O que se sabe das negociações de paz entre Kiev e Moscovo

  • Lusa
  • 15:15

A horas de uma possível ronda de negociações entre Kiev e Moscovo, a União Europeu decidiu dar "luz verde" ao 17º pacote de sanções à Rússia.

Mais de três anos após o início da invasão russa da Ucrânia, Kiev e Moscovo relançam esta semana conversações de paz diretas na Turquia, as primeiras desde a primavera de 2022.

O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, desafiou o homólogo russo, Vladimir Putin, a estar presente para negociar cara a cara, mas o chefe do Kremlin manteve-se em silêncio sobre a sua presença e mesmo sobre a composição da delegação russa.

Saiba em que ponto estão as negociações, ainda envoltas em incerteza a menos de 24 horas de um previsível início.

Quem estará presente?

Volodymyr Zelensky já disse que estará em Ancara para se encontrar com o seu homólogo turco, Recep Tayyip Erdogan. O seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Andriï Sybiga, anunciou também na terça-feira que se deslocaria a Antalya, no sudoeste da Turquia, onde se realiza simultaneamente uma reunião dos líderes das diplomacias da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO).

Zelensky instou o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a participar nas conversações, afirmando que isso “daria um impulso adicional” à visita de Putin. Esta quarta, Trump mencionou a “possibilidade” de se deslocar à Turquia se o Presidente russo participasse nas conversações. “Não sei se ele [Putin] vai. Sei que ele gostaria que eu estivesse lá. É uma possibilidade”, disse o presidente dos EUA já a bordo do avião após deixar a Arábia Saudita e antes de chegar ao Qatar.

“A nossa agenda para amanhã [quinta-feira] está cheia”, acrescentou, referindo-se à visita oficial a Doha, que será seguida por uma viagem a Abu Dhabi, “mas isso não significa que não farei isso para salvar muitas vidas antes de retornar” ao Golfo. Nesta fase, é o chefe da diplomacia norte-americana, Marco Rubio, que é esperado sexta-feira em Istambul, segundo um alto funcionário do Departamento de Estado, deixando por esclarecer a data exata em que as conversações terão lugar.

Quanto a Putin, a sua presença continua a ser um mistério. Não respondeu aos pedidos do homólogo ucraniano para participar nas conversações. Mas a Rússia estará “presente”, de acordo com o Kremlin, que, hoje, se recusou a anunciar a identidade dos seus representantes.

Qual a posição das partes?

Kiev, os seus aliados europeus e Washington querem um cessar-fogo total e incondicional de 30 dias antes de qualquer negociação. No sábado, Putin “não excluiu” a possibilidade de uma trégua ser discutida nas conversações, mas sublinhou que essas discussões deveriam centrar-se nas “causas profundas do conflito”.

Antes disso, Moscovo tinha-se mostrado relutante em aceitar um cessar-fogo prolongado, por considerar que permitiria a Kiev fortalecer-se, recebendo armas ocidentais, enquanto o exército russo tem a vantagem na linha da frente. Desde o início da invasão, o Kremlin tem mantido as suas exigências maximalistas: a “desmilitarização” da Ucrânia, o que equivaleria à sua rendição, e a sua renúncia a aderir à NATO.

A Rússia reivindica também a anexação de quatro regiões do sul e do leste da Ucrânia que controla parcialmente, bem como a península da Crimeia, anexada em 2014. Estas exigências são inaceitáveis para Kiev, que há meses que pede “garantias de segurança” sólidas, através da adesão à NATO ou do envio de um contingente militar internacional, para dissuadir Moscovo de uma nova invasão.

O que se pode esperar?

Yuri Ushakov, conselheiro diplomático de Putin, disse que esperava conversações na Turquia na manhã de quinta-feira, nas quais estariam em agenda questões “políticas” e “técnicas”. Os aliados europeus de Kiev ameaçaram a Rússia com “sanções maciças” se Moscovo não concordar com uma trégua prolongada nos próximos dias, e Zelensky apelou às sanções “mais fortes” de sempre contra o Kremlin se Putin se recusar a encontrar-se com ele.

Esta quarta-feira, a UE aprovou o 17.º pacote de sanções contra a Rússia, visando os petroleiros da sua “frota fantasma” que lhe permitem contornar as restrições. Além dos esforços para encontrar uma solução diplomática, a Rússia, que se gaba da resiliência da sua economia face às sanções, tem afirmado repetidamente que tenciona prosseguir os “objetivos” da sua invasão da Ucrânia.

Porquê a Turquia?

Enquanto membro da NATO, a Turquia mantém uma ligação importante com o Ocidente, mas procura também um equilíbrio com a Rússia, nomeadamente nos domínios da energia e da segurança. O país partilha vários projetos de gás com Moscovo, como os gasodutos Blue Stream e Turkstream.

No entanto, o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, defendeu em várias ocasiões a integridade territorial da Ucrânia. Em março de 2022, a Turquia organizou conversações diretas entre russos e ucranianos, mas sem sucesso, seguidas de conversações mediadas pela ONU sobre a questão das exportações de cereais ucranianos para o Mar Negro.

No domingo, Erdogan declarou que tinha sido alcançado um “ponto de viragem histórico” nos esforços para travar a guerra.

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