“A Europa perdeu tempo” na guerra comercial, critica Marcelo
Ao lado do Presidente italiano e do Rei espanhol, Marcelo falou de uma Europa com um problema “político” que precisa de reconstruir a base de apoio interno "Estado-membro a Estado-membro”.
O Presidente da República considerou esta quarta-feira que “não pode haver instituições fortes na União Europeia com sistemas nacionais fracos”, apontando que o “problema da Europa não é económico ou tecnocrático, é político”. Marcelo Rebelo de Sousa defendeu, durante uma intervenção na XVIII Cimeira da COTEC Europa, que o atual cenário de guerra comercial mostra como “a Europa perdeu tempo”.
“Ao perder tempo, perdeu iniciativa e atrasou o futuro. Perdeu tempo para agir, antecipar e construir o futuro, quando estamos agora perante um tempo mais acelerado”, completou. “Os sistemas estão obsoletos, porque a base de apoio do projeto europeu tem vindo a enfraquecer. A Europa tem os valores certos, não tem é os instrumentos para, politicamente, aplicar com eficácia, agora e no futuro, os valores certos“, sublinhou.
Como “a base de apoio – que nas democracias é sempre dos moderados – enfraqueceu”, enquanto “a base dos radicalismos aumentou – por si, com as crises, com a perda de tempo, com a falta de eficácia, e pela pressão externa daqueles que beneficiam com a fraqueza da Europa –”, o chefe de Estado português defende que a solução é reconstruir a base de apoio interno “Estado-membro a Estado-membro, antes que se tornem grupos de Estados-membros”.
Outro problema que identifica é ao nível da liderança, quer europeia, quer nos Estados-membros: “Há um novo estilo de liderança, que é de utilização de meios mais rápidos, mais diretos e que ultrapassam ou criam problemas ao funcionamento normal das instituições representativas. E os sistemas nacionais e o sistema europeu não estão preparados para isso”.
Rei de Espanha defende conhecimento como “garantia de progresso”
Também presente no evento da COTEC, o Rei Filipe VI de Espanha destacou a necessidade de conhecimento. “Não só para desenvolver tecnologia, novas formas de nos organizarmos e outras formas de inovação, mas também, e sobretudo, para proteger tudo o que alcançámos juntos nas últimas décadas: uma paz duradoura, uma economia aberta e diversificada, um espaço de democracia e liberdades e uma parceria forte para enfrentar os grandes desafios económicos, sociais e ambientais”, detalhou o monarca.
Segundo o rei espanhol, o conhecimento é também um “princípio-chave da nova ordem geoestratégica”, sendo “a melhor garantia de progresso”, como também “um fator decisivo de defesa e segurança“.
Já o Presidente italiano, Sergio Mattarella, sublinhou a importância dos relatórios elaborados pelos seus compatriotas Mario Draghi e Enrico Letta sobre o futuro do mercado interno europeu, destacando uma das suas medidas, designadamente a criação de uma Defesa Comum Europeia, para exemplificar “as consequências da inação e da relutância injustificada em avançar na via da integração”.
“Os Estados-membros debatem-na há mais de setenta anos. Desde que o Tratado que institui a Comunidade Europeia de Defesa foi assinado em Paris, em maio de 1952. Esta foi relançada, sob formas diferentes e menos ambiciosas, entre 1998 e 2000”, lembrou.
Se, na altura, a UE tivesse optado por “dar esse salto político no processo de integração”, “não é difícil imaginar qual seria a situação da União hoje, face à mudança do contexto geopolítico”, acrescentou, apelando para que o bloco comunitário sinta a “urgência” perante o “atraso” em relação aos acontecimentos.
Sergio Mattarella frisou ainda a “capacidade de adaptação” da UE, que “foi sempre a [sua] força motriz”. “Seria míope olhar para a União como uma construção nascida “no vácuo”: pelo contrário, desde a sua criação, os Estados-membros têm prestado atenção à adaptação da União a um ambiente político e económico em constante mudança, com o objetivo de preservar um espaço e um papel entre as forças concorrentes na economia global”, concluiu.
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