jantar na mesma localidade. Já Rui Rocha, líder da IL, vai estar em campanha em Setúbal.

À esquerda, Mariana Mortágua, do BE, arranca em Setúbal, passa por Lisboa e parte à noite para Braga. Paulo Raimundo, da CDU, vai estar em Lisboa e Sintra e termina com um comício em Coimbra. E o Livre acorda em Santarém e vai dormir a Constância, no distrito de Aveiro.

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